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Fuvest 2025 - 1ª fase


Questão 1 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Cultura e antropologia

Texto 1

“Afinal, depois de ver todas as coisas daquele museu, acabei me perguntando se os brancos já não teriam começado a adquirir também tantas de nossas coisas só porque nós, Yanomami, já estamos começando também a desaparecer. Por que ficam nos pedindo nossos cestos, nossos arcos e nossos adornos de penas, enquanto garimpeiros e fazendeiros invadem nossa terra?”

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. Queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p.429.

 

Texto 2

“Em seu trabalho, Glicéria debruça-se sobre a artesania do manto tupinambá, símbolo das tradições ancestrais de seu povo. A artista chama de cosmo-técnica a feitura do manto, e hoje busca compreender qual era sua função cultural e social em sua comunidade. Recentemente, a artista esteve na Europa e encontrou mantos datados do século XVII, que foram levados do Brasil ao longo da colonização, na Dinamarca. Segundo Glicéria, ‘hoje, as pessoas entendem o manto como arte, arte contemporânea, mas eu vejo muito além. É um ancestral nosso’.”

Instituto Pipa. Ocupação dos artistas premiados do Pipa 2023: Glicéria Tupinambá. Disponível em: https://www.premiopipa.com/2023/10/ (Adaptado).

Glicéria Tupinambá, Assojaba Tupinambá, 2021. Disponível em: https://dasartes.com.br/de-arte-a-z/.

A reflexão de Davi Kopenawa sobre a apropriação de objetos indígenas por museus e a pesquisa de Glicéria Tupinambá sobre o manto tupinambá em contextos europeus permitem explorar diversas dimensões da arte indígena.

 

Com base nos textos e na imagem, assinale a alternativa que relaciona corretamente as reflexões apresentadas à importância da arte e dos artefatos culturais na discussão sobre questões indígenas no Brasil.



a)

A arte indígena, ao ser exposta em museus europeus, perde seu significado original e se transforma apenas em objeto de decoração, desvinculando-se completamente de suas raízes culturais e simbólicas, de acordo com David Kopenawa.

b)

Glicéria Tupinambá, ao retomar elementos tradicionais em suas obras, busca uma representação autêntica que resiste à domesticação cultural imposta pelos colonizadores, valorizando o aspecto utilitário desses objetos.

c)

O trabalho de Glicéria Tupinambá, ao redescobrir os mantos tupinambá na Europa, revela como a arte indígena pode servir como uma ponte para o entendimento e a valorização das culturas indígenas por sociedades que historicamente as marginalizaram.

d)

Para David Kopenawa, a guarda de artefatos indígenas em museus da Europa é uma forma eficaz de preservação e valorização da cultura indígena, pois demonstra reconhecimento da sua importância e esforço, por parte da sociedade, para proteger os direitos territoriais desses povos.

e)

A arte, como mostrado por Glicéria Tupinambá, atua como um meio de resistência cultural, em que elementos tradicionais são recontextualizados para contestar narrativas coloniais e reafirmar identidades indígenas em face de processos de desapropriação e desaparecimento.

Resolução

a) Incorreta. Embora a fala de David Kopenawa possa incluir alguma reflexão sobre os significados da arte indígena, o foco de suas afirmações está na apropriação das terras indígenas por garimpeiros e invasores e o interesse pelos artefatos produzidos pelos povos originários seria quase como um prenúncio de sua extinção.

b) Incorreta. Glicéria Tupinambá não está valorizando aspectos utilitários quando estuda o manto tupinambá, recentemente chegado ao Brasil vindo de um museu da Dinamarca e que agora comporá o acervo do Museu Nacional. Na verdade, ela deixa claro que os significados desse artefato vão muito além de um mero objeto, pois ela o considera como um ancestral de seu povo.

c) Incorreta. Embora seja possível considerar que o estudo do manto tupinambá, tanto por pesquisadores europeus, quanto por brasileiros, uma oportunidade de redescobrir a cultura dos povos originários, justamente por parte de descendentes dos que os oprimiram, o foco de Glicéria Tupinambá é de que os próprios tupinambás podem se redescobrir, uma vez que para ela o manto é um verdadeiro ancestral.

d) Incorreta. David Kopenawa não afirma que a guarda de artefatos oriundos de povos originários seja algo positivo ou que demonstre a valorização da cultura indígena. Na verdade, está preocupado com a apropriação das terras indígenas por garimpeiros e invasores.

e) Correta. Segundo Glicéria Tupinambá, a arte indígena é uma forma de resistência e busca pela ressignificação e contestação das narrativas coloniais hegemônicas, feitas justamente no ambiente atual, onde as culturas indígenas correm risco de desaparecimento e necessitam enfrentar essa situação.

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Recursos Minerais

Analise, na figura a seguir, os dados referentes a áreas de garimpo ilegal localizadas em terras indígenas na Amazônia brasileira e sua distância em relação a corpos d’água.

MapBiomas. 2024. Proximidade de Garimpos, Rios e Lagos na Amazônia (Adaptado).

A partir dos dados apresentados e da realidade socioambiental da Amazônia, é correto afirmar:



a)

Os territórios indígenas encontram-se nas áreas mais desmatadas da Amazônia; como o garimpo ilegal produz forte impacto ambiental pelo intenso uso da água em seus processos, tal atividade colabora com a desertificação do bioma.

b)

O garimpo ilegal representa alto risco a populações humanas e animais em geral, pela contaminação das águas e dos alimentos por substâncias usadas na garimpagem e porque tal atividade ocorre em áreas ainda muito preservadas, aumentando o impacto ambiental.

c)

O garimpo ilegal na Amazônia não produz tanto impacto para os corpos d’água, uma vez que as atividades encontram-se distantes do rio Amazonas e de seus afluentes, os maiores rios da região; seu maior impacto ocorre devido ao desmatamento de extensas áreas de floresta nativa.

d)

A proximidade dos corpos d’água deve-se a questões estratégicas, e não ao garimpo ilegal propriamente, pois este é de baixo impacto; porém, traz conflitos territoriais com as comunidades indígenas, e os rios constituem rotas de fuga rápidas e eficientes para os garimpeiros.

e)

A relação entre garimpos e corpos d’água ocorre de forma indireta, pois o garimpo amazônico não depende da água em seus processos; os garimpeiros buscam esses territórios porque as populações indígenas sabem onde existe ouro e se desenvolvem próximas a rios e lagos.

Resolução

O garimpo amazônico é altamente dependente de corpos hídricos, principalmente porque o ouro é comumente extraído de sedimentos encontrados em rios ou áreas próximas. A água é usada diretamente nos processos de lavagem, separação de minerais e transporte dos sedimentos.

Posto isso, pode-se afirmar que:

a) Incorreta. O processo de desertificação citado não ocorre em consequência do garimpo. Apesar de o garimpo trazer outros impactos ambientais relevantes, como a contaminação de corpos hídricos, a desertificação (diminuição da umidade em um dado ambiente) é um processo com raízes distintas das apresentadas na afirmação e tende a ocorrer em regiões semiáridas, o que não o caso a Amazônia.

b) Correta. O garimpo ilegal em áreas preservadas expõe aqueles ecossistemas à contaminação por substâncias tóxicas. Um exemplo clássico desse cenário é a contaminação por mercúrio, substância usada de forma desregulada no garimpo ilegal para fazer a separação de ouro dos demais sedimentos.

c) Incorreta. O grimpo ilegal está, ao contrário do que afirma a alternativa, ligado ao desmatamento da floresta e também ao processo de contaminação de águas locais que estão interligadas de forma sistêmica nas bacias hidrográficas, cujas águas são coletadas pelo rio principal daquela bacia.

d) Incorreta. O garimpo não é de baixo impacto. Esta atividade é responsável por inserir no ecossistema substâncias como o mercúrio, que levarão ao processo de contaminação das águas superfíciais e subterrâneas e, potencialmente, dos peixes.

e) Incorreta. A relação entre o garimpo e corpos hídricos não é apenas indireta, como a frase sugere, mas extremamente direta e frequentemente prejudicial. O garimpo contamina rios com mercúrio, destrói leitos fluviais e compromete ecossistemas aquáticos, afetando também as comunidades que dependem desses recursos. Além disso, a presença de indígenas próximos aos rios onde há ouro são uma coincidência geográfica. A relaçao indígena com os rios não é a de busca pelo metal precioso.

Questão 3 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

charges e tirinhas Objetos direto e indireto Colocação dos termos nas orações