Jean Galvão. Disponível em https://cartum.folha.uol.com.br/.
Considerando a charge, é correto afirmar:
a) |
Há uma incoerência entre a imagem do segundo quadro e o enunciado verbal do primeiro quadro, uma vez que a posposição do adjunto adverbial “na água” anula qualquer ambiguidade. |
b) |
Ao antecipar o objeto direto “o mercúrio” para o começo da oração, o chargista chama a atenção para esse elemento, estimulando o leitor a buscá-lo visualmente no segundo quadro. |
c) |
Por meio da escolha do verbo “descartar”, mostra-se, de forma crítica, a necessidade da criação de um local correto para o depósito dos rejeitos provenientes do garimpo ilegal. |
d) |
O uso da forma pronominal informal “a gente”, em detrimento do pronome “nós”, empregado em situações mais formais e sérias, atenua o teor crítico, o que colabora para gerar efeito humorístico. |
e) |
O significado negativo do prefixo que aparece na palavra “ilegal” reforça a precariedade do atendimento à saúde nas comunidades indígenas. |
a) Incorreta. Não ocorre incoerência entre a imagem e o enunciado verbal, mas uma relação direta. O adjunto adverbial "na água" mantém, na verdade, uma ambiguidade, a qual é construída justamente em função de o texto não verbal apresentar água nos dois quadros e o texto verbal do primeiro quadro construir uma expectativa de que a água (na qual eles descartariam o mercúrio) seria a água do rio. No último quadro, a imagem do garimpeiro de boné descartando os símbolos de caveiras (mercúrio), na água de uma panela, quebra tal expectativa e constrói a crítica.
b) Correta. A frase está apresentada em ordem inversa, dado que a ordem direta seria "A gente descarta o mercúrio na água" (sujeito - verbo - objeto direto - adjunto adverbial). Ao se inverter a ordem dos termos, o elemento que é apresentado na primeira posição é alçado ao papel de destaque. No contexto da charge, isso é reforçado, pois, no primeiro quadro, é mencionado o descarte do mercúrio, o que não é apresentado. Logo, no segundo quadro, o leitor é estimulado a essa busca e, ao rever o mesmo garimpeiro de boné com a bacia/peneira em mãos fazendo tal descarte, momento em que se percebe a crítica do chargista ao se poder ver o descarte na água de preparo de alimentos dos indígenas.
c) Incorreta. Na tira, a crítica é voltada ao descarte que já é feito de forma ilegal (dado o título) e que prejudica a alimentação dos indígenas. Assim, o propósito do chargista não se volta à discussão da forma de descarte que pudesse ser legal em nenhum dos quadros.
d) Incorreta. O uso de forma pronominal informal "a gente" apenas contribui para assegurar a informalidade e o tom coloquial por se tratar de uma fala, porém ela não atenua o teor crítico e nem é responsável pelo efeito de quebra de expectativa gerador da crítica.
e) Incorreta. Na tira não há quaisquer menções às condições de atendimento à saúde das comunidades indígenas. Além disso, o prefixo de negação i- não se relaciona a esse contexto, mas apenas à prática fora da legalidade de garimpos.