Logo UNIFESP

Unifesp 1º dia


Redação Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Redação

Texto 1

Monumento: 1. obra construída com a finalidade de perpetuar a memória de pessoa ou acontecimento relevante na história de uma comunidade, nação etc. 2. qualquer edificação de grande estatura, cujas dimensões, estética, imponência despertam admiração.

(Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa.)

Texto 2

Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie.

(Walter Benjamin. “Sobre o conceito da História” [1940]. Magia e técnica, arte e política, 1994.)

Texto 3

Foram precisos poucos segundos para que a estátua do traficante de escravos Edward Colston em Bristol, no Reino Unido, fosse laçada por uma corda e derrubada de seu pedestal, em 9 de junho de 2020. Colston foi apenas um dos muitos que tombaram. Estátuas do navegador Cristóvão Colombo, o “descobridor das Américas”, foram desmanteladas de Baltimore a São Francisco, de Boston a Richmond. Em Baltimore, aliás, discute-se rebatizar o Dia de Cristóvão Colombo (12 de outubro) de “Dia dos Povos Indígenas”. Como um dominó, monumentos de colonizadores caíram em Londres, Paris, Bruxelas. Uns foram simbolicamente decapitados; outros, grafitados e banhados em tinta vermelha, para lembrar a violência da escravidão e o genocídio dos povos originários das terras colonizadas. Em Lisboa, a palavra “descoloniza” foi pichada na estátua do padre português Antonio Vieira, da Companhia de Jesus, que catequizou os indígenas no Brasil colonial (1530-1822). Em São Paulo, a estátua do bandeirante Borba Gato balançou a internet, mas não desmoronou: reacendeu discussões sobre o destino desses marcos, símbolos de um passado colonial que continua vivo até hoje.

(Juliana Sayuri e Larissa Linder. “Desejo e reparação: como acertar as contas com o passado?”. https://tab.uol.com.br. Adaptado.)

Texto 4

Monumentos nem sempre são salvaguardas da história. Eles dizem mais respeito à mentalidade do contexto de suas criações, às negociações políticas e do direito à memória, que à missão de substitutos do ofício próprio dos historiadores. Sua natureza estática, contrária ao dinamismo dos processos sociais, pode gerar o efeito contrário, congelando no espaço representações de personagens e eventos que o acúmulo de pesquisas históricas, com o tempo, descreditaram como falsas, impróprias.

Quando toleramos a perpetuação de imagens de colonizadores, escravistas e bandidos em geral em nossas vias, é sinal que esses espaços não são tão públicos assim; é indício forte de que privilegiamos a memória de alguns personagens em detrimento de outros.

(Hélio Menezes. “Monumentos públicos de figuras controversas da história deveriam ser retirados? SIM”. www.folha.uol.com.br, 19.06.2020. Adaptado.)

Texto 5

Erguer monumentos que enaltecem líderes políticos e personagens históricos é uma prática antiga no mundo ocidental. Rememorar é a razão por que tais evocações em metal e pedra foram erguidas. Esquecer pode ser a saída para sua sobrevivência polêmica e incômoda?

Destruir essas imagens ou remover seus fragmentos para museus eliminaria uma presença desafiadora, que pode e deve servir para discutir o perigoso poder das imagens e da mitificação de personagens históricos nas sociedades contemporâneas. A cúpula Genbaku (o único prédio que permaneceu em pé perto do local onde a primeira bomba atômica explodiu), em Hiroshima, os campos de concentração de Auschwitz e o cais carioca do Valongo (o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil) são construções que permanecem como lembrança do que não se pode repetir e do que jamais pode ser esquecido. Esculturas públicas — quase todas homenageando personagens que guardam em sua biografia dubiedades éticas — sugerem um igual desafio. Mantê-las é permitir uma chaga aberta com o poder de provocar a consciência permanentemente.

(Paulo César Garcez Marins. “Monumentos públicos de figuras controversas da história deveriam ser retirados? NÃO”. www.folha.uol.com.br, 19.06.2020. Adaptado.)

 

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

Derrubar monumentos? Os dilemas entre relembrar e apagar o passado



Comentários

A proposta de Redação da UNIFESP 2022, como de costume, propôs a discussão de um tema polêmico: a derrubada de monumentos, movimento revisionista que busca impedir que figuras envolvidas em períodos históricos já reconhecidos como violentos e/ou desrespeitosos aos direitos humanos – como a Ditatura Militar e a Escravidão, por exemplo – permaneçam sendo homenageadas e glorificadas em monumentos. Tal movimento, no entanto, lança luz sobre um dilema: devemos, enquanto sociedade, relembrar ou apagar o passado?

O Texto 1 traz a definição do termo “monumento”, elemento central da discussão. A partir do verbete, o candidato passa a compreender que a construção dos monumentos – seja uma obra de arquitetura ou de escultura – tem a “finalidade de perpetuar a memória de pessoa ou acontecimento relevante na história de uma comunidade, nação etc.”.

O Texto 2 traz um breve pensamento de Walter Benjamin, filósofo, ensaísta, tradutor e crítico literário alemão do século XX que contribuiu com a Escola de Frankfurt. De acordo com o estudioso, os monumentos de cultura são, em sua totalidade, monumentos de barbárie. Isto é, as memórias e acontecimentos perpetuados estão sempre vinculados a acontecimentos históricos bárbaros, comumente vistos como positivos à época. Nesse viés, a transmissão de cultura decorrente de tal processo é problemática.

O Texto 3, veiculado pelo portal UOL Tab e escrito por Juliana Sayuri e Larissa Linder, faz referência a um evento pioneiro na derrubada de estátuas: em 9 de junho de 2020, a estátua do traficante de escravos Edward Colston, em Bristol, no Reino Unido, foi laçada por uma corda e derrubada de seu pedestal, logo após a eclosão de movimentos antirracistas que reivindicavam justiça a George Floyd, afro-americano que morreu asfixiado por um policial branco em Mineápolis (EUA). Após o acontecimento (segundo as autoras, “como um dominó”), outros monumentos de colonizadores caíram em Londres, Paris, Bruxelas. Outros foram simbolicamente depredados, como a estátua do bandeirante Borba Gato – diretamente relacionado à caça e escravidão de índios e negros –, que foi incendiada em São Paulo. Esse acontecimento, como era de se esperar, “reacendeu discussões sobre o destino desses marcos, símbolos de um passado colonial que continua vivo até hoje”, debate que ilustra justamente a “polêmica” exposta pela proposta.

No Texto 4, veiculado pelo jornal Folha de São Paulo, o antropólogo Hélio Menezes desconstrói a noção de que os monumentos são “salvaguardas da história”. De acordo o autor, as representações expostas, embora desejem contar uma certa história, podem “gerar o efeito contrário”, isto é, representar personagens e eventos que já foram, após pesquisas históricas, desacreditadas como falsas, impróprias. Nesse sentido, tolerar a perpetuação de imagens de colonizadores, escravistas e bandidos seria um “indício forte de que privilegiamos a memória de alguns personagens em detrimento de outros”. Ao relacionar tal discussão com a ideia de Walter Benjamin (Texto 2) de que “Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie”, passa a ser plausível “apagar” o passado, uma vez que essa apreciação gera riscos à sociedade.

O Texto 5, que encerra a extensa coletânea, traz ao candidato ideias do historiador Paulo César Garcez Marins. De acordo com o pesquisador, a prática de erguer monumentos que enaltecem líderes políticos e personagens históricos é antiga no mundo oriental, o que caracteriza a ação de rememorar o passado. Ainda em sua concepção, mesmo que tais evocações sejam polêmicas e incômodas, destruir tais imagens (ou mesmo remover seus fragmentos para museus) poderia impedir a valiosa discussão sobre personagens históricos nas sociedades contemporâneas. Exemplos disso são “a cúpula Genbaku (o único prédio que permaneceu em pé perto do local onde a primeira bomba atômica explodiu), em Hiroshima, os campos de concentração de Auschwitz e o cais carioca do Valongo (o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil)”, construções que permanecem como lembrança do que não se pode repetir nem esquecer. Em vista disso, relembrar o passado permite que a sociedade crie consciência permanente da história.

Além de todas as informações da coletânea, o candidato poderia também apropriar-se de seus conhecimentos de mundo para compor sua argumentação a partir de uma tese que discuta claramente a discussão suscitada pela UNIFESP: “Derrubar monumentos? Os dilemas entre relembrar e apagar o passado”.

Questão 1 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pressupostos e Subentendidos charges e tirinhas linguagem verbal e não verbal

Examine o cartum de Farley Katz, publicado no Instagram da revista The New Yorker em 18.06.2018

“This is the barn where we keep our feelings.

If a feeling comes to you,

bring it out here and lock it up.”

Implícito à fala do homem está um elogio



a)

à ingenuidade.

b)

à insensibilidade.

c)

ao isolamento.

d)

à agressividade.

e)

à privacidade.

Resolução

A questão apresenta um cartum, no qual se lê (em livre tradução):
Este é o celeiro onde nós mantemos nossos sentimentos.
Se um surgir em você,
traga-o aqui e o tranque.

Na imagem do cartum, pode-se ver a figura de uma criança e de um homem que segura uma ferramenta, que remete - junto às roupas e ao celeiro - a um cenário rural. Ao fundo, há um celeiro com a porta trancada de modo exagerado, pois há um grande cadeado e o cruzamento de seis sequências de correntes.
Na junção entre texto verbal e não verbal, pode-se inferir que o adulto está ensinando ao jovem que não se deve deixar os sentimentos aflorarem, dado que se faça esse grande esforço por mantê-los trancados.
a) Incorreta. A fala do homem não apresenta um elogio à ingenuidade, pois não há qualquer menção, no cartum como um todo, a essa característica.
b) Correta. No cartum, o homem ensina a criança diante de si a não demonstrar os sentimentos que possam nela surgir, deixando-os trancados para que não sejam vistos ou manifestos. Desse modo, ele indica valorizar aqueles que são insensíveis, ou seja, sua fala constitui um elogio à insensibilidade.
c) Incorreta. A fala do homem não pode ser considerada um elogio ao isolamento, pois não se procura isolar a pessoa, mas os sentimentos que ela possui, de forma a não deixá-los aparentes.
d) Incorreta. A fala do homem não apresenta um elogio à agressividade, pois o fato de se deixar os sentimentos trancafiados não produz, como consequência, que a agressividade apareça. Ao contrário, em determinados contextos, a agressividade também pode ser considerada a manifestação de um sentimento turbulento.
e) Incorreta. A fala do homem não apresenta um elogio à privacidade, pois não se procura ocultar a vida privada (no celeiro), mas os sentimentos.
 

Questão 2 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Machado de Assis Crônica

Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo:

— Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas...

E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona, trazia entre os dedos esta pérola:

“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja encontrar por esposo um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha, com as iniciais M.R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.”

Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais que o comum das mulheres. Ai de quem está só! dizem as sagradas letras, mas não foi a religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só.

E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há de ser instruído, para encher com as coisas do espírito as longas noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla.

Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjoo do mar”. Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjoo. Vês que a travessia ainda é longa — porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e oito anos —, o mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, “a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia.

(Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.)


Para o cronista, a viúva



a)

ainda não se mostra preparada para um novo relacionamento amoroso.

b)

revela, sobretudo, receio de se mostrar uma mulher vulnerável.

c)

revela, sobretudo, receio de passar o restante da vida sozinha.

d)

procura um novo companheiro que a faça perder o medo de amar.

e)

ainda não encontrou, ao longo da vida, um amor verdadeiro.

 

Resolução

a) Incorreta. Segundo o cronista, a viúva não quer amar e teria publicado o anúncio pois estaria “cansada de viver só”. Ao exigir que o futuro esposo fosse um homem “farto da solidão”, ela demonstra não ter mais expectativas em relação ao amor. O fato de estar na “meia idade” evidencia que ela não nutre mais as paixões, metaforizadas pelas flores que “vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno”.

b) Incorreta. Para o autor, a viúva vale “alguma coisa mais que o comum das mulheres”, uma vez que não teve medo de expor que está “cansada de viver só” e, devido a isso, procura por um pretendente que esteja nas mesmas condições. Nesse sentido, a personagem não pode ser considerada uma mulher que tem receio de mostrar sua vulnerabilidade.

c) Correta. Segundo o cronista, a viúva, cansada de viver só, publicou um anúncio com a intenção de encontrar um esposo que também estivesse “farto da solidão”. A associação da viúva ao capitão da guarda de Nero evidencia o quanto essa mulher teme o “enjoo do mar”, metáfora da vida longa e agitada pela qual ela vai ter de passar sem ninguém a seu lado. O “remédio de Sêneca”, isto é, a solidão, não se mostrou eficaz para ajudá-la a enfrentar esse “mal cruel e indefinível”, daí a necessidade de procurar uma companhia para essa fase da vida.

d) Incorreta. Como demonstrado anteriormente, a viúva procura um futuro esposo que possa ser uma companhia para aplacar sua solidão. Na idade em que se encontra, ao amor não está nas perspectivas da personagem.

e) Incorreta. O autor não afirma que a viúva não tenha, ao longo de sua vida, encontrado o amor verdadeiro. Ao considerar que a “meia idade” é uma “zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno”, o cronista permite supor que, no passado, a personagem tenha acalentado sonhos de amor verdadeiro os quais, no entanto, já não existem mais na idade madura.

Questão 3 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Machado de Assis Crônica

Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo:

— Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas...

E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona, trazia entre os dedos esta pérola:

“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja encontrar por esposo um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha, com as iniciais M.R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.”

Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais que o comum das mulheres. Ai de quem está só! dizem as sagradas letras, mas não foi a religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só.

E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há de ser instruído, para encher com as coisas do espírito as longas noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla.

Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjoo do mar”. Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjoo. Vês que a travessia ainda é longa — porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e oito anos —, o mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, “a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia.

(Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.)


No sexto parágrafo, por “náufrago, à espera de uma tábua de salvação” deve-se entender um homem



a)

pobre.

b)

preguiçoso.

c)

religioso.

d)

melancólico.

e)

egoísta.

Resolução

Ao considerar que o futuro companheiro da viúva “não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua”, o cronista faz referência a um detalhe do anúncio o qual explicitava que a mulher “independente de meios” pretendia encontrar um esposo “também com meios de vida”. Dessa forma, a misteriosa mulher excluía eventuais candidatos que, sem uma situação financeira e patrimonial satisfatória, poderiam ver no casamento com uma viúva rica a possibilidade de ascenderem socialmente. Tal interpretação é contemplada pela alternativa A. As demais alternativas não interpretam adequadamente o trecho mencionado pelo enunciado.

Questão 4 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Discurso direto Discurso indireto

Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo:

— Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas...

E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona, trazia entre os dedos esta pérola:

“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja encontrar por esposo um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha, com as iniciais M.R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.”

Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais que o comum das mulheres. Ai de quem está só! dizem as sagradas letras, mas não foi a religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só.

E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há de ser instruído, para encher com as coisas do espírito as longas noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla.

Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjoo do mar”. Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjoo. Vês que a travessia ainda é longa — porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e oito anos —, o mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, “a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia.

(Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.)


“e disse comigo:

— Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas...” (1º e 2º parágrafos)

Nesse trecho, observa-se um diálogo interior do cronista. Se a fala do cronista fosse dirigida a um outro personagem, o termo sublinhado assumiria, na transposição do trecho para o discurso indireto, a forma:



a)

passe.

b)

passasse.

c)

passaria.

d)

passou.

e)

passara.

Resolução

Na conversão do discurso direto para o indireto, conforme solicita o enunciado, deve-se observar a mudança de tempo verbal e de pessoa. Quanto ao primeiro, dado que a forma verbal “passemos” encontra-se no Presente do Subjuntivo, ao executar-se a conversão, para adequada correlação, era necessário o emprego do Pretérito Imperfeito do Subjuntivo. Além disso, como o enunciado solicita que a primeira pessoa seja retirada do verbo, deixando-a apenas vinculada “a um outro personagem”, seria necessário fazer a conversão da primeira pessoa do plural (no original discurso direto) para a terceira pessoa do singular. Desse modo, a forma adequada do verbo “passar”, na terceira pessoa do singular do Pretérito Imperfeito do Subjuntivo é “passasse".

a) Incorreta. A forma “passe” está, dentre outras possibilidades, no Presente do Subjuntivo da primeira pessoa do singular, incluindo ainda, portanto, o enunciador, e não alterando o tempo verbal.
b) Correta. A forma “passasse” executa a alteração da pessoa do discurso, excluindo o narrador e alterando o tempo verbal para Pretérito Imperfeito do Subjuntivo.
c) Incorreta. A forma “passaria” retira corretamente o narrador do discurso, porém executa a mudança para o tempo verbal Futuro do Pretérito do Indicativo.
d) Incorreta. A forma “passou” retira corretamente o narrador do discurso, porém executa a mudança para o tempo verbal Pretérito Perfeito do Indicativo.
e) Incorreta. A forma “passara” retira corretamente o narrador do discurso, porém executa a mudança para o tempo verbal Pretérito Mais-que-Perfeito do Indicativo.
 

Questão 5 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Pronomes pessoais elementos coesivos referenciais

Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo:

— Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas...

E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona, trazia entre os dedos esta pérola:

“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja encontrar por esposo um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha, com as iniciais M.R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.”

Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais que o comum das mulheres. Ai de quem está só! dizem as sagradas letras, mas não foi a religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só.

E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há de ser instruído, para encher com as coisas do espírito as longas noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla.

Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjoo do mar”. Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjoo. Vês que a travessia ainda é longa — porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e oito anos —, o mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, “a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia.

(Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.)


Em “perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia” (7º parágrafo), os termos sublinhados referem-se, respectivamente,



a)

a Sêneca e a Nero.

b)

a Nero e ao capitão da guarda de Nero.

c)

ao capitão da guarda de Nero e a Sêneca.

d)

a Nero e a Sêneca.

e)

a Sêneca e ao capitão da guarda de Nero

Resolução

O período completo no qual se encontra o trecho selecionado pela questão é:

Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjoo do mar”. 

Na oração iniciada pela forma verbal ‘perguntando’, o enunciador está explicando uma pergunta feita por um “certo capitão da guarda de Nero” a “Sêneca”. Dado que o termo Sêneca tenha acabado de aparecer na oração anterior, o pronome ‘lhe’ faz referência a ele, pois o ‘capitão’ dirigiu a pergunta a Sêneca.
Por sua vez, o pronome ‘se’, vinculado à forma verbal ‘curar’, refere-se ao próprio ‘certo capitão de guarda de Nero’, pois ele questiona como "havia de curar a si mesmo" do tédio que sentia, representando-se por meio do pronome "-se".

a) Incorreta. A primeira referência está correta, mas não a segunda.
b) Incorreta. A segunda referência está correta, mas não a primeira.
c) Incorreta. As referências estão invertidas.
d) Incorreta. As referências estão incorretas.
e) Incorreta. O pronome ‘lhe’ refere-se a Sêneca e o pronome “se” refere-se “ao capitão da guarda de Nero”, respectivamente.

Questão 6 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

Prefixal e Sufixal Afixos e vogal temática

Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo:

— Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas...

E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona, trazia entre os dedos esta pérola:

“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja encontrar por esposo um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha, com as iniciais M.R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.”

Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais que o comum das mulheres. Ai de quem está só! dizem as sagradas letras, mas não foi a religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só.

E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há de ser instruído, para encher com as coisas do espírito as longas noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla.

Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjoo do mar”. Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjoo. Vês que a travessia ainda é longa — porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e oito anos —, o mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, “a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia.

(Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.)


O prefixo “in-” que compõe a palavra “indefinível” (7º parágrafo) tem o mesmo sentido do prefixo da palavra:



a)

contramão.

b)

interconectado.

c)

metafísico.

d)

anormal.

e)

transnacional

Resolução

Na palavra indefinível, o prefixo “in-” acrescenta ao adjetivo “definível” o sentido de negação, daquilo que não é o vocábulo originário. Ou seja: é “indefinível” aquilo que não se pode definir.


a) Incorreta. O prefixo “contra-” tem o sentido de contrário, daquilo que se coloca em oposição direta, não de negação.
b) Incorreta. O prefixo “inter-” tem o sentido equivalente a “entre”, à reciprocidade, a relações que ocorrem num equilíbrio entre os dois conceitos provenientes da palavra originária do radical, ou seja, no termo, caracteriza figuras que estão conectadas umas às outras.
c) Incorreta. O prefixo “meta-”, no vocábulo, tem o sentido de “além de”, ou seja, a “metafísica” discute ou apresenta aquilo que está para além do mundo físico, material.
d) Correta. O prefixo “a-”, no vocábulo em questão, acrescenta ao adjetivo “normal” o sentido de negação, daquilo que não é o designado no vocábulo originário, ou seja, é “anormal” aquilo ou aquele que não é normal.
e) Incorreta. O prefixo “trans-”, no vocábulo, tem o sentido de “além de”, “para além de”, ou seja, o que é “transnacional” designa algo que se caracteriza com elementos que estão para além dos limites nacionais.
 

Questão 7 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

prosopopeia antífrase linguagem verbal e não verbal

Examine o meme criado a partir de uma cena famosa do filme O sétimo selo, do cineasta sueco Ingmar Bergman

Para obter seu efeito de humor, o meme explora os recursos expressivos:



a)

eufemismo e antítese.

b)

personificação e ironia.

c)

personificação e antítese.

d)

hipérbole e ambiguidade.

e)

eufemismo e ironia.

Resolução

No meme apresentado na questão, ocorre um diálogo entre dois personagens, um deles, identificado como a morte.
Em tradução livre, as falas ficariam como segue:
- Quem é você?
- Eu sou a Morte.
- Você veio me buscar? (Você está aqui por mim?)
- Não. Vim buscar suas plantas. (Estou aqui por causa de suas plantas)

O efeito de humor presente no meme tem seu efeito principal pautado pela ironia na resposta dada pela Morte ao seu interlocutor. Ela diz ‘não’, justificando, por meio da negativa e de uma justificativa estapafúrdia, que teria vindo em razão das plantas que ele tem dentro de casa. O ilogismo da alegação reforça a evidência de que ela está ali sim para levá-lo. Por sua vez, a presença da morte por si só, personificada numa pessoa, na figura de um ator, caracteriza a prosopopeia, a qual fica reforçada pelo uso da letra maiúscula para o nome “Death” (Morte).
a) Incorreta. Não há suavização da mensagem (eufemismo) nem oposição de elementos (antítese).
b) Correta. A Morte está personificada e responde ao interlocutor de forma irônica.
c) Incorreta. A personificação está presente na Morte, representada como uma figura humana, mas não há antítese, pois não existem elementos em oposição.
d) Incorreta. Não há construções visando ao exagero estilístico (hibérbole) nem termos ou construções com sentido ambíguo que provoquem o humor.
e) Incorreta. Embora haja a ironia na resposta dada pela morte ao interlocutor, não há suavização da mensagem (eufemismo).
 

Questão 8 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos filosóficos Renascimento cultural

Nos três últimos livros publicados na série “Mutações”, procuramos analisar as principais questões postas pelas grandes transformações por que passa o Ocidente a partir das revoluções tecnocientífica, biotecnológica e da informática. Os três livros foram:

• Mutações — Novas configurações do mundo. Este primeiro livro mostra de que maneira a ciência e a técnica estão produzindo transformações sem precedentes na história, em todas as áreas da atividade humana.

• Mutações — A condição humana. No segundo livro, os ensaios respondem à questão: o que é viver neste novo mundo?

• Mutações — A experiência do pensamento. Este terceiro livro procurou analisar um problema muito específico dessa mutação: posto que ela se origina da revolução tecno-científica e praticamente sem a ação dos pressupostos das ciências humanas, tendemos a dizer que ela é feita no vazio do pensamento. Ou melhor, vivemos uma realidade tão inteiramente nova que nem mesmo os velhos conceitos conseguem explicar o que acontece. Como escreveu, portanto, Montaigne: quando a razão falha, voltemos à experiência. O que há de peculiar na mutação hoje é que ela não recorre às “duas maiores invenções da humanidade, o passado e o futuro”. Tomemos como exemplo outra prodigiosa mutação que foi o Renascimento: ela apontava ao mesmo tempo para o futuro e para o passado, verdadeira paixão pelo novo e paixão pelo antigo. Seus eruditos, escreve o filósofo Alexandre Koyré, “exumaram todos os textos esquecidos em velhas bibliotecas monásticas: leram tudo, estudaram tudo, tudo editaram. Fizeram renascer todas as doutrinas esquecidas dos velhos filósofos da Grécia e do Oriente: Platão, Plotino, o estoicismo, o epicurismo e pitagorismo, o hermetismo e a cabala. Seus sábios tentaram fundar uma nova ciência, uma nova física, uma nova astronomia; ampliação sem precedente da imagem histórica, geográfica, científica do homem e do mundo. Efervescência confusa e fecunda de ideias novas e ideias renovadas. Renascimento de um mundo esquecido e nascimento de um mundo novo. Mas também: crítica, abalo e, enfim, destruição e morte progressiva das antigas crenças, das antigas concepções, das antigas verdades tradicionais, que davam ao homem a certeza do saber e a segurança da ação”. Nada disso vemos hoje na mutação tecnocientífica, a não ser o elogio dos fatos e dos acontecimentos técnicos e, principalmente, o elogio do presente eterno, sem passado nem futuro.

(https://artepensamento.ims.com.br. Adaptado.)


De acordo com o autor, a atual mutação tecnocientífica,



a)

diferentemente do Renascimento, mostra-se atenta aos fatos produzidos pela técnica.

b)

diferentemente do Renascimento, mostra-se empenhada em destruir antigas crenças.

c)

a exemplo do Renascimento, mostra-se atenta aos fatos produzidos pela técnica.

d)

a exemplo do Renascimento, mostra-se empenhada em resgatar antigas crenças.

e)

a exemplo do Renascimento, mostra-se preocupada com as consequências futuras da ciência.

Resolução

Para responder à questão, é preciso levar em consideração o trecho final do texto: “Nada disso vemos hoje na mutação tecnocientífica, a não ser o elogio dos fatos e dos acontecimentos técnicos e, principalmente, o elogio do presente eterno, sem passado nem futuro”.

a) Incorreta. Assim como o Renascimento, a atual mutação tecnocientífica mostra-se atenta aos fatos produzidos pela técnica.

b) Incorreta. A atual mutação tecnocientífica, embora tenha presente “o elogio dos fatos e dos acontecimentos técnicos e, principalmente, o elogio do presente eterno”, não considera o passado nem o futuro. Nesse sentido, embora tal característica seja diferente do Renascimento (que se preocupa com o passado), não há o desejo de “destruir antigas crenças”.

c) Correta. No trecho em questão, o autor realiza uma generalização seguida de uma ponderação: “Nada disso vemos hoje na mutação tecnocientífica, a não ser o elogio dos fatos e dos acontecimentos técnicos e, principalmente, o elogio do presente eterno”. Em vista disso, mostrar-se atenta aos fatos produzidos pela técnica é uma característica tanto do Renascimento quanto da atual mutação tecnocientífica.

d) Incorreta. Uma vez que o passado não é um ponto de interesse para a atual mutação tecnocientífica, não há empenho no resgate de antigas crenças. Esse empenho ocorre no Renascimento, logo, é incorreto afirmar que há similaridade entre ambos.

e) Incorreta. Uma vez que o futuro não é um ponto de interesse para atual mutação tecnocientífica, não há preocupação com as consequências futuras da ciência. Essa preocupação ocorre no Renascimento, logo, é incorreto afirmar que há similaridade entre ambos.

Questão 9 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos filosóficos Renascimento cultural

Nos três últimos livros publicados na série “Mutações”, procuramos analisar as principais questões postas pelas grandes transformações por que passa o Ocidente a partir das revoluções tecnocientífica, biotecnológica e da informática. Os três livros foram:

• Mutações — Novas configurações do mundo. Este primeiro livro mostra de que maneira a ciência e a técnica estão produzindo transformações sem precedentes na história, em todas as áreas da atividade humana.

• Mutações — A condição humana. No segundo livro, os ensaios respondem à questão: o que é viver neste novo mundo?

• Mutações — A experiência do pensamento. Este terceiro livro procurou analisar um problema muito específico dessa mutação: posto que ela se origina da revolução tecno-científica e praticamente sem a ação dos pressupostos das ciências humanas, tendemos a dizer que ela é feita no vazio do pensamento. Ou melhor, vivemos uma realidade tão inteiramente nova que nem mesmo os velhos conceitos conseguem explicar o que acontece. Como escreveu, portanto, Montaigne: quando a razão falha, voltemos à experiência. O que há de peculiar na mutação hoje é que ela não recorre às “duas maiores invenções da humanidade, o passado e o futuro”. Tomemos como exemplo outra prodigiosa mutação que foi o Renascimento: ela apontava ao mesmo tempo para o futuro e para o passado, verdadeira paixão pelo novo e paixão pelo antigo. Seus eruditos, escreve o filósofo Alexandre Koyré, “exumaram todos os textos esquecidos em velhas bibliotecas monásticas: leram tudo, estudaram tudo, tudo editaram. Fizeram renascer todas as doutrinas esquecidas dos velhos filósofos da Grécia e do Oriente: Platão, Plotino, o estoicismo, o epicurismo e pitagorismo, o hermetismo e a cabala. Seus sábios tentaram fundar uma nova ciência, uma nova física, uma nova astronomia; ampliação sem precedente da imagem histórica, geográfica, científica do homem e do mundo. Efervescência confusa e fecunda de ideias novas e ideias renovadas. Renascimento de um mundo esquecido e nascimento de um mundo novo. Mas também: crítica, abalo e, enfim, destruição e morte progressiva das antigas crenças, das antigas concepções, das antigas verdades tradicionais, que davam ao homem a certeza do saber e a segurança da ação”. Nada disso vemos hoje na mutação tecnocientífica, a não ser o elogio dos fatos e dos acontecimentos técnicos e, principalmente, o elogio do presente eterno, sem passado nem futuro.

(https://artepensamento.ims.com.br. Adaptado.)


Em relação ao Renascimento, o autor ressalta, sobretudo, seu caráter



a)

ambivalente.

b)

conservador.

c)

ingênuo.

d)

dogmático.

e)

visionário.

Resolução

a) Correta. Ao mencionar o Renascimento, o autor ressalta, sobretudo, seu caráter ambivalente, isto é, que apresenta simultaneamente valores antagônicos. Tais valores são o passado e o presente, que coexistiram na concepção do período. Segundo ele, o Renascimento “apontava ao mesmo tempo para o futuro e para o passado, verdadeira paixão pelo novo e paixão pelo antigo”.

b) Incorreta. Ainda que os renascentistas tenham cultuado os eruditos, exumando “textos em velhas bibliotecas monásticas”, tais conhecimentos foram utilizados para fundar uma nova ciência e visão do homem e do mundo, o que se afasta de um suposto conservadorismo. Além disso, de acordo com o autor, o Renascimento gerou a “destruição e morte progressiva das antigas crenças, das antigas concepções, das antigas verdades tradicionais, que davam ao homem a certeza do saber e a segurança da ação”.

c) Incorreta. De acordo com o texto, não há ingenuidade nas ações dos renascentistas, pelo contrário, há astúcia em estudar um “mundo esquecido” para que haja o nascimento de um “mundo novo”.

d) Incorreta. Apesar de o Renascimento defender a “crítica, abalo e, enfim, destruição e morte progressiva das antigas crenças, das antigas concepções, das antigas verdades tradicionais”, não há base textual que comprove uma postura dogmática, isto é, na qual haja imposição de uma verdade absoluta.

e) Incorreta. Embora o Renascimento dê vida a uma “nova ciência”, o autor também faz menção a ideias “renovadas”, que usam o passado como base de atualização. Em vista disso, não é possível sustentar que tal período tenha caráter visionário.

Questão 10 Visualizar questão Compartilhe essa resolução

textos filosóficos Renascimento cultural

Nos três últimos livros publicados na série “Mutações”, procuramos analisar as principais questões postas pelas grandes transformações por que passa o Ocidente a partir das revoluções tecnocientífica, biotecnológica e da informática. Os três livros foram:

• Mutações — Novas configurações do mundo. Este primeiro livro mostra de que maneira a ciência e a técnica estão produzindo transformações sem precedentes na história, em todas as áreas da atividade humana.

• Mutações — A condição humana. No segundo livro, os ensaios respondem à questão: o que é viver neste novo mundo?

• Mutações — A experiência do pensamento. Este terceiro livro procurou analisar um problema muito específico dessa mutação: posto que ela se origina da revolução tecno-científica e praticamente sem a ação dos pressupostos das ciências humanas, tendemos a dizer que ela é feita no vazio do pensamento. Ou melhor, vivemos uma realidade tão inteiramente nova que nem mesmo os velhos conceitos conseguem explicar o que acontece. Como escreveu, portanto, Montaigne: quando a razão falha, voltemos à experiência. O que há de peculiar na mutação hoje é que ela não recorre às “duas maiores invenções da humanidade, o passado e o futuro”. Tomemos como exemplo outra prodigiosa mutação que foi o Renascimento: ela apontava ao mesmo tempo para o futuro e para o passado, verdadeira paixão pelo novo e paixão pelo antigo. Seus eruditos, escreve o filósofo Alexandre Koyré, “exumaram todos os textos esquecidos em velhas bibliotecas monásticas: leram tudo, estudaram tudo, tudo editaram. Fizeram renascer todas as doutrinas esquecidas dos velhos filósofos da Grécia e do Oriente: Platão, Plotino, o estoicismo, o epicurismo e pitagorismo, o hermetismo e a cabala. Seus sábios tentaram fundar uma nova ciência, uma nova física, uma nova astronomia; ampliação sem precedente da imagem histórica, geográfica, científica do homem e do mundo. Efervescência confusa e fecunda de ideias novas e ideias renovadas. Renascimento de um mundo esquecido e nascimento de um mundo novo. Mas também: crítica, abalo e, enfim, destruição e morte progressiva das antigas crenças, das antigas concepções, das antigas verdades tradicionais, que davam ao homem a certeza do saber e a segurança da ação”. Nada disso vemos hoje na mutação tecnocientífica, a não ser o elogio dos fatos e dos acontecimentos técnicos e, principalmente, o elogio do presente eterno, sem passado nem futuro.

(https://artepensamento.ims.com.br. Adaptado.)


Dos seguintes trechos extraídos do texto, aquele cuja formulação pode ser considerada mais objetiva e impessoal é:



a)

“Tomemos como exemplo outra prodigiosa mutação que foi o Renascimento: ela apontava ao mesmo tempo para o futuro e para o passado, verdadeira paixão pelo novo e paixão pelo antigo.” (4ºparágrafo).

b)

“Nos três últimos livros publicados na série ‘Mutações’, procuramos analisar as principais questões postas pelas grandes transformações por que passa o Ocidente a partir das revoluções tecnocientífica, biotecnológica e da informática.” (1ºparágrafo).

c)

“Ou melhor, vivemos uma realidade tão inteiramente nova que nem mesmo os velhos conceitos conseguem explicar o que acontece.” (4º parágrafo)

d)

“Este terceiro livro procurou analisar um problema muito específico dessa mutação: posto que ela se origina da revolução tecnocientífica e praticamente sem a ação dos pressupostos das ciências humanas, tendemos a dizer que ela é feita no vazio do pensamento.” (4º parágrafo).

e)

“Este primeiro livro mostra de que maneira a ciência e a técnica estão produzindo transformações sem precedentes na história, em todas as áreas da atividade humana.” (2º parágrafo).

Resolução

a) Incorreta. A presença da primeira pessoa do plural prejudica a impessoalidade do texto. Além disso, o adjetivo “prodigioso” indica um juízo de valor do autor, que enxerga como positiva a postura dos renascentistas.

b) Incorreta. A presença da primeira pessoa do plural prejudica a impessoalidade do texto.

c) Incorreta. A presença da primeira pessoa do plural prejudica a impessoalidade do texto.

d) Incorreta. A presença da primeira pessoa do plural prejudica a impessoalidade do texto.

e) Correta. No trecho, há a apresentação de informações objetivas sobre o livro (que “mostra de que maneira a ciência e a técnica estão produzindo transformações sem precedentes na história”), sem quaisquer juízos de valor do autor do texto. Além disso, há a presença apenas da 3ª pessoa do discurso.