Unicamp 2022 - 2ª fase - dia 2

a) Os agentes endógenos são aqueles provenientes da dinâmica interna do planeta e, portanto, estão associados a fenômenos como tectonismo - movimento de placas tectônicas - e vulcanismo - ascensão do magma presente no interior da Terra até a superfície. Tais fenômenos vinculam-se, na tabela, aos eventos denominados "Terremoto", que ocorrem em todas as metrópoles listadas, e o "Vulcanismo", evento que representa risco de desastres naturais somente em Quito.

Já os agentes exógenos são causados por elementos e fenômenos existentes na superfície da Terra e, no enunciado, se relacionam a "Seca", "Inundação" e "Escorregamento" sendo que todos eles expressam a ação climática em interação com elementos hidrológicos (rios e lagos) e litológicos/pedológicos (rochas expostas e solos). É importante frisar que Seca e Inundação representam riscos a todas as metrópoles apresentadas, enquanto Escorregamento é uma ameaça apenas a Bogotá, La Paz e Quito devido à maior declividade das formas de relevo encontradas em tais cidades, fator que colabora para deslizamentos e escorregamentos de terra.

b) A denominada América Andina se estende por Venezuela, Colômbia, Bolívia, Peru, Equador e Chile e possui como principal característica física a presença da cordilheira dos Andes na maior parte desses territórios. Do ponto de vista socioeconômico, são países considerados subdesenvolvidos, com economias fortemente baseadas em setores primários da economia (agricultura, pecuária e extrativismo mineral), notadamente na exploração de minérios.

Da mesma forma que outros países da América Latina, a urbanização das metrópoles andinas apresenta como principais características:

- acelerada transferência da população do campo para as cidades a partir da segunda metade do século XX, impulsionada pela mecanização e alta concentração fundiária nas áreas rurais, sendo que esta última impulsionou o processo de êxodo rural;

- ausência de planejamento urbano capaz de lidar com a chegada massiva da população do campo, o que levou ao crescimento desordenado das principais cidades andinas;

- periferização, ou seja, a formação de favelas com moradias precárias, ausência de infraestruturas, como saneamento básico e rede elétrica, e falta serviços urbanos eficientes de educação e saúde;

- segregação socioespacial e consequente exclusão social, processos que levam à expansão do desemprego e da violência no contexto das metrópoles mencionadas.

a) O processo natural de transferência de águas do oceano para o continente tem início com a energia solar que, ao incidir sobre os corpos hídricos, gera aquecimento e ocasiona evaporação. Esse processo atua diretamente no aumento da umidade absoluta do ar (quantidade de moléculas de água presentes na atmosfera) e umidade relativa (percentual de moléculas de água em função ao total máximo de moléculas de água que poderiam ser sustentadas em uma porção da atmosfera).

A dinâmica dos ventos permite o deslocamento da água suspensa na atmosfera dos oceanos em direção ao continente. Ao chegar no continente a água, quando alcança o máximo da umidade relativa, passa a não ter energia de sustentação suficiente e, nesse momento, ocorre a saturação da massa de ar, que leva à precipitação (chuva). Todo este processo é comumente conhecido como ciclo hidrológico superior. As precipitações por sua vez podem ser classificadas, segundo os fatores de ocorrência da seguinte maneira:

1. Chuvas convectivas: cuja saturação e alcance do ponto máximo da umidade relativa se dá pelo excesso de evaporação;
2. Chuvas frontais: são aquelas que ocorrem pela queda brusca de temperatura - acelera a condensação e precipitação - quando acontece a chegada de massas de ar frias em uma localidade;
3. Chuvas orográficas: ocasionadas pela subida das massas úmidas devido à existência de relevos de altitude elevada, fato que diminui a temperatura e leva a uma condensação mais ampla e consequente precipitação.

b) As vegetações, bem como todos os seres vivos capazes de transpiração, também colaboram com o fornecimento de água para a atmosfera. No caso dos biomas, a perda de água para atmosfera ganha o nome de evapotranspiração. Outro impacto direto das vegetações no caminho das águas está no processo de retenção de água nos pontos de precipitação por facilitação da penetração de água junto as raízes e na consequente diminuição do ritmo de escoamento da água superficial que permite maior absorção e penetração no solo.

Ao penetrar no solo - processo denominado infiltração - a água subterrânea irá se concentrar nos lençóis freáticos e nas rochas sedimentares porosas. O trânsito da água se dá a partir dos poros componentes das rochas e constitui o que denominamos ciclo hidrológico inferior. A água verterá dos pontos mais saturados e de maior pressão para os menos saturados na superfície ou até mesmo se transferindo pelos espaços porosos das rochas sedimentares ou solos inconsolidados em subsuperfície alimentando aquíferos e lençóis freáticos.

a) A Terra Indígena Yanomami foi demarcada por lei aprovada pelo Congresso Brasileiro em 1992 e se localiza nos estados do Amazonas e Roraima (há um prolongamento dessas terras em parte do território venezuelano). A sociedade Yanomami é um dos povos tradicionais que existem na Amazônia e, como tal, possuem um modelo de exploração do solo baseado na subsistência e na sustentabilidade e o resultado disso é a reprodução dessa sociedade sem devastação do bioma em que vive.

Caça, pesca, extrativismo vegetal e agricultura em pequena escala são as atividades econômicas usadas na reprodução do grupo e a expansão da fronteira agropecuária e mineradora para terras Yanomamis entra em conflito com estas atividades, pois geram alterações ambientais que prejudicam o desenvolvimento das atividades econômicas desses indígenas como, por exemplo, o desmatamento, que afeta a manutenção da caça e o extrativismo e a poluição dos rios, que afeta a atividade pesqueira.

É o típico conflito entre diferentes visões da natureza, uma para sobrevivência (do grupo indígena) e outra para exploração dos recursos naturais (por parte de agentes econômicos como fazendeiros e garimpeiros).

Fonte: Wikipedia - https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_yanomamis. Acesso em 10/01/2022.

b) A extração de ouro tem contribuído para a invasão de terras Yanomami e, tem se caracterizado pelo uso intensivo de capital, pautada numa mineração pesada e empresarial, com exploração de grandes áreas usando máquinas e produtos químicos contaminantes. A crise econômica mundial de 2008 favoreceu a expansão da produção do ouro,  pois houve aumento do preço desse metal nos mercados internacionais. Além do contexto internacional, deve-se ressaltar que no Brasil houve uma redução da fiscalização por parte do poder público e autoridades vinculadas à questão ambiental, principalmente no que diz respeito à invasão das terras indígenas após 2018, o que favoreceu a expansão da mineração ilegal nessas terras.  

O desmatamento provocado por esta atividade gera um expressivo desequilíbrio ambienta,l pois leva à perda da diversidade biológica além de intensificar os processos de lixiviação, erosão e assoreamento dos rios. Além disso, a atividade mineradora tem alta capacidade de poluir e contaminar os solos e recursos hídricos (superficiais e subterrâneos) por meio da liberação de resíduos líquidos, sólidos ou gasosos. No caso da extração do ouro, há o uso do mercúrio para separar o ouro dos outros sedimentos levando ao despejo dessa substância nos rios e, assim, afetando a vida animal e a saúde da comunidade local.

Primeiramente é preciso apontar um erro importante contido na questão: onde está indicado Mar Morto no mapa é na realidade o Mar Negro. Os mapas abaixo localizam esses mares:

Fonte: www.todamateria.com.br . Acesso em 10/01/2022.

Fonte: www.todamateria.com.br . Acesso em 10/01/2022.

O Mar Morto faz fronteira entre Israel, Cisjordânia (território palestino) e Jordânia e não tem relação geográfica com a Península da Crimeia, região abordada no enunciado da questão.

a) A Península da Crimeia possui uma posição geográfica estratégica, pois representa uma saída importante da Rússia para o Mar Negro, um porto de águas quentes fundamental para o país; e ligações importantes através do Estreito de Kerch que liga o Mar Negro ao Mar de Azov e os estreitos de Bósforo e Dardanelos que ligam o Mar Negro ao Mar Mediterrâneo. Como pode-se perceber, a Crimeia tem uma grande importância comercial, geopolítica e militar para a Rússia. A Rússia anexou a Crimeia em 2014 motivada por vários fatores. Economicamente, a motivação se deu devido aos portos na Crimeia serem fundamentais para o escoamento de produções tanto da Ucrânia, por exemplo grãos e vinhos, quanto da Rússia, com a exploração e circulação de gás natural a partir desse corpo hídrico. Politicamente, a anexação representa uma resistência da Rússia à expansão da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o Leste Europeu com o final da Guerra Fria na década de 1990, o que sempre desagradou o governo russo. Culturalmente, a anexação tem a ver com a presença de russos na região, representando cerca de 60% dos habitantes da Crimeia. Ainda do ponto de vista militar, a Rússia, através de um acordo assinado em 2010, instalou uma base militar em Sebastopol, cidade ao sul da Península da Crimeia, fundamental para a marinha russa. A Ucrânia continua no centro da geopolítica, agora no início de 2022, representando uma instabilidade nas relações entre Rússia e EUA e União Europeia.

b) EUA e União Europeia não reconheceram a anexação, inclusive impondo sanções à Rússia. O governo russo também apoia grupos separatistas no leste da Ucrânia, principalmente nas províncias de Lugansk e Donetsk (leste do país), ameaçando inclusive uma invasão militar. A região está no centro da disputa entre as influências de EUA-UE e da Rússia na região. O governo Putin não admite a possibilidade da Ucrânia participar do bloco europeu ou da OTAN e quer manter o país sob sua influência contra a influência americana e europeia na região.

a) Transição energética envolve um processo de transformação estrutural da sociedade no que diz respeito ao processo de produção e consumo de energia, ou seja, é o período de mudança em que a sociedade está alterando sua matriz energética em direção a um novo modelo. O mundo atualmente discute a construção de uma transição energética pautada na descarbonização da economia.

A descarbonização da economia consiste num modelo sustentado por uma matriz energética caracterizada pela redução das emissões de carbono por meio da diminuição do uso de combustíveis fosseis e sua substituição por fontes alternativas, menos poluentes ou que não emitam esses gases. O objetivo dessa alteração é o combate às alterações climáticas, visto que a menor emissão de tais poluentes significaria a mitigação (redução dos efeitos) do aquecimento global e outros impactos ambientais. Atualmente, os países que mais produzem energia por meio de fontes não-renováveis são a China e os EUA.

b) No Brasil, a região que apresenta maior potencial de produção energia hidroelétrica é a região Norte, pois é nela que se localiza a maior parte da bacia amazônica, bacia hidrográfica de maior potencial energético. A maior produção de energia eólica se dá na região Nordeste, sobretudo em áreas situadas próximas ao litoral.

Fontes renováveis convencionais são aquelas de uso mais tradicional, como por exemplo hidrolétrica. Já as fontes não convencionais são aquelas fontes renováveis alternativas que tiveram sua expansão especialmente após o contexto da 3ª Revolução Industrial (1970), como por exemplo, eólica e solar. As fontes não convencionais costumam ter um custo de geração mais caro do que as tradicionais, todavia no caso das fontes solar e eólica houve nos últimos anos uma grande mudança tecnológica que vem contribuindo para baratear equipamentos e melhorar eficiência, com isso o custo de geração de energia diminuiu permitindo uma expansão do uso dessas fontes.

a) Epidemia é um conceito que se relaciona à ocorrência de vários casos de uma mesma doença em uma localidade, que pode ser desde um município até o território de um país.

Pandemia é um termo empregado para a disseminação mundial de uma doença que se espalha pela maioria dos países, com transmissão devido ao contato humano e/ou circulação de pessoas em escala global.

Sindemia é um termo que foi criado pela junção das palavras "sinergia" e "pandemia" nos anos 1990 pelo antropólogo médico americano Merrill Singer. Ele define que tal realidade consiste na disseminação de um agente patológico (vírus, por exemplo) que se fortalece diante de contextos de saúde frágeis e precários, em que outras doenças ocorrem conjuntamente nos diferentes lugares (sinergia). Dessa forma, a sindemia explica o fato de a Covid-19 ser mais nociva - por vezes, mais letal - em lugares que possuem problemas associados a doenças crônicas ou epidemias em sua população. Sendo assim, condições socioeconômicas  de classes mais pobres e sistemas de saúde precários e ineficientes podem potencializar os efeitos negativos da doença.

b) Neoliberalismo é uma corrente de pensamento e modelo econômico que defende a ideia de Estado-mínimo, ou seja, o Estado atua apenas como regulador das práticas comerciais e trocas financeiras, enquanto os agentes privados detêm o caráter decisório da atuação econômica. Nesse contexto, a crise inerente ao neoliberalismo consiste na sobreposição dos interesses de grandes agentes econômicos da globalização vigente (corporações transnacionais e grupos de investimentos) em relação aos interesses das populações de muitas sociedades, que deveriam ser representadas integralmente pela ação do Estado. O embate entre tais interesses, muitos deles divergentes, expressa crises sociais que acabam se tornando permanentes em muitos lugares e, por isso, a "normalidade" da reprodução do capital por parte das grandes empresas se insere também em contextos de "crises", como expressa o texto do enunciado: "o mundo tem vivido em permanente estado de crise". A normalidade pode ser associada à continuidade e à estabilidade, enquanto a crise é associada a mudanças, geralmente negativas, tais como: aumento do desemprego, redução do nível de produção, redução de indicadores econômicos, como o PIB, ou resultados deficitários em outros indicadores econômicos, como a balança comercial, ou ainda aumento de indicadores negativos, como a inflação.