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Questão 6 Unicamp 2022 - 2ª fase - dia 2

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Questão 6

Disparidades e desigualdades da globalização Processo de desenvolvimento do capitalismo

A atual pandemia não é uma situação de crise claramente contraposta a uma situação de normalidade. Desde a década de 1980 – à medida que o neoliberalismo se foi impondo como a versão dominante do capitalismo e este se foi sujeitando mais e mais à lógica do setor financeiro –, o mundo tem vivido em permanente estado de crise. Uma situação duplamente anômala. Por um lado, a ideia de crise permanente é um oxímoro, e constitui a oportunidade para ser superada e dar origem a um melhor estado de coisas.

(Adaptado de Boaventura de Sousa Santos, A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Almedina, 2020, p. 5.)

Com base no texto e em seus conhecimentos, faça o que se pede a seguir:

a) Diferencie epidemia, pandemia e sindemia, e responda por que a pandemia não atingiu igualmente todas as classes sociais.

b) Defina “neoliberalismo”. Explique por que ele produz uma crise permanente. Com base no conceito de capitalismo, defina normalidade e crise.



Resolução

a) Epidemia é um conceito que se relaciona à ocorrência de vários casos de uma mesma doença em uma localidade, que pode ser desde um município até o território de um país.

Pandemia é um termo empregado para a disseminação mundial de uma doença que se espalha pela maioria dos países, com transmissão devido ao contato humano e/ou circulação de pessoas em escala global.

Sindemia é um termo que foi criado pela junção das palavras "sinergia" e "pandemia" nos anos 1990 pelo antropólogo médico americano Merrill Singer. Ele define que tal realidade consiste na disseminação de um agente patológico (vírus, por exemplo) que se fortalece diante de contextos de saúde frágeis e precários, em que outras doenças ocorrem conjuntamente nos diferentes lugares (sinergia). Dessa forma, a sindemia explica o fato de a Covid-19 ser mais nociva - por vezes, mais letal - em lugares que possuem problemas associados a doenças crônicas ou epidemias em sua população. Sendo assim, condições socioeconômicas  de classes mais pobres e sistemas de saúde precários e ineficientes podem potencializar os efeitos negativos da doença.

b) Neoliberalismo é uma corrente de pensamento e modelo econômico que defende a ideia de Estado-mínimo, ou seja, o Estado atua apenas como regulador das práticas comerciais e trocas financeiras, enquanto os agentes privados detêm o caráter decisório da atuação econômica. Nesse contexto, a crise inerente ao neoliberalismo consiste na sobreposição dos interesses de grandes agentes econômicos da globalização vigente (corporações transnacionais e grupos de investimentos) em relação aos interesses das populações de muitas sociedades, que deveriam ser representadas integralmente pela ação do Estado. O embate entre tais interesses, muitos deles divergentes, expressa crises sociais que acabam se tornando permanentes em muitos lugares e, por isso, a "normalidade" da reprodução do capital por parte das grandes empresas se insere também em contextos de "crises", como expressa o texto do enunciado: "o mundo tem vivido em permanente estado de crise". A normalidade pode ser associada à continuidade e à estabilidade, enquanto a crise é associada a mudanças, geralmente negativas, tais como: aumento do desemprego, redução do nível de produção, redução de indicadores econômicos, como o PIB, ou resultados deficitários em outros indicadores econômicos, como a balança comercial, ou ainda aumento de indicadores negativos, como a inflação.