O ativista negro Steve Biko, um dos críticos do Apartheid, que vigorou oficialmente na África do Sul entre 1948 e 1990, afirmou:
Nós, os negros, temos que prestar muita atenção à nossa história se quisermos tornar-nos conscientes. Temos que reescrever nossa história e mostrar nossa resistência aos invasores brancos. Muita coisa tem que ser revelada e seríamos ingênuos se esperássemos que nossos conquistadores escrevessem uma história imparcial sobre nós. Temos que destruir o mito de que a nossa história começa com a chegada dos holandeses.
(Adaptado de Steve Biko, I write what I like: a selection of his writings. Johannesburg: Picador Africa, 2004, p. 105-106.)
a) Segundo o texto, por que os negros necessitariam reescrever a história da colonização sul-africana?
b) O que foi o regime denominado Apartheid na África do Sul?
a) O texto critica a tradição eurocêntrica, presente na literatura em praticamente todos os países que foram colonizados por europeus, e que conta a história dessas regiões somente a partir de sua chegada, e sempre analisando e julgando aquilo que é local, tendo como premissas a cultura e os valores europeus. Os povos do continente africano, que sofreram duas investidas colonialistas, uma nos séculos XV e XVI e outra no século XIX, não escaparam disso, por isso a preocupação do ativista negro Steve Biko em reescrever a história de sua sociedade de forma livre desses preceitos, abordando temas que foram ignorados pelos europeus e/ou que foram julgados com a perspectiva européia.
b) Com o enfraquecimento das nações européias ao final da II Guerra Mundial, os povos africanos conquistaram suas independências. No caso específico da África do Sul, de colonização holandesa e posteriormente britânica, essa independência foi, entretanto, limitada, pois entrou em vigor um regime de segregação racial, o Apartheid, imposto pela elite branca que habitava o país e dominava politicamente os órgãos governamentais. Essa política impunha restrições legais aos não-brancos no que diz respeito ao acesso à terra, empregos, direito de voto, acesso à saúde e à educação. Além disso, havia também uma segregação geográfica, restringindo aos negros determinados espaços físicos da África do Sul (bairros, transporte coletivo e demais áreas públicas).
Um dos principais ativistas contra esse regime, o advogado Nelson Mandela, voltou ao país depois de ser preso nos anos 60, por lutar contra o Apartheid. Com o fim do regime em 1990, Mandela ganhou a liberdade e em 1994 foi eleito presidente daquela nação.