Na busca de um herói para a República, quem atendeu as exigências da mitificação foi Tiradentes. O busto de Tiradentes idealizado em 1890 era a própria imagem de Cristo. A simbologia cristã apareceu em várias outras obras de arte da época. Mas Tiradentes não era apenas um herói republicano, era um herói do jacobinismo, dos setores mais radicais do Partido Republicano. Além do republicanismo, atribuía-se a Tiradentes um caráter plebeu, humilde, popular, em contraste com a elite econômica e cultural, aproximando-o assim do florianismo.
(Adaptado de José Murilo de Carvalho, A formação das almas: imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 57-69.)
a) De acordo com o texto, quais os significados associados à imagem de Tiradentes pela propaganda republicana no Brasil?
b) Explique duas características políticas dos primeiros governos da república (Marechal Deodoro e Floriano Peixoto).
a) Depois de todas as disputas políticas para a implantação da república no Brasil, era chegada a hora de buscar sua consolidação também por meio da criação de símbolos nacionais ligados, muitas vezes artificialmente, a esse ideal. Foi assim que, depois de quase um século de ostracismo, a imagem de Tiradentes foi resgatada, juntamente com a do movimento do qual participou, a “Inconfidência Mineira”, que no século XVIII tentou a emancipação colonial e a proclamação de um novo país republicano. Tiradentes não foi líder do movimento mineiro como é comumente divulgado, mas nesse posterior resgate, esse personagem ganhou uma nova roupagem. Por ter sido o único condenado à morte pela monarquia portuguesa, ele ressurge como mártir republicano, com sua imagem assemelhada à de Jesus Cristo, demonstrando um homem que morreu por um ideal e em nome da coletividade. Além disso, segundo o texto, sua imagem também foi associada às causas ligadas às massas populares e à ala mais radical do Partido Republicano brasileiro, chamados de “jacobinos” (radicais franceses durante a Revolução) ou florianistas (referência a Floriano Peixoto, presidente que se aproximou dessa ala).
b) Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto foram os dois primeiros presidentes do Brasil, ambos militares, que não foram eleitos pelo voto direto.
DEODORO DA FONSECA liderou o golpe republicano, assumindo o comando provisório do país na seqüência e, posteriormente, sendo eleito indiretamente para um governo constitucional que durou menos de um ano, já que diante de atritos com o Congresso, acabou renunciando, o que levou à posse de seu vice, Floriano Peixoto. Durante o governo de Deodoro, foi promulgada uma nova Constituição e, por ela, o Brasil passou a ser uma República Federalista Presidencialista, ou seja, as antigas províncias foram transformadas em estados, gozando de relativa autonomia, e o presidente da república passaria a exercer o poder Executivo. Já o critério censitário para o exercício da cidadania foi abolido, com o voto passando a ser universal. Além disso, o Brasil viveu uma de suas maiores crises econômicas, devido aos efeitos de uma desastrosa política emicionista apelidada de “Política do Encilhamento”.
Já FLORIANO PEIXOTO, mais habilidoso politicamente, se aliou à elite cafeeira e adotou algumas medidas populares, o que lhe deu o apoio necessário para reprimir algumas revoltas que eclodiram em seus governo (Revolta da Armada e Revolta Federalista), bem como concluir seu mandato com prestígio.