Mau despertar
Saio do sono como
de uma batalha
travada em
lugar algum
Não sei na madrugada
se estou ferido
se o corpo
tenho
riscado
de hematomas
Zonzo lavo
na pia
os olhos donde
ainda escorrem
uns restos de treva
(Ferreira Gullar. Muitas vozes, 2013.)
A leitura do poema permite inferir que
a) |
o despertar do eu-lírico apaga as más lembranças da madrugada. |
b) |
a noite é problema para o eu-lírico, perturbado mais física que mentalmente. |
c) |
o eu-lírico atribui o seu mau despertar a uma noite de difícil sono. |
d) |
o eu-lírico encontra na noite difícil uma forma de enfrentar seus medos. |
e) |
o mau despertar acentua as feridas e as dores que perturbam o eu-lírico. |
a) Incorreta. Não há elementos no poema que permitam afirmar que o despertar apaga as más lembranças do eu-lírico, mesmo porque esse momento é caracterizado (pelo título do poema, inclusive) como mau, e é ao acordar que as sensações desconfortáveis afloram ao eu-lírico.
b) Incorreta. Ainda que haja a menção a elementos físicos, como o corpo ferido ou os olhos que precisam ser lavados, não fica evidente que essa perturbação se manifesta com mais força no estado físico. O eu-lírico se autodefine “zonzo”, sem saber ao certo o que teria acontecido durante a madrugada – evidências de que o seu estado mental foi bastante prejudicado pela má noite de sono.
c) Correta. Os elementos referentes ao sono conturbado (a batalha, o corpo ferido, os hematomas), associados à imagem do despertar confuso que tenta afastar as más sensações trazidas pelo sono (o ato de lavar os olhos que ainda guardam “restos de trevas”) evidenciam que o mau despertar se deve a uma noite de sono difícil.
d) Incorreta. De fato, o eu-lírico passa por uma noite difícil, mas não há, no poema, nenhum indício de que essa experiência o ajude a enfrentar seus medos.
e) Incorreta. Não é adequado afirmar que o mau despertar acentua as feridas e dores do eu-lírico, uma vez que estas são justamente causadas pela má noite de sono.