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Questão 3 Línguas

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Questão 3

Variação Linguística língua oral e língua escrita

A palavra falada é um fenômeno natural; a palavra escrita é um fenômeno cultural. O homem natural pode viver perfeitamente sem ler nem escrever. Não o pode o homem a que chamamos civilizado: por isso, como disse, a palavra escrita é um fenômeno cultural, não da natureza mas da civilização, da qual a cultura é a essência e o esteio.

Pertencendo, pois, a mundos (mentais) essencialmente diferentes, os dois tipos de palavra obedecem forçosamente a leis ou regras essencialmente diferentes.

A palavra falada é um caso, por assim dizer, democrático. Ao falar, temos que obedecer à lei do maior número, sob pena de ou não sermos compreendidos ou sermos inutilmente ridículos. Se a maioria pronuncia mal uma palavra, temos que a pronunciar mal. Se a maioria usa de uma construção gramatical errada, da mesma construção teremos que usar. Se a maioria caiu em usar estrangeirismos ou outras irregularidades verbais, assim temos que fazer. Os termos ou expressões que na linguagem escrita são justos, e até obrigatórios, tornam-se em estupidez e pedantaria, se deles fazemos uso no trato verbal. Tornam-se até em má-criação, pois o preceito fundamental da civilidade é que nos conformemos o mais possível com as maneiras, os hábitos, e a educação da pessoa com quem falamos, ainda que nisso faltemos às boas maneiras ou à etiqueta, que são a cultura exterior.

(Fernando Pessoa. A língua portuguesa, 1999. Adaptado)


De acordo com o autor, “ao falar, temos que obedecer à lei do maior número”. Atendendo a esse princípio, para o português oral contemporâneo, está adequado o enunciado:

 



a)
Olvidei-me de trazer seu livro. Assistia a um filme deveras interessante. Você não se sente chateado por isso, não é mesmo?
b)
Caso assistisse a um filme e esquecesse teu livro... Sentir-te-ias magoado com esse meu comportamento?
c)
Cara, @#$&*...! Demorô!!! O fdm nem tchum... E pá... ☺ E o livro... Nem...  Que m***a!!!
d)
Me esqueci de trazer seu livro, porque fiquei assistindo um filme. Cê não tá chateado por causa disso, né?
e)
Nóis ia lê o livro na aula, mais fiquei veno TV, sistino um firme e isquici dele. Ocê tá chateado cumigu não né?
Resolução

a)    Incorreta. Esta alternativa reproduz uma variedade linguística extremamente formal, que não atende ao princípio da lei do maior número, já que tal variante, no português oral contemporâneo, é pouquíssimo utilizada pelos falantes.
b)    Incorreta. Esta alternativa também reproduz uma variedade linguística extremamente formal, que não atende ao princípio da lei do maior número, já que tal variante, no português oral contemporâneo, é pouquíssimo utilizada pelos falantes.
c)    Incorreta. Esta alternativa não reproduz uma variedade no português oral contemporâneo, e sim ilustra o que popularmente se considera “internetês”: a linguagem “popular” escrita da internet.
d)    Correta. Esta alternativa reproduz bastante verossimilhantemente o registro do português oral contemporâneo que atende à lei do maior número, uma vez que é reproduzido por número considerável de falantes. Os fenômenos que podem ser observados, por exemplo, são o uso do pronome oblíquo em início de frase (Me esqueci); a regência direta do verbo assistir com sentido de ver (assistindo um filme); a queda de sílabas (cê e tá); a interpelação informal ao interlocutor (né).
e)    Incorreta. Esta alternativa reproduz um registro do português contemporâneo relativo a falantes com baixa escolaridade, não atendendo ao princípio da lei do maior número.