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Questão 12 Línguas

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Questão 12

Pressupostos e Subentendidos O Primo Basílio

O melro veio com efeito às três horas. Luísa estava na sala, ao piano.

– Está ali o sujeito do costume – foi dizer Juliana.

Luísa voltou-se corada, escandalizada da expressão:

– Ah! meu primo Basílio? Mande entrar. - E chamando-a: – Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém, que entre.

Era o primo! O sujeito, as suas visitas perderam de repente para ela todo o interesse picante. A sua malícia cheia, enfunada até aí, caiu, engelhou-se como uma vela a que falta o vento. Ora, adeus! Era o primo! Subiu à cozinha, devagar, — lograda.

– Temos grande novidade, Sr.a Joana! O tal peralta é primo. Diz que é o primo Basílio. - E com um risinho: – É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à última hora! O diabo tem graça!

– Então que havia de o homem ser se não parente? – observou Joana.

Juliana não respondeu. Quis saber se estava o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sentou-se à janela, esperando. O céu baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; às vezes uma aragem súbita e fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trêmulo.

– É o primo! – refletia ela. – E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipóia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família!

Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lograda. Havia ali muito “para ver e para escutar”. E o ferro estava pronto?

Mas a campainha, embaixo, tocou.

(Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.)

 


Considere o antepenúltimo parágrafo do texto para responder à questão.

– É o primo! – refletia ela. – E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipóia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família!

A leitura do parágrafo permite concluir que as reflexões de Juliana são pautadas



a)
pela falta de interesse que tem de se ocupar dos afazeres domésticos.
b)
pela insatisfação de contemplar o bem-estar da família.
c)
pelo inconformismo com os encontros, que lhe representam mais afazeres.
d)
pelo descaso que revela ter em relação a Luísa e aos seus familiares.
e)
pelo ressentimento que experimenta, por não receber a atenção desejada.
Resolução

a) Incorreta. As reflexões de Juliana não se pautam, no trecho acima, pela sua falta de interesse no trabalho, mas em deixar sugerido que está atenta à traição da patroa e no modo como isso se relaciona com o seu posicionamento na casa, enquanto empregada.

b) Incorreta. Juliana não pode ficar insatisfeita em contemplar a felicidade da família, porque Basílio é um membro da família que a leva à dissolução, portanto, não há felicidade a ser contemplada.

c) Correta. No trecho acima, Juliana revela que a traição faz com que ela trabalhe mais, para que a patroa consiga se manter arrumada e asseada para os encontros e passeios que tem com Basílio.

d) Incorreta. Não se revela neste parágrafo descaso com os familiares de Luísa. Em verdade, ao dizer “Tudo fica em família!”, sua fala sugere ironia, já que o adultério de Luísa se dá com o primo.

e) Incorreta. Pode-se perceber nas entrelinhas certo ressentimento no trecho, mas não pela falta de atenção recebida, e sim pelo caráter do trabalho e sua posição social em face aos patrões.