TEXTO I
Estratos
Na passagem de uma língua para outra, algo sempre permanece, mesmo que não haja ninguém para se lembrar desse algo. Pois um idioma retém em si mais memórias que seus falantes e, como uma chapa mineral marcada por camadas de uma história mais antiga do que aquela dos seres viventes, inevitavelmente carrega em si a impressão das eras pelas quais passou. Se as "línguas são arquivos da história", elas carecem de livros de registro e catálogos. Aquilo que contêm pode apenas ser consultado em parte, fornecendo ao pesquisador menos os elementos de uma biografia do que um estudo geológico de uma sedimentação realizada em um período sem começo ou sem fim definido.
HELLER-ROAZEN, D. Ecolalias: sobre o esquecimento das linguas.
Campinas: Unicamp, 2010.
TEXTO II
Na refleção gramatical dos séculos XVI e XVII, a influência árabe aparece pontualmente, e se reveste sobretudo de item bélico fundamental na atribuição de rudeza aos idiomas português e castelhano por seus respectivos detratores. Parecer com o árabe, assim, é uma acusação de dessemelhança com o latim.
SOUZA, M. P. Linguisticas histórica.
Campinas: Unicamp, 2006.
Mais big do que bang
A comunidade científica mundial recebeu, na semana passada, a confirmação oficial de uma descoberta sobre a qual se falava com enorme expectativa há alguns meses. Pesquisadores do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian revelaram ter obtido a mais forte evidência até agora de que o universo em que vivemos começou mesmo pelo Big Bang, mas este não foi explosão, e sim uma súbita expansão de matéria e energia infinitas concentradas em um ponto microscópico que, sem muitas opções semânticas, os cientistas chamam de “singularidade”. Essa semente cósmica permanecia em estado latente e, sem que exista ainda uma explicação definitiva, começou a inchar rapidamente [...]. No intervalo de um piscar de olhos, por exemplo, seria possível, portanto, que ocorressem mais de 10 trilhões de Big Bangs.
ALLEGRETTI, F. Veja, 26 mar. 2014 (adaptado).
No título proposto para esse texto de divulgação científica, ao dissociar os elementos da expressão Big Bang, a autora revela a intenção de
a) |
evidenciar a descoberta recente que comprova a explosão de matéria e energia. |
b) |
resumir os resultados de uma pesquisa que trouxe evidências para a teoria do Big Bang. |
c) |
sintetizar a ideia de que a teoria da expansão de matéria e energia substitui a teoria da explosão. |
d) |
destacar a experiência que confirma uma investigação anterior sobre a teoria de matéria e energia. |
e) |
condensar a conclusão de que a explosão de matéria e energia ocorre em um ponto microscópico. |
a) Incorreta. Em vez de comprovar, o texto desconstrói a noção clássica de que o Big Bang teria consistido em um evento de explosão de matéria e energia.
b) Incorreta. Não há menção no texto a uma pesquisa em particular, mas à revelação de um grupo de pesquisadores. Eles encontraram evidências contrárias para a teoria do Big Bang concebida como explosão.
c) Correta. A descoberta relatada no texto veiculado na revista Veja diz respeito a um novo entendimento sobre a teoria do Big Bang: “... mas este não foi explosão, e sim uma súbita expansão de matéria (...)”. Sendo uma matéria jornalística, pode-se mesmo afirmar que a divulgação dessa nova concepção científica consiste no objetivo do texto e, nesse sentido, tal novidade fica clara já no título, cujo intuito é garantir o foco à informação mais importante. O candidato que tiver conhecimentos básicos de inglês também poderia lançar mão deles para detectar a alternativa correta, associando o termo “big” (grande) à ideia de expansão da matéria e “bang”, à de explosão.
d) Incorreta. Não há qualquer menção a uma suposta investigação anterior, quanto mais a qualquer experiência. O texto dá destaque a uma nova concepção.
e) Incorreta. O “ponto microscópico” consiste na singularidade, o ponto de concentração de matéria e energia infinitas que subitamente expandiram no Big Bang. Não há relação com explosão, portanto.