Com o enredo que homenageou o centenário do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a Unidos da Tijuca foi coroada no Carnaval 2012.
A penúltima escola a entrar na Sapucaí, na segunda noite de desfiles, mergulhou no universo do cantor e compositor brasileiro e trouxe a cultura nordestina com criatividade para a Avenida, com o enredo O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão.
Disponível em: www.cultura.rj.gov.br.
Acesso em: 15 maio 2012 (adaptado).
Dia 20/10
É preciso não beber mais. Não é preciso sentir vontade de beber e não beber: é preciso não sentir vontade de beber. É preciso não dar comida aos urubus. É preciso fechar para balanço e reabrir. É preciso não dar de comer aos urubus. Nem esperanças aos urubus. É preciso sacudir a poeira. É preciso beber sem se oferecer em holocausto. É preciso. É preciso não morrer por enquanto. É preciso sobreviver para verificar. Não pensar mais na solidão de Rogério, e deixa-lo. É preciso não dar de comer aos urubus. É preciso enquanto é tempo não morrer na via pública.
TORQUATO NETO. In: MENDONÇA, J. (Org.) Poesia (im)popular brasileira. São Bernardo do Campo: Lamparina Luminosa, 2012.
O processo de construção do texto formata uma mensagem por ele dimensionada, uma vez que
a) |
configura o estreitamento da linguagem poética. |
b) |
reflete as lacunas da lucidez em desconstrução. |
c) |
projeta a persistência das emoções reprimidas. |
d) |
repercute a consciência da agonia antecipada. |
e) |
revela a fragmentação das relações humanas. |
Entende-se que o enunciado exige que o candidato justifique a relação entre forma (com base nos termos “construção”, “formata” e “dimensionada”) e conteúdo (a referida “mensagem”) no fragmento do texto de Torquato Neto.
a) Incorreta. Além de observarmos a vagueza na escolha lexical “estreitamento”, que tanto pode se referir à redução quando ao fortalecimento — e, portanto, pouco se pode concluir acerca do “estreitamento da linguagem poética” —, atentamos para a desconsideração do plano do conteúdo por parte da referência única à linguagem poética. Assim, a alternativa não atende à exigência do enunciado.
b) Incorreta. A recuperação das ações e condutas a serem obrigatoriamente praticadas consiste em um exercício sistemático de (re)avaliação daquilo que se faz: quando se diz, por exemplo, que “é preciso não beber mais”, tem-se consciência de que se vem bebendo. Portanto, é frágil a defesa de uma “lucidez em desconstrução”.
c) Correta. Existe uma relação próxima entre a forma do texto — que se configura por meio da repetição da estrutura sintática “É preciso...”, recurso expressivo reconhecido como anáfora — e seu conteúdo — a reiteração da obrigatoriedade de certas condutas, tais como “não beber mais” ou “não pensar mais na solução de Rogério”, as quais não condizem com aquilo que de fato se quer fazer (o que se percebe, aliás, pela escolha do “mais”, que demarca a interrupção do que vinha se fazendo). Pode-se dizer, então, que a configuração do texto projeta a persistência, dada a anáfora, das emoções reprimidas, marcadas pela proibido, pelo necessário e pelo mandatório.
d) Incorreta. Antecipa-se a agonia no período final do fragmento: “É preciso enquanto é tempo não morrer na via pública”. Esse é, contudo, o único trecho capaz de sustentar tal declaração, por isso não se pode adotá-lo como representativo da relação exigida no enunciado.
e) Incorreta. A assunção de relações fragmentadas faz parte do plano do conteúdo e não satisfaz plenamente ao comando do enunciado, segundo o qual se deve olhar também para a configuração textual.