Leia um trecho do prefácio “O recado da mata”, do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, para o livro A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert
A queda do céu é um acontecimento científico incontestável, que levará, suspeito, alguns anos para ser devidamente assimilado pela comunidade antropológica. Mas espero que todos os seus leitores saibam identificar de imediato o acontecimento político e espiritual muito mais amplo, e de muito grave significação, que ele representa. Chegou a hora, em suma; temos a obrigação de levar absolutamente a sério o que dizem os índios pela voz de Davi Kopenawa — os índios e todos os demais povos “menores” do planeta, as minorias extranacionais que ainda resistem à total dissolução pelo liquidificador modernizante do Ocidente. Para os brasileiros, como para as outras nacionalidades do Novo Mundo criadas às custas do genocídio americano e da escravidão africana, tal obrigação se impõe com força redobrada. Pois passamos tempo demais com o espírito voltado para nós mesmos, embrutecidos pelos mesmos velhos sonhos de cobiça e conquista e império vindos nas caravelas, com a cabeça cada vez mais “cheia de esquecimento”, imersa em um tenebroso vazio existencial, só de raro em raro iluminado, ao longo de nossa pouco gloriosa história, por lampejos de lucidez política e poética. Davi Kopenawa ajuda-nos a pôr no devido lugar as famosas “ideias fora do lugar”, porque o seu é um discurso sobre o lugar, e porque seu enunciador sabe qual é, onde é, o que é o seu lugar. Hora, então, de nos confrontarmos com as ideias desse lugar que tomamos a ferro e a fogo dos indígenas, e declaramos “nosso” sem o menor pudor [...].
(A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, 2015.)
O autor recorre à elipse de um substantivo no trecho:
a) |
“Pois passamos tempo demais com o espírito voltado para nós mesmos”. |
b) |
“porque o seu é um discurso sobre o lugar”. |
c) |
“temos a obrigação de levar absolutamente a sério o que dizem os índios”. |
d) |
“tal obrigação se impõe com força redobrada”. |
e) |
“Hora, então, de nos confrontarmos com as ideias desse lugar”. |
a) Incorreta. Na oração, todos os termos substantivos estão dispostos de forma explícita. A única omissão se dá no uso do sujeito elíptico – passamos –, pelo qual se omite o pronome pessoal reto ‘nós’.
b) Correta. Ocorre elipse do substantivo “discurso” na expressão para que ele não aparecesse de forma duplicada como em “porque o seu (discurso) é um discurso sobre o lugar”. Além disso, sua ausência contribui para se criar uma leitura enfática sobre o pronome possessivo “seu”.
c) Incorreta. Na oração, todos os termos substantivos estão dispostos de forma explícita. Novamente, como no item ‘a’, a única omissão se dá no uso do sujeito elíptico – temos –, pelo qual se omite o pronome pessoal reto ‘nós’.
Adendo: pode criar distração a posposição do sujeito “os índios” relacionado à forma verbal “dizem”.
d) Incorreta. Na oração, todos os termos substantivos estão dispostos de forma explícita.
e) Incorreta. Na oração, todos os termos substantivos estão dispostos de forma explícita. Novamente, como nos itens ‘a’ e ‘c’, a única omissão se dá no uso do sujeito elíptico – confrontarmos –, pelo qual se omite o pronome pessoal reto ‘nós’.