Leia o soneto “Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia”, do poeta Gregório de Matos (1636-1696), para responder às próximas questões.
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres¹,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
(Gregório de Matos. Poemas escolhidos, 2010.)
1 Trazidos sob os pés os homens nobres: na visão de Gregório de Matos, os mulatos em ascensão subjugam com esperteza os verdadeiros “homens nobres”.
O soneto de Gregório de Matos constitui um exemplo da sua poesia de teor
a) |
nostálgico. |
b) |
satírico. |
c) |
metalinguístico. |
d) |
místico. |
e) |
encomiástico.
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a) Incorreta. O poema não explora o sentimento de nostalgia, uma vez que se atém ao relato crítico de aspectos contemporâneos ao momento de sua produção (fato perceptível pelo uso do presente do indicativo), sem que haja qualquer tipo de comparação ou menção a uma situação anterior à qual o poeta desejaria regressar.
b) Correta. A descrição da Bahia apresentada ao longo do soneto tem como foco a denúncia de transgressões morais, de comportamentos que o poeta considera condenáveis: a incapacidade de governar, o interesse desmedido pela vida alheia, a sobreposição dos "mulatos desavergonhados" aos "homens nobres", a usura e o roubo. Trata-se, portanto, de um exemplo da poesia satírica de Gregório de Matos.
c) Incorreta. O soneto não faz menção à própria poesia ou ao papel do poeta, o que impede que seja tido como metalinguístico.
d) Incorreta. O poema concentra-se em questões cotidianas da sociedade baiana, sem qualquer referência a aspectos religiosos, espirituais. Não se verifica, então, teor místico nesse soneto.
e) Incorreta. A poesia encomiástica, também conhecida como laudatória, é aquela que exalta uma pessoa, elogiando-a. O soneto em questão, por sua vez, apresenta críticas direcionadas de forma genérica à sociedade baiana.