Leia o soneto “Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia”, do poeta Gregório de Matos (1636-1696), para responder às próximas questões.
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres¹,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
(Gregório de Matos. Poemas escolhidos, 2010.)
1 Trazidos sob os pés os homens nobres: na visão de Gregório de Matos, os mulatos em ascensão subjugam com esperteza os verdadeiros “homens nobres”.
No soneto, o pronome “o” refere-se a
a) |
“mundo”. |
b) |
“terreiro”. |
c) |
“conselheiro”. |
d) |
“olheiro”. |
e) |
“vizinho”. |
O pronome o está presente na segunda estrofe do poema no verso “Para o levar à praça e ao terreiro”. Tendo isso e o contexto do poema em vista, pode-se concluir que tal pronome é anafórico e possui como referente o substantivo vizinho. É possível chegar a essa conclusão pelo fato de que o olheiro vigia a vida do vizinho e da vizinha para que possa sobre eles falar na praça e no terreiro. Sendo assim, pelo fato de tal pronome estar no masculino e singular, subentende-se que seu referente seja o antecedente, também no masculino e singular, vizinho.
Observe também que, em "E podem governar o mundo inteiro", temos o artigo definido masculino o, e não um pronome, já que acompanha o substantivo mundo, enquanto em “Para o levar à praça e ao terreiro”, há a substituição do substantivo vizinho pelo pronome.