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Questão 57 Unesp 2023 - 1ª fase

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Questão 57

Descartes Escola de Frankfurt Escola de Frankfurt (Sociologia)

A ciência avançou tanto que as pessoas acham que não precisam mais morrer. Continuamos usando todos os artifícios da tecnologia, da ciência, para endossar a fantasia de que todo mundo vai ter comida, todo mundo vai ter geladeira, todo mundo vai ter leito hospitalar e todo mundo vai morrer mais tarde. Isso é uma falsificação da vida. A ciência e a tecnologia acham que a humanidade não só pode incidir impunemente sobre o planeta como será a última espécie sobrevivente e a única a decolar daqui quando tudo for pelo ralo.

(Ailton Krenak. A vida não é útil, 2020. Adaptado.)


A situação criticada pelo filósofo e líder indígena Ailton Krenak é fruto de uma visão de mundo decorrente do pensamento moderno, qual seja,



a)

o mecanicismo cartesiano.

b)

o idealismo hegeliano.

c)

o transcendentalismo kantiano.

d)

o jusnaturalismo lockiano.

e)

o existencialismo sartriano.

Resolução

O texto traz uma crítica em relação ao modelo de racionalidade e de pensamento que, segundo vários autores da filosofia e da sociologia, nasce na modernidade e toma conta dos processos sociais da vida contemporânea. Esse modelo de racionalidade e pensamento nós costumamos chamar de "instrumental", justamente porque vê na razão um mero "instrumento" (ou "ferramenta") para controlar a natureza que, veja só, está aí justamente para isso: para ser controlada e nos servir. Nesse contexto é que vamos avaliar os itens:

a) Correta. A alternativa traz a única resposta possível para o exercício, ao citar o mecanicismo cartesiano. Segundo esse raciocínio, a natureza poderia ser vista como separada do ser humano, no sentido de se tornar um objeto de estudo para nós, um corpo ao qual não pertencemos, mas que podemos conhecer e controlar, pelo funcionamento matemático do mesmo, preciso tal qual uma máquina, mecânico no sentido de ter encaixes perfeitos. Bastava entender essa mecânica e a natureza poderia ser nossa fonte de segurança e conforto - eis o sonho Moderno, criticado pelo filósofo e líder indígena Ailton Krenak.

b) Incorreta. O idealismo hegeliano é do final da Modernidade e em nada se relaciona com o texto, na medida em que Ailton Krenak não menciona o "desenrolar da razão na história, rumo ao absoluto" - para citar Hegel.

c) Incorreta. Transcendentalismo kantiano é um termo que utilizamos, na filosofia, para designar os princípios a priori pelos quais a razão pode operar no mundo sensível, construindo o conhecimento a partir de categorias universais "previamente fixadas", digamos assim. Em nada se relaciona com o debate do texto, sobre controle da natureza, objetificação do mundo ou questões ambientais e políticas.

d) Incorreta. Na filosofia política encontramos os jusnaturalistas, também conhecidos como teóricos dos direitos naturais (uma tradução do latim "jus(direito)naturalismo(natural). Um desses autores é o britânico John Locke, do século XVIII e, segundo sua teoria jusnaturalista, o homem tem como direito inalienável a propriedade privada, resultado do seu esforço e do seu empenho sobre o mundo, que está aí para ser transformado - visão quase que frontalmente oposta àquela que o texto apresenta.

e) Incorreta. Primeiramente: o existencialismo sartriano é da Idade Contemporânea e, por isso mesmo, já estaria fora do escopo temporal solicitado no enunciado da questão. Ainda que não fosse o caso, as reflexões de Jean Paul Sartre, filósofo francês do século XX, trazem temáticas diferentes daquelas que o texto aborda, tais como liberdade e angústia.