Leia o trecho da canção “O resto do mundo”, de Gabriel O Pensador.
Eu tô com fome
tenho que me alimentar
Eu posso não ter nome, mas o estômago tá lá
Por isso eu tenho que ser cara de pau
Ou eu peço dinheiro ou fico aqui passando mal
Tenho que me rebaixar a esse ponto porque
a necessidade é maior do que a moral.
(Gabriel O Pensador, 2000.)
No trecho, a fome tem como consequência ética a
a) |
anulação da subjetividade. |
b) |
desobediência ao código civil. |
c) |
afirmação dos princípios morais. |
d) |
proibição do convívio em sociedade. |
e) |
superação da invisibilidade social. |
a) Correta. A fome é uma das formas mais brutais de violação do ser humano, e é intrínseca à pobreza e à exclusão social. O trecho do excerto demonstra como a fome - processo fisiológico que ressoa a desigualdade social e a miséria - anula a subjetividade do sujeito, ao afirmar que mesmo podendo "não ter nome", o "estômago tá lá". Assim, entendendo por subjetividade o processo de constituição do indivíduo de modo singular, fica evidente que a canção indica que esse processo é anulado ("Eu posso não ter nome"/"a necessidade é maior do que a moral") em decorrência da necessidade de assegurar a sobrevivência ("ou eu fico aqui passando mal").
b) Incorreta. A consequência causada pela fome levou ao ato de pedir esmolas, o que não viola as normas vinculadas ao Código Civil - texto que normatiza os direitos e deveres privados como as pessoas, os bens e suas relações - a exemplo do casamento, herança, nascimento, contratos, etc.
c) Incorreta. A fome não provoca a afirmação dos princípios morais, mas justamente sua anulação em virtude da extrema necessidade de sobrevivência, situação classificada como um "rebaixamento" pelas palavras do eu-lírico.
d) Incorreta. O fato de pedir dinheiro para comer não resulta numa proibição do convívio em sociedade, e tampouco essa condição está descrita nos trechos da música em questão.
e) Incorreta. A ação do eu-lírico de pedir dinheiro para atender suas necessidades não levou a uma superação da invisibilidade social, isto é, de sua condição de extrema marginalidade que resulta numa indiferença da sociedade. Pelo contrário, pedir esmolas apenas reafirma ou mesmo agrava sua invisibilidade na sociedade brasileira contemporânea, tendo em vista a indiferença com que tais indivíduos são normalmente tratados, a despeito de viverem em condições miseráveis e materialmente desumanas.