O lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas. A teoria do ponto de vista feminista e lugar de fala nos faz refutar uma visão universal de mulher e de negritude, e outras identidades, assim como faz com que homens brancos, que se pensam universais, se racializem, entendam o que significa ser branco como metáfora do poder.
(Djamila Ribeiro. O que é: lugar de fala?, 2017. Adaptado.)
O excerto aborda um conceito que propõe uma nova perspectiva de análise filosófica, sobretudo em relação
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ao estabelecimento de uma ética pluralista. |
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à recusa de instituições políticas. |
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ao reconhecimento de um eurocentrismo epistêmico. |
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à negação de hierarquias sociais. |
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à reconstrução de discursos representativos. |
Assim começa o belo texto que embasa o exercício: "O lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas." Não por acaso, o excerto de Djamila Ribeiro que a Unesp utiliza vem de seu texto "O que é: lugar de fala?". Sim, a reflexão nos faz questionar nossas tão diferentes experiências (sociais, afetivas, culturais, econômicas, sexuais, literárias, etc) a partir dos locais em que somos inseridos, a partir dos contextos que conhecemos e respiramos. E é nesse viés que o enunciado se coloca: "O excerto aborda um conceito que propõe uma nova perspectiva de análise filosófica, sobretudo em relação"
a) Incorreta. Uma ética pluralista não abarca o conceito de lugar de fala, pensado pela autora, porque é insuficiente para "trazer o debate" para situações mais concretas, do dia-a-dia, que envolvam recortes raciais, e de gênero, e tantos outros, próprios da nossa subjetividade.
b) Incorreta. Recusar qualquer coisa do campo da política, sejam as instituições ou quaisquer outros meios de organização, como é de conhecimento de todos e todas das áreas de ciências humanas, nunca foi ou será resposta para o entendimento e compreensão das subjetividades humanas. Ao contrário, as desfigura, porque as desampara. De Aristóteles à Hannah Arendt, sabemos que somos "essencialmente políticos".
c) Incorreta. A autora não pretende debater as bases epistêmcias da filosofia ou identificar suas origens. A proposta está fora desse eixo de debate,que versa sobre a construção do saber em suas bases racionais e empíricas.
d) Incorreta. As hierarquias sociais, a depender de como o debate sobre lugar de fala é conduzido, podem até aparecer no escopo da reflexão. Mas, duas coisas: 1) se aparecer não será, necessariamente, no sentido de negá-las; 2) o enunciado, que transcrevemos acima, fala em "sobretudo", isto é, o exercício nos pergunta sobre o cerne da questão, e o cerne da questão encontramos no próximo item.
e) Correta. Discursos representativos são reconstruídos na medida em que identificamos e reconhecemos nosso lugar de fala social, marcado pelas posições histórica e recortes culturais que em alguns momentos "nos são dados" e em outros "assumimos". A ideia é nova e fundamental, por exemplo, para o movimento feminista, no sentido de fazer a mulher melhor se entender no mundo e construir sua luta.