Um professor de Biologia apresentou a seus alunos o seguinte trecho de uma matéria sobre o meio ambiente:
“Se a Amazônia é vista como o pulmão do mundo, podemos dizer que o Pantanal é o ‘rim’ da porção da América do Sul”, diz Cássio Bernardino, coordenador de Projetos do WWF-Brasil.
(https://revistacasaejardim.globo.com)
O professor, então, solicitou aos alunos que analisassem a afirmação sobre a Amazônia e o Pantanal possuírem, respectivamente, funções análogas à função dos pulmões e à dos rins. Dentre esses alunos, quem realizou corretamente a análise afirmou que:
a) |
ambas as analogias são adequadas, uma vez que nos pulmões ocorrem as mesmas trocas gasosas que as realizadas pelas plantas da floresta; e que no Pantanal, assim como nos rins, as substâncias tóxicas são diluídas em água e eliminadas no ambiente. |
b) |
assim como os pulmões, as florestas liberam gás carbônico para o ambiente, mas não são as responsáveis por repor na atmosfera o oxigênio consumido no planeta; e que, assim como os rins, o Pantanal participa do controle do fluxo de água e da ciclagem de substâncias. |
c) |
ambas as analogias são inadequadas, uma vez que as trocas gasosas na floresta ocorrem por difusão, enquanto que nos pulmões ocorrem por diferença de pressão; e que nos rins o controle do fluxo de água para o ambiente ocorre por reabsorção, enquanto que no Pantanal o volume de água é controlado pela evaporação. |
d) |
a Amazônia é o pulmão do mundo, pois retira da atmosfera o gás carbônico, do qual usa o carbono para seu crescimento, e devolve o oxigênio da molécula para a atmosfera; e que o Pantanal pode ser comparado aos rins, uma vez que, assim como esse órgão, filtra a água circulante. |
e) |
as florestas não podem ser comparadas aos pulmões, pois estes lançam na atmosfera gás carbônico e dela retiram oxigênio, sendo que as florestas fazem exatamente o contrário; mas o Pantanal pode ser comparado aos rins, pois ambos promovem a retenção e o acúmulo de água. |
A questão revisita o tema recorrente sobre a Amazônia ser o “pulmão do mundo”, desta vez acrescida de mais uma analogia, a respeito do sistema urinário e o complexo do Pantanal, outro bioma brasileiro.
A analogia da Amazônia ser o pulmão do mundo não é adequada, pois os pulmões são os órgãos que alguns animais utilizam para retirar o gás oxigênio da atmosfera e liberar gás carbônico para o meio. O contexto de “pulmão do mundo”, neste caso, se refere à possibilidade da floresta fornecer o gás oxigênio que os seres vivos, de uma forma geral, vão utilizar para manter o metabolismo oxidativo nas mitocôndrias (ou seja, a respiração celular aeróbica). Nesse sentido, uma floresta teria papel inverso ao de um pulmão. Como os vegetais também são seres respiradores, na realidade, uma floresta fornece gás oxigênio e retira gás carbônico enquanto faz fotossíntese, mas também faz o movimento inverso, absorvendo gás oxigênio e liberando gás carbônico, na respiração. Isso é particularmente importante durante a noite, quando a falta de luz impede a fotossíntese.
Em relação ao funcionamento dos rins, estes são órgãos responsáveis pela manutenção do equilíbrio hídrico do organismo, liberação de toxinas (como os resíduos nitrogenados) e substâncias que eventualmente estejam em excesso, além de auxiliar no controle da pressão arterial e estimulação da produção de hemácias na medula óssea vermelha. Desta forma, os rins seriam participantes do controle do fluxo de água e, ao fazer menção a substâncias químicas dissolvidas na urina, estariam também contribuindo para os ciclos da matéria (ciclos biogeoquímicos), ao devolvê-las para o ambiente.
a) Incorreta. Fazer analogia dos pulmões com a floresta Amazônica estaria correto, porém, citar que ocorreriam as mesmas trocas gasosas não é adequado, pois desconsidera parte do que foi explicado na introdução acima. No Pantanal, pode haver substâncias tóxicas diluídas na água, provenientes de várias fontes como lavouras, garimpos, pecuária, e estas poderiam estar sendo liberadas no ambiente.
b) Correta. De fato, as florestas consomem gás oxigênio e liberam gás carbônico para o ambiente, quando fazem a respiração celular, enquanto a fotossíntese leva a fluxos opostos destes dois gases. Embora gere muito gás oxigênio, as plantas consomem a maior parte deste gás na respiração celular, o que contribui pouco para a reposição do gás oxigênio à atmosfera. A maior parte deste gás oxigênio é reposto pela fotossíntese de algas e cianobactérias (que consomem uma pequena parte do gás oxigênio que produzem), e em menor proporção, de plantas. Assim, as plantas não são as principais responsáveis pela devolução de gás oxigênio para a atmosfera. Já o Pantanal, uma ecorregião caracterizada por ser cortada por diversos rios e por constituir a maior planície alagada da Terra, participa do ciclo da água e de outros ciclos biogeoquímicos, como o do carbono, do oxigênio e do nitrogênio. Assim como os rins regulam o balanço hídrico do corpo, levando à formação de urina mais volumosa ou menos volumosa, bem como mais concentrada ou menos concentrada em soluto, o Pantanal regula os fluxos de inundação sazonais da região, o transporte de nutrientes minerais para o ambiente terrestre durante as inundações e o clima.
c) Incorreta. A analogia do Pantanal não estaria necessariamente inadequada. As trocas gasosas ocorrem por difusão simples tanto nos sistemas respiratórios quanto nas plantas. Nos rins, a reabsorção é uma das funções do néfron, unidade funcional renal, e a evaporação que ocorre no Pantanal pode ser um dos fatores que controlam o volume de água presente no ambiente.
d) Incorreta. Ao mencionar a retirada de gás carbônico e a devolução de gás oxigênio, apesar de corretos, estes eventos desconsideram a respiração que acontece nas plantas e consome gás oxigênio. O Pantanal não costuma atuar como um filtro de água, apesar de a percolação da água na superfície, até alcançar o lençol subterrâneo, poder se comparada a uma filtração. Entretanto, isso acontece em qualquer bioma, e não apenas no Pantanal.
e) Incorreta. Não é correto dizer que as florestas fazem “exatamente o contrário” dos pulmões, uma vez que plantas também são capazes de fazer respiração e consumir gás oxigênio. Em relação aos rins, retenção e acúmulo de água não é exatamente a função destes órgãos, uma vez que a água é apenas parcialmente retida no organismo, e boa parte é liberada na forma de urina.