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Questão 64 Unesp 2023 - 1ª fase

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Questão 64

Doenças (Bactérias) Manuel Bandeira textos literários

Leia o poema “Pneumotórax”, do poeta Manuel Bandeira (1886-1968).

 

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.

A vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Tosse, tosse, tosse.

 

Mandou chamar o médico:

 

— Diga trinta e três.

— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…

— Respire.

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— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o

[pulmão direito infiltrado.

— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

(Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira, 1993.)


No poema, o poeta aborda,



a)

em tom satírico, recorrendo à crítica social, vários sintomas da varíola, uma doença bacteriana erradicada no Brasil na década de 1980, graças às campanhas de vacinação, mas que reaparece em 2022 no país.

b)

em tom melancólico, recorrendo a coloquialismos, vários sintomas da tuberculose, uma doença bacteriana erradicada no Brasil desde a década de 1980, graças às campanhas de vacinação.

c)

em tom engajado, recorrendo ao sarcasmo, vários sintomas da varíola, uma doença de etiologia viral, cujo tratamento visa atenuar os sintomas, e que se previne com vacinação.

d)

em tom jocoso, recorrendo à autoironia, vários sintomas da tuberculose, uma doença bacteriana tratável com antibióticos e que se previne com vacinação.

e)

em tom fatalista, recorrendo ao humor ácido, vários sintomas da tuberculose, uma doença de etiologia viral, cujo tratamento visa atenuar os sintomas, e que se previne com vacinação.

Resolução

O poema aborda, de forma irônica e jocosa, os sintomas típicos da tuberculose, como as escavações nos pulmões, que são áreas onde ocorre a destruição do parênquima pulmonar, com a consequente perda de área de trocas gasosas; a tosse contínua, com sangue (hemoptise); edema pulmonar, além de outros sintomas inespecíficos, como febre e dispneia (sensação de falta de ar).
A doença em questão é causada por uma bactéria, Mycobacterium tuberculosis, popularmente conhecida coma bacilo de Koch. É uma doença para a qual existe vacina e tratamento medicamentoso, inclusive com antibióticos fornecidos gratuitamente pelo SUS. A vacina foi desenvolvida com o vírus vivo vaccínia, que é semelhante ao vírus da varíola, e confere imunidade contra este.
Atualmente, a varíola dos macacos vem causando infecções em humanos, inclusive com algumas mortes. Já existe vacina também para esta virose, e discute-se se as pessoas que já foram vacinadas contra varíola (como nos casos de algumas pessoas nascidas antes da década de 1970) seriam ou não imunes à infecção pela varíola dos macacos.

a) Incorreta. Não ocorre sátira no poema, mas autoironia, posto que o eu lírico, diante da fatalista resposta do médico, toma uma decisão inusitada: tocar um tango argentino. Ademais, a varíola tem como sintomas feridas na pele e mucosas, além de muitos sintomas inespecíficos, como febre e dores no corpo. Trata-se de uma doença viral que está erradicada no mundo todo desde o final do século passado.
b) Incorreta. Embora a situação descrita aponte para a morte iminente do eu lírico, não há a presença de melancolia no poema. A tuberculose nunca foi erradicada no Brasil, apesar de o número de casos ter diminuído significativamente após o advento dos antibióticos. De fato, a vacina tem importante papel nesta redução.
c) Incorreta. Não há, no poema, a presença de engajamento. Não somente, a varíola foi erradicada no mundo todo, e a vacinação foi grande aliada neste sentido. No entanto, os sintomas descritos no poema não condizem com varíola, e sim com tuberculose.
d) Correta. Publicado em 1930, o poema “Pneumotórax”, de Manuel Bandeira, apresenta um breve diálogo. Ao procurar um médico por problemas pulmonares, o eu lírico recebe tratamento superficial do profissional, que apenas lhe pede para repetir algumas palavras. Após uma pausa – marcada graficamente na estrutura do poema –, o médico aponta um diagnóstico (“O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado") sem, no entanto, oferecer qualquer tratamento ou solução para a enfermidade. Em seguida, o eu lírico sugere uma hipótese de tratamento, questionando o médico sobre a possibilidade de realização de um pneumotórax (emergência médica causada pela presença de ar entre as membranas que envolvem os pulmões, a qual pode ser solucionada por meio da remoção do excesso de ar). Mesmo diante de tal sugestão, o médico responde objetivamente “Não”. O eu lírico, embora esteja em um contexto tenso de pulsão de morte, lança mão do humor e da autoironia, afirmando que “A única coisa a fazer é tocar um tango argentino”. A partir dessa constatação, por meio de uma quebra de expectativa, o doente satiriza sua impossibilidade de cura e vislumbra um melhor aproveitamento da vida. Além disso, considere o comentário acima.
e) Incorreta. O eu lírico, ao deparar-se com a impossibilidade de cura, constata que “A única coisa a fazer é tocar um tango argentino”. Assim, não há tom fatalismo, mas resignação. Ademais, a tuberculose é causada por uma bactéria, e não por vírus. O tratamento promove a cura, além de atenuar sintomas.