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Questão 114 Enem 2022 - dia 2 - Matemática e Ciências da natureza

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Questão 114

"Répteis" Sangue

    O veneno da cascavel pode causar hemorragia com risco de morte a quem é picado pela serpente. No entanto, pesquisadores do Brasil e da Bélgica desenvolveram uma molécula de interesse farmacêutico, a PEG-collineína-1, a partir de uma proteína encontrada no veneno dessa cobra, capaz de modular a coagulação sanguínea. Embora a técnica não seja nova, foi a primeira vez que o método foi usado a partir de uma toxina animal na sua forma recombinante, ou seja, produzida em laboratório por um fungo geneticamente modificado. 

JULIÃO, A. Técnica modifica proteína do veneno de cascavel e permite criar fármaco que modula a coagulação sanguínea. Disponível em: https://agencia.fapesp.br. Acesso em: 22 nov. 2021 (adaptado).

 


Esse novo medicamento apresenta potencial aplicação para



a)

impedir a formação de trombos, típicos em alguns casos de acidente vascular cerebral. 

b)

tratar consequências da anemia profunda, em razão da perda de grande volume de sangue.

c)

evitar a manifestação de urticárias, comumente relacionadas a processos alérgicos. 

d)

reduzir o inchaço dos linfonodos, parte da resposta imunitária de diferentes infecções.  

e)

regular a oscilação da pressão arterial, característica dos quadros de hipertensão. 

Resolução

As serpentes popularmente conhecidas como cascavéis (Crotalus sp.) são espécies de escamados (classe Reptilia) que apresentam importância médica, uma vez que são peçonhentas, ou seja, animais capazes de inocular veneno (peçonha).

O veneno da cascavel possui muitas toxinas de natureza proteica e que apresentam diferentes efeitos no corpo humano, como, por exemplo, atividade neurotóxica, coagulante e miotóxica:

  • Neurotóxico: capacidade de afetar o sistema nervoso, uma vez que inibe a liberação de acetilcolina, neurotransmissor que promove a contração dos músculos. Assim, o indivíduo irá apresentar um quadro de paralisia flácida, o que pode levar à parada respiratória e morte por asfixia.
  • Coagulante: capacidade de afetar a cascata de coagulação sanguínea, causando o consumo do fibrinogênio, o que leva ao aumento do tempo de coagulação e à incoagulabilidade sanguínea, podendo resultar em sangramentos (hemorragia).
  • Miotóxico: capacidade de afetar o sistema muscular, uma vez que causa a morte das células musculares (mionecrose), levando a quadros de paralisia espasmódica, mialgias, urina escura, oligúria (redução no volume de urina) e insuficiência renal aguda.

No estudo indicado no enunciado, os cientistas foram capazes de modificar a proteína que inibe a coagulação sanguínea, de forma que ela permanecesse circulante no organismo por mais tempo, reduzisse a degradação por componentes do organismo humano e melhorasse suas propriedades funcionais. Essa modificação envolveu a inserção, em uma espécie de fungo, do gene que codifica a proteína tóxica, criando-se, assim, um organismo transgênico.

Portanto, após a expressão do gene pelo fungo e a síntese da proteína em seu citoplasma, ela pode ser purificada e utilizada como medicamento no tratamento de trombose. Nessa doença, a cascata de coagulação é iniciada na ausência de hemorragia, o que leva à formação de coágulos (trombos) dentro dos vasos sanguíneos. Os coágulos são formados pela atividade da trombina, que converte o fibrinogênio em fibrina, a qual irá constituir uma malha proteica (malha de fibrina) que adere o plasma e os elementos figurados do sangue (Figura 1). Uma vez formados, os coágulos são capazes de bloquear o fluxo sanguíneo para os capilares ou provocar o rompimento deles, levando à perda de oxigenação dos tecidos, como, por exemplo, o tecido nervoso. Desse modo, a trombose pode ser a causa do AVC (acidente vascular cerebral), o qual pode ser fatal ou deixar sequelas nos pacientes.

 

Figura 1: parte da cascata de coagulação sanguínea.

 

a) Correta.

b) Incorreta. O medicamento visa a impedir a formação de coágulos, servindo para o tratamento da trombose, e não para o tratamento da picada de cascavel.

c) Incorreta. O medicamento não possui efeito anti-histamínico (antialérgico), pois não interfere na liberação de histamina pelos basófilos e mastócitos.

d) Incorreta. O medicamento não interfere na resposta imunológica do indivíduo, ou seja, não interfere no processo de inflamação dos linfonodos.

e) Incorreta. O medicamento não interfere na regulação da pressão arterial, ou seja, não afeta a frequência cardíaca, o volume sistólico ou contração da musculatura lisa das artérias e arteríolas.