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Questão 14 Enem 2022 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 14

Frase, oração, período Gêneros Textuais

    Morte lenta ao luso infame que inventou a calçada portuguesa. Maldito D. Manuel I e sua corja de tenentes Eusébios. Quadrados de pedregulho irregular socados à mão. A mão! É claro que ia soltar, ninguém reparou que ia soltar? Branco, preto, branco, preto, as ondas do mar de Copacabana. De que me servem as ondas do mar de Copacabana? Me deem chão liso, sem protuberâncias calcárias. Mosaico estúpido. Mania de mosaico. Jogar concreto em cima e aplaina. Buraco, cratera, pedra solta, bueiro-bomba. Depois dos setenta, a vida se transforma numa interminável corrida de obstáculos. A queda e a maior ameaça para o idoso. "Idoso", palavra odienta. Pior, só terceira idade. A queda separa a velhice da senilidade extrema. O tombo destrói a cadeia que liga a cabeça aos pés. Adeus, corpo. Em casa, vou de corrimão em corrimão, tateio móveis e paredes, e tomo banho sentado. Da poltrona para a janela, da janela para a cama, da cama para a poltrona, da poltrona para janela. Olha ai, outra vez, a pedrinha traiçoeira atrás de me pegar. Um dia eu caio, hoje não.

TORRES. F. Fim. São Paulo: Cia das Letras. 2013


O recurso que caracteriza a organização estrutural desse texto é o(a)

 



a)

justaposição de sequências verbais e nominais.

b)

mudança de evento resultante do jogo temporal.

c)

uso de adjetivos qualificativos na descrição do cenário.

d)

encadeamento semântico pelo uso de substantivos sinônimos .

e)

inter-relação entre orações por elementos linguísticos lógicos.

Resolução

a) Correta. O texto apresenta algumas frases verbais e nominais, intercalando-as.
Morte lenta ao luso infame que inventou a calçada portuguesa. (sequência verbal)
Maldito D. Manuel I e sua corja de tenentes Eusébios. (sequência nominal)
Quadrados de pedregulho irregular socados à mão. (sequência nominal)
A mão! (sequência nominal)
É claro que ia soltar, ninguém reparou que ia soltar?  (sequência verbal)
Branco, preto, branco, preto, as ondas do mar de Copacabana. (sequência nominal)
De que me servem as ondas do mar de Copacabana?  (sequência verbal)
Me deem chão liso, sem protuberâncias calcárias. (sequência verbal)
Mosaico estúpido. (sequência nominal)
Mania de mosaico. (sequência nominal)
Jogar concreto em cima e aplaina. (sequência verbal)
Buraco, cratera, pedra solta, bueiro-bomba. (sequência nominal)
Depois dos setenta, a vida se transforma numa interminável corrida de obstáculos.  (sequência verbal)
A queda é a maior ameaça para o idoso. "Idoso", palavra odienta. (sequência nominal)
Pior, só terceira idade. (sequência nominal)
A queda separa a velhice da senilidade extrema.  (sequência verbal)
O tombo destrói a cadeia que liga a cabeça aos pés. Adeus, corpo. (sequência nominal)
Em casa, vou de corrimão em corrimão, tateio móveis e paredes, e tomo banho sentado.  (sequência verbal)
Da poltrona para a janela, da janela para a cama, da cama para a poltrona, da poltrona para janela. (sequência nominal)
Olha aí, outra vez, a pedrinha traiçoeira atrás de me pegar.  (sequência verbal)
Um dia eu caio, hoje não.  (sequência verbal)

b) Incorreta. As informações temporais presentes no texto são fornecidas essencialmente por meio de verbos, os quais indicam referências a eventos nos pretéritos perfeito e imperfeito (do Indicativo) como em “inventou”, “reparou”, ou ao presente (do Indicativo) como em “é”, “servem”, “destrói” ou ainda ao futuro (do Indicativo) como “ia soltar”. Em nenhuma dessas referências, busca-se uma mudança dos eventos como resultado de algum “jogo temporal”, alguma organização que seja basilar no texto e propicie sua estruturação.
c) Incorreta. O texto utiliza vários adjetivos para a descrição do cenário como em “pedra portuguesa”, “pedregulho irregular”, “protuberâncias calcárias”, “chão liso” ou “pedra solta”. As caracterizações propostas por essas expressões não constroem valor qualificativo. Em algumas ocorrências, porém, os adjetivos têm, de fato, valor qualificativo como em “mosaico estúpido” ou “pedrinha traiçoeira”, mas esse uso também não se restringe apenas à descrição do cenário, pois se amplia para outras caracterizações como em “palavra odienta”. Além disso, a presença desses adjetivos não se configura como parte essencial da organização estrutural do texto.
d) Incorreta. Há poucas ocorrências no texto de termos sinônimos como “queda” e “tombo”, para que se possa compreendê-los como parte estruturante da organização do texto.
e) Incorreta. As orações, em sua maioria, são organizadas por justaposição, e não pela presença de elementos conectivos lógicos.