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Questão 40 Enem 2022 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 40

Pressupostos e Subentendidos antífrase

   10 DE MAIO

      Fui na delegacia e falei com o tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimação. (...) O tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disto, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O senhor Janio Quadros, o Kubstchek [9] e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.

      ...O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora.               

      Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças.

JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.


A partir da intimação recebida pelo filho de 9 anos, a autora faz uma reflexão em que transparece a



a)

lição de vida comunicada pelo tenente.    

b)

predisposição materna para se emocionar.

c)

atividade política marcante da comunidade.

d)

resposta irônica ante o discurso da autoridade.

e)

necessidade de revelar seus anseios mais íntimos.

Resolução

a) Incorreta. A autora debocha da leitura que o tenente faz sobre o seu entorno e não trata as observações que ele fez como lições de vida.
b) Incorreta. A reflexão não apresenta qualquer indicativo de alguma emoção profunda, mas de certa indignação sarcástica com a constatação do tenente sobre o ambiente em que vivia.
c) Incorreta. Nas reflexões da autora, não são mencionadas quaisquer atividades políticas da comunidade.
d) Correta. O tom irônico do texto inicia-se a partir da frase “Que homem amável!” e vai sendo reforçado por construções de sentido claramente invertido como em “Se eu soubesse que ele era tão amável”, “interessou-se pela educação dos meus filhos” ou “se ele sabe disto, porque não faz um relatório e envia para os políticos?”. Nessa sequência de enunciados, que marca a reflexão feita pela autora depois de receber a intimação, fica evidente a intenção de indicar os sentidos contrários do que se apresenta, ou seja, de que a autoridade não se interessou verdadeiramente pela educação dos filhos e de que não estava sendo amável. Nesse sentido, pode-se afirmar que a autora visa ao sarcasmo em relação ao discurso da autoridade que se coloca diante dela.
e) Incorreta. Não são revelados anseios íntimos, de caráter individual, nas reflexões, mas anseios de caráter governamental, de quadros políticos que deveriam ser vinculados aos que passam ou passaram fome.