TEXTO I
Uma filosofia da percepção que queira reaprender a ver o mundo restituirá à pintura e às artes em geral seu lugar verdadeiro.
MERLEAU-PONTY, M. Conversas: 1948. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
TEXTO II
Os grandes autores de cinema nos pareceram confrontáveis não apenas com pintores, arquitetos, músicos, mas também com pensadores. Eles pensam com imagens, em vez de conceitos.
DELEUZE, G. Cinema 1: a imagem-movimento. São Paulo Brasiliense, 1983 (adaptado).
De que modo os textos sustentam a existência de um saber ancorado na sensibilidade?
a) |
admitindo o belo como fenômeno transcendental. |
b) |
reafirmando a vivência estética como juízo de gosto. |
c) |
considerando o olhar como experiência de conhecimento. |
d) |
apontando as formas de expressão como auxiliares da razão. |
e) |
estabelecendo a inteligência como implicação das representações. |
A pergunta que o exercício traz, no seu enunciado, é "De que modo os textos sustentam a existência de um saber ancorado na sensibilidade?" Ora, se a pergunta é essa, a questão traz um tema da epistemologia, área de estudos clássica da filosofia. Do mais, considerando os textos, fica evidente que, nesse debate, o epistêmicos, os autores se posicionam como defensores da experiência (das sensações, dos sentidos) na formulação das ideias e do conhecimento, o que nos leva ao gabarito.
a) Incorreta. Admitir o belo, ou qualquer outra coisa, como fenômeno transcendental (metafísico), em nada combina com a valorização da experiência, coisa que os dois textos trazem, em comum.
b) Incorreta. Reafirmar a vivência estética e atrelá-la às questões de gosto, como se a experiência do belo tivesse que ver, apenas, com o próprio belo e não com a construção do conhecimento, vai contra as colocações do próprio texto, que atrela a obra de arte à possibilidade de saber, de conhecer, de entender, de chegar às verdades.
c) Correta. O item menciona um dos nossos sentidos, a saber, a visão, ao mencionar o olhar que nos permite entrar em contato com as obras de arte (fazendo o mesmo movimento do texto, diga-se de passagem). Ademais, vincula esse olhar à construção do saber, dentro da perspectiva de Merleau-Ponty, no que diz respeito ao seu pensamento filosófico sobre a valorização do corpo. Por fim, ainda contempla a ideia central do texto II, de Deleuze, que diz "Eles (os grandes autores do cinema) pensam com imagens".
d) Incorreta. A experiência, exemplificada nos sentidos (em especial o sentido da visão), não aparece, aqui, como auxiliar da razão, conforme sugere o item. Por isso mesmo, ele é equivocado. Na perspectiva apresentada pelos autores, a experiência é um pilar para o conhecimento.
e) Incorreta. Se a inteligência fosse implicação das representações, poderíamos dizer, embora o termo não seja bem aceito entre os filósofos, que todos somos "inteligentes", porque a mera representação do mundo nos levaria ao conhecimento. O ponto, porém, é: como chegamos às representações. Sobre isso o item nada diz. Mas os textos assim: a partir da experiência.