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Questão 60 Enem 2022 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 60

Estudos da Cultura

O povo Kambeba é o povo das águas. Os mais velhos costumam contar que o povo nasceu de uma gota-d’ água que caiu do céu em uma grande chuva. Nessa gota estavam duas gotículas: o homem e a mulher. ‘’Por essa narrativa e cosmologia indígena de que nós somos o povo das águas é que o rio nos tem fundamental importância’’, diz Márcia Wayna Kambeba, mestre em Geografia e escritora. Todos os dias, ela ia com o pai observar o rio. Ia em silêncio e, antes que tomasse para si a palavra, era interrompida. ‘’Ouça o rio’’, o pai dizia. Depois de cerca de duas horas a ouvir as águas do Solimões, ela mergulhava. ‘’Confie no rio e aprenda com ele’’. ‘’Fui entender mais tarde, com meus estudos e vivências, que meu pai estava me apresentando à sabedoria milenar do rio’’.

Rios amazônicos influenciam no agro e em reservatórios do Sudeste. Disponível em: www.uol.com.br. Acesso em: 14 out. 2021.


Pelo descrito no texto, o povo Kambeba tem o rio como um(a)



a)

objeto tombado e museográfico.

b)

herança religiosa e sacralizada.

c)

cenário bucólico e paisagístico.

d)

riqueza individual e efêmera.

e)

patrimônio cultural e afetivo.

Resolução

O texto traz importante debate antropológico sobre a incorporação da natureza como elemento cultural, processo especialmente comum entre as populações originárias. Nesse cenário:

a) Incorreta. Para o povo Kambeba, não faz sentido falarmos em objeto tombado, uma vez que esse conceito não é próprio das comunidades originárias, assim como a ideia de museu, implícita no item.

b) Incorreta. Herança religiosa e sacralizada são ideias indiretamente existentes no texto, uma vez que a referência ao rio e às águas quase ganha uma tônica transcendental. No entanto, mais do que trazer elementos metafísicos, o texto mostra a importância da água para a vida do povo, até no sentido da socialização e, portanto, no sentido cultural geral, ou seja, abrangendo mais coisas do que as questões religiosas.

c) Incorreta. A leitura atenta das palavras de Márcia Kambeba, para além de outras coisas, nos faz perceber que o rio, para o povo Kambeba, é mais do que uma mera paisagem ou cenário idílico: é bem cultural, simbólico, geracional.

d) Incorreta. Chamar o rio de riqueza individual e efêmera é um erro enorme, na medida em que ele tem caráter comunitário e geracional, como aponta o texto que embasa o exercício e como mostra todos os trabalhos antropológicos que, desde de Marcel Mauss, pensa a relação entre natureza e comunidades originárias.

e) Correta. O povo Kambeba tem o rio como um patrimônio cultural, ou seja, como um bem de valor simbólico, capaz de ofertar mais do que a "água", por si só: oferta memória (e, tão logo, afeto), união, harmonia, interação.