Logo ENEM

Questão 67 Enem 2022 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

Carregar prova completa Compartilhe essa resolução

Questão 67

Gênero (Sociologia)

TEXTO I

A primeira grande lei educacional do Brasil, de 1827 determinava que, nas "escolas de primeiras letras" do Império, meninos e meninas estudassem separados e tivessem currículos diferentes. No Senado, o Visconde de Cayru foi um dos defensores de que o currículo de matemática das garotas fosse o mais enxuto possível. Nas palavras dele, o "belo sexo" não tinha capacidade intelectual para ir muito longe: - Sobre as contas, são bastantes [para as meninas] as quatro espécies, que não estão fora do seu alcance e lhes podem ser de constante uso na vida.

TEXTO II

No Senado, o único a defender publicamente que as meninas tivessem, em matemática, um currículo idêntico ao dos meninos foi o Marquês de Santo Amaro (RJ). Ele argumentou: - Não me parece conforme, às luzes do tempo em que vivemos, deixarmos de facilitar às brasileiras a aquisição desses conhecimentos [mais aprofundados de matemática]. A oposição que se manifesta não pode nascer senão do arraigado e péssimo costume em que estavam os antigos, os quais nem queriam que suas filhas aprendessem a ler.

WESTIN, R. Senado Notícias. Disponível em: www12.senado.leg br. Acesso em: 20 out 2021 (adaptado).


Os discursos expressam pontos de vista divergentes respectivamente pela oposição entre



a)

liberdade de gênero e controle social.

b)

equidade de escolha e imposição cultural.

c)

dominação de corpos e igualdade humana.

d)

geração de oportunidade e restrição profissional.

e)

exclusão de competências e participação política.

Resolução

A questão pede para que se indique quais pontos de vista são expressos respectivamente pelos discursos descritos pelos textos. Cada um dos textos expõe uma visão divergente sobre o papel da mulher no cenário educacional brasileiro. No primeiro texto aborda-se a primeira grande lei brasileira relativa ä educação, datada de 1827, que definia espaços e currículos separados para o estudo de meninos e meninas. Destaca-se a posição do Visconde de Cayru, senador que defendia a tese de que as mulheres seriam incapazes de galgar degraus intelectuais mais altos, de forma que a matemática para além das quatro operações seria uma disciplina fora de seu alcance, por conta de incapacidade intelectual e da falta de aplicabilidade dos princípios matemáticos em sua vida cotidiana. Já o segundo texto apresenta uma visão divergente, a do Marquês de Santo Amaro, um senador que, nos debates sobre a legislação concernente à educação, defendeu que o mesmo currículo na disciplina de matemática fosse ensinado a meninos e meninas, argumentando que os preconceitos de gênero expostos por seus colegas parlamentares não condiziam com a época em que viviam e defendendo que essa exclusão das mulheres do espaço educacional provinha de costumes arraigados na sociedade brasileira.

a) Incorreta. O primeiro texto não aborda a liberdade de gênero, mas sim a concepção de que um gênero seria inferior ao outro; já em relação ao segundo excerto, não se defende o controle social, mas sim critica-se essa forma de dominação exercida sobre as mulheres na sociedade brasileira.

b) Incorreta. Como os argumentos descritos no primeiro excerto não defendem uma escolha equitativa, mas sim uma redução da amplitude das opções oferecidas às mulheres, a alternativa não se encaixa. Também se observa no segundo trecho uma crítica à imposição cultural que foi direcionada às mulheres, imposição essa simbolizada pela exclusão à educação básica, seja relativa à interdição ao acesso a princípios matemáticos mais sofisticados (que fossem além das quatro operações básicas) seja ligada à negação da alfabetização.  

c) Correta. A lógica de exclusão das mulheres no ensino de princípios mais sofisticados da matemática, como aparece no primeiro texto, implica em uma dinâmica de controle dos corpos; ou seja, a recusa, feita pela sociedade patriarcal brasileira, ao ensino avançado de mulheres implica em uma inferiorização intelectual do gênero feminino e a uma consequente dominação física, criando corpos dóceis por meio da interdição ao refinamento intelectual e à liberdade de pensamento. Nos argumentos apresentados no segundo excerto, transparece uma indignação do senador com o tratamento reservado tradicionalmente às mulheres na sociedade brasileira, o que o coloca como um defensor de uma maior igualdade de gênero, ou, utilizando os termos genéricos que a alternativa apresenta, uma maior igualdade humana.

d) Incorreta. Não se comenta sobre geração de oportunidades no texto I, mas sim sobre a restrição delas, já que aborda-se a defesa de uma visão sobre a mulher que a retira automaticamente do acesso a oportunidades diversas, pois o que se faz é estabelecer um papel fixo de gênero, com condições pré-determinadas de controle e submissão. Já o texto II não aborda necessariamente restrição profissional, não sendo um trecho que comenta sobre o mundo profissional especificamente. Comenta-se mais o princípio de acesso das mulheres a uma educação avançada, o que, logicamente, poderia gerar menos restrições profissionais.

e) Incorreta. O primeiro excerto aborda claramente uma visão de gênero que entende a mulher como um grupo que não possui algumas competências, como a incapacidade de aprender matemática para além da soma, subtração, divisão e multiplicação. Dessa forma, exclui-se o gênero feminino dessas competências, o que resulta numa afirmativa coerente da alternativa. Porém, o segundo texto não aborda em nenhum momento a possibilidade de participação politica das mulheres, restringindo-se a uma discussão sobre participação no sistema educacional e, de maneira mais ampla, na sociedade como um todo.