Sempre que a relevância do discurso entra em jogo, a questão torna-se política por definição, pois é o discurso que faz do homem um ser político. E tudo que os homens fazem, sabem ou experimentam só tem sentido na medida em que pode ser discutido. Haverá, talvez, verdades que ficam além da linguagem e que podem ser de grande relevância para o homem no singular, isto é, para o homem que, seja o que for, não é um ser político. Mas homens no plural, isto é, os homens que vivem e se movem e agem neste mundo, só podem experimentar o significado das coisas por poderem falar e ser inteligíveis entre si e consigo mesmos.
ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janetro. Forense Universitária, 2004.
No trecho, a filósofa Hannah Arendt mostra a importância da linguagem no processo de
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entendimento da cultura. |
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aumento da criatividade. |
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percepção da individualidade. |
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melhoria da técnica. |
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construção da sociabilidade. |
A pensadora alemã Hannah Arendt, grande nome da filosofia, da sociologia e da ciência política do século XXI, é influenciada por vários nomes do pensamento ocidental, entre eles estão os gregos, fundamentalmente Aristóteles. Assim, é compreensível que ela cite a importância da fala, e da linguagem no seu todo, na construção da sociabilidade.
a) Incorreta. Hannah Arendt mostra a importância da fala nos cenários políticos e, por isso mesmo, nos cenários sociais, nos jogos de poder e na construção das aproximações e distanciamentos. Dessa forma, o foco do trecho não é a cultura.
b) Incorreta. Em suas obras mais conhecidas, como "Eichmann em Jerusalém", "Origens do Totalitarismo" ou "A Condição Humana", assim como no trecho utilizado como base para a questão, a autora sempre elabora conceitos e traz reflexões para o campo da vida sócio-política, sem levar em consideração o debate (quase que pedagógico ou artístico) da linguagem como criatividade.
c) Incorreta. O pensamento da autora, em geral e no texto do enunciado, constrói-se a partir da ideia de comunidade, coletividade, grupalidade e sociabilidade, na medida em que faz considerações teóricas que deixam de abordar a linguagem como coisa individual ou meramente pessoal.
d) Incorreta. A técnica e seu avanço, inclusive no modus operandi do pensamento do século XXI, objetifica o ser humano. Umas das maneiras de frear ou reduzir esse triste fenômeno é a linguagem. Sendo assim, as reflexões da autora não condizem com o que descreve essa alternativa.
e) Correta. Sob as influências dos gregos, Hannah Arendt vê na linguagem a possibilidade de articular uma comunidade política capaz de frear a banalidade do mal e construir uma sociedade mais justa, aos moldes das teorias clássicas do "bem comum".