Leia o poema de Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, também conhecida como Marquesa de Alorna, para responder às questões de 03 a 06.
Retratar a tristeza em vão procura
Quem na vida um só pesar não sente,
Porque sempre vestígios de contente
Hão-de apar’cer por baixo da pintura:
Porém eu, infeliz, que a desventura
O mínimo prazer me não consente,
Em dizendo o que sinto, a mim somente,
Parece que compete esta figura.
Sinto o bárbaro efeito das mudanças,
Dos prazeres o mais cruel pesar,
Sinto do que perdi tristes lembranças;
Condenam-me a chorar, e a não chorar,
Sinto a perda total das esperanças,
E sinto-me morrer sem acabar.
(Marquesa de Alorna. Sonetos, 2007.)
Na primeira estrofe, o eu lírico explora, sobretudo, a seguinte oposição:
a) |
razão x loucura. |
b) |
abstração x concretude. |
c) |
essência x aparência. |
d) |
determinação x hesitação. |
e) |
consideração x indiferença. |
A estrofe discorre sobre a impossibilidade de simular um sentimento – a tristeza, no caso -, pois o verdadeiro estado de espírito acabaria por revelar-se: quem não sente pesares na vida (ou seja, não sofre), não consegue “retratar a tristeza”, visto que “por baixo da pintura” (aparência) irão sempre aparecer sinais de satisfação ("vestígios de contente").
Assim, verifica-se uma oposição entre a essência (o sentimento real da pessoa) e a aparência (a tentativa de forjar algo que não se sente), levando-nos à alternativa C.
Não há referência, na estrofe, às oposições apresentadas nas demais alternativas