Leia o trecho do livro O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano, do neurocientista português António Rosa Damásio, para responder às questões de 08 a 11.
O principal enfoque em O erro de Descartes é a relação entre emoção e razão. Baseado em meu estudo de pacientes neurológicos que apresentavam deficiências na tomada de decisão e distúrbios da emoção, construí a hipótese de que a emoção era parte integrante do processo de raciocínio e poderia auxiliar esse processo ao invés de, como se costumava supor, necessariamente perturbá-lo. Hoje em dia essa ideia já não causa espécie, mas na época em que a apresentei muita gente estranhou, e mesmo a recebeu com certo ceticismo. Tudo sopesado, a ideia, em grande medida, foi aceita e até, em certos casos, acolhida com tanta sofreguidão que acabou deturpada. Por exemplo, nunca afirmei que a emoção era um substituto para a razão, mas em algumas versões superficiais depreendia-se que minha ideia era que se você seguisse o coração em vez da razão tudo daria certo.
Na verdade, em certas ocasiões a emoção pode ser um substituto para a razão. O programa de ação emocional que denominamos medo pode afastar rapidamente do perigo a maioria dos seres humanos com pouca ou nenhuma ajuda da razão. Um esquilo ou um pássaro não pensa para reagir a uma ameaça, e o mesmo pode acontecer a um humano. Aí é que está a beleza no modo como a emoção tem funcionado no decorrer da evolução: ela abre a possibilidade de levar seres vivos a agir de maneira inteligente sem precisar pensar com inteligência. Acontece que, nos humanos, essa história tornou-se mais complexa, para o bem e para o mal. O raciocínio faz o que fazem as emoções, mas alcança o resultado conscientemente. O raciocínio nos dá a opção de pensar com inteligência antes de agir de maneira inteligente, e isso é bom: descobrimos que muitos dos problemas que encontramos em nosso complexo ambiente podem ser resolvidos apenas com emoções, porém não todos, e nestas ocasiões as soluções que a emoção oferece são, na realidade, contraproducentes.
Mas como evoluiu nas espécies complexas o sistema de raciocínio inteligente? A proposta inovadora em O erro de Descartes é que o sistema de raciocínio evoluiu como uma extensão do sistema emocional automático, com a emoção desempenhando vários papéis no processo de raciocínio.
(O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano, 2012. Adaptado.)
“Hoje em dia essa ideia já não causa espécie, mas na época em que a apresentei muita gente estranhou, e mesmo a recebeu com certo ceticismo.” (1o parágrafo)
No contexto em que se insere, o termo sublinhado indica
a) |
inclusão. |
b) |
concessão. |
c) |
condição. |
d) |
comparação. |
e) |
finalidade. |
Vale ressaltar, para o completo entendimento do texto de apoio e do enunciado da questão, que a expressão “causar espécie” pode ser entendida como “causar estranhamento”.
A alternativa A é a correta. O termo destacado indica inclusão por estar adicionando uma ideia a outra já expressa. A noção de “causar ceticismo” (ou seja, causar descrença/incredulidade) vem adicionada à ideia de que muita gente estranhou a proposição do autor e funciona como um desdobramento da primeira ideia. Nesse sentido, “mesmo” poderia ser substituído por “até”, sem que houvesse prejuízo do sentido, o que evidencia de maneira mais clara o caráter de inclusão do termo. Não é possível identificar, portanto, relações de concessão, condição, comparação ou finalidade entre as ideias apresentadas e ligadas pelo termo “mesmo”.