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Questão 2 Fuvest 2023 - 2ª fase - dia 2

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Questão 2

Segunda Revolução Industrial

“Os operários não deviam ser proibidos de pensar. Na época do velho, o mineiro vivia como um animal, enterrado na mina, sem se dar conta do que acontecia. Por isso os ricos podiam chupar o sangue dos operários. Mas esses já estavam acordando. No fundo da terra germinava uma semente, e um belo dia os homens brotariam da terra, um exército de homens que viria restabelecer a justiça. Desde a Revolução Francesa todos os cidadãos não eram considerados iguais?”

ZOLA, Émile. Germinal. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p.58-59.

Com base na leitura do excerto do romance naturalista Germinal publicado na França em 1885,

a) indique um tema presente no excerto.

b) cite dois elementos que evidenciem as mudanças em curso na condição dos operários.

c) exponha duas razões pelas quais a Revolução Francesa é mencionada na denúncia das injustiças.



Resolução

a) Dentre os assuntos presentes no excerto do romance Germinal (1885), marco do naturalismo francês escrito por Émile Zola (1840-1902), podem ser indicados: os avanços da indústria contidos no período da segunda metade do século XIX, mais especificamente durante a Segunda Revolução Industrial e o Segundo Império francês (1852-1870); a exploração da classe operária e a extrema desigualdade entre as classes; a organização do movimento operário, seja com sindicalização, seja por meio de movimentos como greves (uma greve é, inclusive, tema central na obra citada); as modificações filosóficas, políticas e sociais pelas quais a França passou nos séculos XVIII e XIX, como a noção de igualdade jurídica introduzida pela Revolução Francesa (1789-1799); uma esperança no fortalecimento da classe trabalhadora e na importância que teriam no futuro. 

b) Entre os elementos que podem ser elencados para expressar as mudanças em curso na situação dos trabalhadores estão: o avanço da mecanização na indústria, que resultou em aumento do desemprego e impulsionou formas de organização operária para se contrapor a essas situações; uma crescente discussão sobre as formas de organização de trabalhadores, seja por parte de teóricos políticos, de partidos ou de organizações sindicais; um aumento na pressão por medidas de regulamentação de jornada de trabalho e de leis trabalhistas; a circulação de novas ideias e propostas, seja em partidos e sindicatos, seja na imprensa ou em ambientes literários como o formado pelos autores naturalistas, que expuseram dinâmicas e assuntos até então não tratados pela literatura que pode ser chamada de burguesa; ecos do processo revolucionário francês, com noções de igualdade jurídica e discussões sobre maior igualdade social presentes; avanço dos movimentos internacionalistas, como o socialismo, o comunismo e o anarquismo, que trataram diretamente da questão operária, sendo que algumas vertentes entenderam os trabalhadores como atores centrais de processos de transformação histórica. 

c) Entre as razões que podem ser expostas para justificar a menção ä Revolução Francesa na denúncia das injustiças estão: o contexto histórico de eclosão do processo revolucionário, ou seja, uma França na qual o Antigo Regime era vigente, representando uma sociedade estamental com poucas chances de mobilidade e Estado absolutista, de forma que a revolução seria uma contraposição a um sistema entendido como injusto; as novas noções político-jurídicas trazidas pelo movimento, como a possibilidade de uma república, a igualdade jurídica, a recusa à sociedade estamental, a introdução de princípios jurídicos que tenderiam ao universal; a experiência radical do processo revolucionário, vigente durante a república jacobina, momento no qual os trabalhadores urbanos (sans-culottes) tiveram grande relevância e medidas ligados a uma maior possibilidade de igualdade social foram discutidas; ruptura que a Revolução Francesa trouxe com os resquícios do sistema feudal, de maneira que o trabalhador pós-revolução seria interpretado como um indivíduo pertencente a uma classe e não mais como um componente de uma lógica servil que, no caso dos camponeses, estaria intrinsecamente ligado à terra e aos proprietários.