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Questão 5 Fuvest 2023 - 2ª fase

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Questão 5

Interpretação de Textos antítese

Leia o texto e responda à questão:

 

Cê quer saber?

Então, vou te falar

Por que as pessoas sadias adoecem?

Bem alimentadas, ou não

Por que perecem?

Tudo está guardado na mente

O que você quer nem sempre condiz com o que outro sente

Eu tô falando é de atenção que dá colo ao coração

E faz marmanjo chorar

Se faltar um simples sorriso, às vezes, um olhar

Que se vem da pessoa errada, não conta

Amizade é importante, mas o amor escancara a tampa

E o que te faz feliz também provoca dor

A cadência do surdo no coro que se forjou

E aliás, cá pra nós, até o mais desandado

Dá um tempo na função, quando percebe que é amado

E as pessoas se olham e não se falam

Se esbarram na rua e se maltratam

Usam a desculpa de que nem

Cristo agradou Falô!

Cê vai querer mesmo se comparar com o Senhor?

 

As pessoas não são más, elas só estão perdidas

Ainda há tempo

Criolo. “Ainda há tempo”. 2016.

a) Transcreva dois versos da letra da canção que corroboram o título “Ainda há tempo”.

b) A letra da canção se constrói a partir de ideias antitéticas. Identifique e explique duas delas.



Resolução

a) O título “Ainda há tempo”, no contexto da letra da música de Criolo, parece evocar a possibilidade de que, mesmo numa situação adversa, sentimentos como atenção (“Eu tô falando é de atenção que dá colo ao coração”) e amor (“Amizade é importante, mas o amor escancara a tampa”) seriam capazes de gerar mudanças positivas na vida das pessoas. Então, o “tempo” seria o momento da mudança, enquanto o “ainda” seria a chance de que ela aconteça.

Sendo assim, a estrofe composta pelos versos “E aliás, cá pra nós, até o mais desandado/ Dá um tempo na função, quando percebe que é amado” demonstra tal ideia. O “desandado”, é aquele que desandou, os seja, que se desviou dos caminhos socialmente aceitos, ou das práticas éticas ou morais de seu tempo. Um criminoso, por exemplo, é um desandado. Enquanto dar um tempo significa interromper algo. Por sua vez, a “função” seria a atividade incongruente com as regras sociais vigentes, como um crime. Com isso, percebe-se que dar um tempo na função seria exatamente a mudança gerada pela percepção de ser amado. Em outras palavras, ainda há tempo, ou seja, ainda há mudança/esperança para que alguém às margens da sociedade, desde que tal indivíduo se sinta amado.

O verso “As pessoas não são más, elas só estão perdidas” também corrobora o título, afinal, na percepção do eu-lírico, ninguém é essencialmente ruim, as pessoas teriam um comportamento ruim por estarem perdidas, ou seja, desprovidas de atenção e de amor. Com isso, também há possibilidade de mudança para elas – ainda há tempo – desde que sejam amadas e recebam a atenção merecida.

b) As ideias antitéticas podem ser representadas a partir dos seguintes versos:

- “Por que as pessoas sadias adoecem?”; a oposição se dá entre saudabilidade e doença, uma vez que uma pessoa considerada “sadia” é aquela que não está doente. Contudo, o verso aproxima as duas noções apostas para discutir que a falta de atenção e de amor pode fazer com que alguém saudável passe por um processo de adoecimento.

- “E o que te faz feliz também provoca dor”; a oposição aqui é entre felicidade e dor, afinal se imputa à felicidade a ausência de dor, e se imputa à dor a ausência de felicidade. No entanto, o eu-lírico trabalha com a ideia de que o que faz alguém feliz também pode ser capaz de provocar a dor. Por exemplo, algo que gere satisfação/felicidade momentânea pode trazer prejuízos a longo prazo, como o consumo de alguma substância que traga prazer imediato, mas que provoque prejuízos paulatinos ao organismo humano.