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Questão 8 Fuvest 2023 - 2ª fase

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Questão 8

Romanceiro da Inconfidência

Leia os versos e responda à questão:

 

Ambição gera injustiça.

Injustiça, covardia.

Dos heróis martirizados

nunca se esquece a agonia.

Por horror ao sofrimento,

ao valor se renuncia.

 

E, à sombra de exemplos graves,

nascem gerações opressas.

Quem se mata em sonho, esforço,

mistérios, vigílias, pressas?

Quem confia nos amigos?

Quem acredita em promessas?

 

Que tempos medonhos chegam,

depois de tão dura prova?

Quem vai saber, no futuro,

o que se aprova ou reprova?

De que alma é que vai ser feita

essa humanidade nova?

Cecília Meireles – trecho final do “Romance LIX ou Da Reflexão dos Justos”, de Romanceiro da Inconfidência.

a) Como se articula a sequência ambição, injustiça e covardia – formada no poema – com o episódio fatal de Tiradentes?

b) A voz lírica interroga quais serão as consequências dos acontecimentos bárbaros da história sobre as novas gerações. Por que essa é uma reflexão dos justos?



Resolução

a) De acordo com os primeiros versos do poema, a ambição produz a injustiça que, por sua vez, gera a covardia. Esses termos se articulam, portanto, numa relação de causa e consequência. Considerando a história da Inconfidência Mineira narrada na obra, pode-se afirmar que a ambição está relacionada à febre do ouro despertada pela exploração do precioso minério das jazidas de Minas Gerais. A sociedade formada em torno da economia mineradora é marcada por violências e arbitrariedades cometidas, sobretudo, pela ganância da metrópole portuguesa contra a colônia. Os inconfidentes se insurgiram contra essa realidade e tencionavam derrubá-la, porém seu movimento foi descoberto e duramente perseguido; nesse ponto, muitas injustiças foram cometidas contra os revoltosos – falsas acusações, delações, encarceramento e condenações. Diante do horror, não foram poucos os que se acovardaram e se omitiram, traindo a própria causa pela qual lutavam e delatando antigos companheiros em benefício próprio. Em “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles constrói a figura de Tiradentes como a maior vítima dessa sequência, pois seus companheiros, acovardados diante das possíveis punições, o traíram e o apontaram como o mentor da revolta. Desse modo, o Alferes é alçado à condição de herói e mártir da pátria, pois foi o único que assumiu sua participação no movimento, tendo, por isso, sido condenado à morte por defender seus ideais de liberdade.

b) A reflexão apresentada pela voz lírica considera que as pessoas, recordando os sofrimentos dos heróis, renunciam ao heroísmo e ao valor, por medo de serem punidas. Diante desses graves exemplos, as novas gerações já nascem oprimidas, pois não têm referenciais heroicos e, com isso, naturalizam as injustiças e opressões. Além disso, essas novas gerações não terão referenciais morais e éticos, não cultivarão sonhos, não confiarão nos amigos nem nas promessas e, tampouco, saberão distinguir o que é o bem e o mal – “Quem vai saber, no futuro, o que se aprova ou reprova?”. Pode-se considerar que essa reflexão é feita pelos justos que, através de questionamentos e interrogações, expressam sua preocupação com a perda de referenciais éticos e modelos de heroísmo. Ao se questionar “de que alma é que vai ser feita essa humanidade nova?”, os justos demonstram que ainda atribuem importância aos valores heroicos e manifestam seus temores com relação às consequências que a perda desses valores poderá acarretar nos jovens.