“O voto feminino no Brasil completou 90 anos. Desde que a professora Celina Guimarães se alistou para votar em Mossoró, em 1927, e Alzira Soriano, primeira mulher eleita para um cargo público no país, assumiu a Prefeitura de Lajes, em 1929, ambos municípios do Rio Grande do Norte, muita coisa mudou. Em que pesem os avanços legais, o cenário nacional segue desfavorável, e a participação das mulheres na política ainda é irrisória considerando-se o perfil demográfico brasileiro. Mulheres somam 52% dos votantes, mas representam apenas 15% dos parlamentares do Congresso. A maioria da população feminina é negra, ao contrário da parlamentar, que é majoritariamente não negra. Indígena, apenas uma. Verdade que o percentual de participação feminina na Câmara e no Senado cresceu na comparação com legislaturas anteriores. Ainda assim, é pouco. Na prática, a política no Brasil é feita por homens brancos. Dados da União Interparlamentar, que reúne países ligados à ONU, colocam o Brasil na posição 145º do ranking Mulheres nos Parlamentos Nacionais. Numa nação onde em 2021 quatro mulheres foram vítimas de feminicídio por dia, e os casos de estupro voltaram a crescer, já passou da hora de usar a via democrática para tentar mudar esse cenário. É necessário que as mulheres assumam o protagonismo nesse pleito, reivindiquem cabeças de chapas majoritárias e exijam transparência na distribuição dos recursos do fundo partidário. Claro que não há garantias de transformação, mas pode ser uma bela oportunidade de ao menos dar uma sacolejada no jogo e incluir em pauta a discussão de alguns problemas reais do Brasil”.
ROSA, Ana Cristina. “Com mulheres na cabeça”. Folha de S. Paulo. 27.02.2022. Adaptado.
É correto afirmar que o cenário nacional ao qual se refere a autora do texto
a) |
dispôs equitativamente as legislaturas, ainda que sem afetar a participação das mulheres. |
b) |
sofreu um expressivo retrocesso quanto à participação das mulheres na política. |
c) |
alterou-se ao longo da história do Brasil, porém não consolidou significativamente a atuação das mulheres na política. |
d) |
adequou-se ao perfil demográfico brasileiro, embora sem alçar o país a boas posições nos rankings de mulheres na política. |
e) |
estruturou-se por meio de vias democráticas, visto que possibilitou a discussão de problemas relacionados a fundos partidários. |
a) Incorreta. A argumentação do texto visa justamente a demonstrar como não foi possível que as legislaturas pudessem ser dispostas de forma equitativa em relação à demografia nacional.
b) Incorreta. Ao contrário, no decorrer do texto, a autora aponta, com base em vários aspectos, que houve um avanço na participação das mulheres na política embora ainda insuficiente. O retrocesso apontado no texto não é relacionado à participação, mas ao número de estupros, que cresceu em 2021.
c) Correta. A fundamentação de Rosa demonstra que houve alterações positivas nos dados sobre a participação das mulheres na política como o percentual de crescimento no Senado. Entretanto, seu ponto central é indicar justamente como ainda é carente uma consolidação da atuação feminina, pois a representação é de apenas 15% no Congresso (mesmo que represente 52% dos votantes) e, também, porque o Brasil encontrar-se “na posição 145º do ranking Mulheres nos Parlamentos Nacionais”. Em razão desse cenário, ela finaliza o texto apontando a necessidade de que “as mulheres assumam o protagonismo” nessa área.
d) Incorreta. A autora indica exatamente o contrário, informando que as mulheres “somam 52% dos votantes”, e, mesmo assim, “representam apenas 15% dos parlamentares no Congresso”. Além disso, acentua que o país ocupa a posição 145º do ranking “Mulheres nos Parlamentos Nacionais”.
e) Incorreta. A autora não enfatiza que o cenário exposto se estruturou por meio de vias democráticas. Ela pede que a via democrática seja usada justamente para se “tentar mudar esse cenário”. Também não se pode afirmar que ela vincule as vias democráticas à discussão de problemas relacionados a fundos partidários. Sua demanda centra-se na exigência para a transparência dos já existentes recursos dos fundos partidários voltados para as candidaturas de mulheres.