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Questão 40 Fuvest 2023 - 1ª fase

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Questão 40

Processo de Independência do Brasil Independência da América Espanhola México (Independência) México no Século XX

“A Exposição Internacional do Centenário de 1922 no Rio de Janeiro constituiu uma versão brasileira grandiosa, embora anacrônica, das exposições do século XIX, destinadas a celebrar o ideal nacional. Para essa mostra o México enviou uma importante delegação, com farto material de exposição, tendo inclusive construído um pavilhão especial para abrigar seus produtos. José Vasconcelos (1881-1952), o filósofo e intelectual mexicano de maior destaque (...), chefiou a delegação mexicana. No final da exposição, o México deixou no Rio um Cuauhtémoc carioca olhando para a baía da Guanabara, e Vasconcelos partiu levando uma bagagem de mitos nacionais brasileiros (...)”.

TENORIO TRILLO, Mauricio. “Um Cuahtémoc Carioca: comemorando o Centenário da independência do Brasil e a raça cósmica”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 7, n. 14, 1994.


No ano seguinte à celebração do centenário da independência do México, o governo mexicano enviou ao Brasil uma delegação para participar dos festejos do centenário da independência brasileira e escolheu, para simbolizar seu país, a figura de Cuahtémoc, imperador asteca que morreu na luta de resistência contra os conquistadores espanhóis.

A partir do excerto, é correto atestar a seguinte semelhança entre os dois países: 



a)

A defesa da Revolução Mexicana e das ideias de supremacia indígena. 

b)

A valorização de símbolos nacionais e do conhecimento mútuo na América Latina. 

c)

O reconhecimento da superioridade do passado mexicano associado aos astecas. 

d)

A dissolução das identidades nacionais em favor das identidades continentais. 

e)

A rivalidade entre os países latino-americanos na forma de celebrar os Centenários.

Resolução

A questão toma como ponto de partida as comemorações dos centenários de dois processos de independência da América: a emancipação do México em relação à Espanha, concretizada em 1821 após uma deflagração da luta em 1810; e a do Brasil, firmada em 1822, como culminação de uma dinâmica já iniciada no Período Joanino (1808-1821). A partir disso, pode-se considerar o histórico da formação nacional e da construção identitária desses países; os significados do processo independentista cem anos após sua ocorrência; e as diferenças entre as emancipações da América Portuguesa e da América Hispânica.

a) Incorreta. Não é possível observar semelhanças entre os países no sentido de elaboração de uma defesa da Revolução Mexicana, processo iniciado em 1910, com forte presença de lideranças camponesas de origem indígena e que derrubou o presidente Porfírio Díaz, governante do México entre os anos de 1867 e 1911. Parte das reivindicações da revolução, como a reforma fundiária e a retomada das terras originariamente ocupadas pelos indígenas, foi contemplada pelo texto da Constituição Mexicana de 1917, embora não tenham sido implementadas de imediato. Também não é observável a presença de ideias a respeito de uma supremacia indígena. O que teve lugar foi a identificação do nativo como elemento construtor da identidade nacional, algo observável ns projetos nacionais de Brasil e México e em obras de intelectuais como o mexicano José Vasconcelos (1882-1959), citado nos textos presentes na questão e do bávaro Carl Friedrich von Martius (1794-1868), que, ao pesquisar ao Brasil, defendeu a composição da identidade nacional brasileira como um amálgama dos elementos brancos, negros e indígenas.

b) Correta. O texto fala sobre uma aproximação entre Brasil e México, no momento da comemoração do centenário de suas independências. Um ano após os cem anos da emancipação mexicana ter sido comemorada, uma delegação proveniente desse país teria visitado o Brasil no momento das comemorações do centenário independentista brasileiro. Essa aproximação indica um contato diplomático entre os países latino-americanos e também o esforço de se estabelecerem significados simbólicos a respeito da nação. A própria comemoração da independência torna-se um símbolo nacional, assim como o são os objetos trocados entre brasileiros e mexicanos. De maneira específica, é mencionada uma representação do asteca Cuahtémoc trazida ao Rio de Janeiro por José Vasconcelos, como se o histórico de luta desse imperador contra a colonização espanhola simbolizasse uma América Latina unida pela sua emancipação.

c) Incorreta. Embora o discurso nacional mexicano, desde o século XIX, traga de maneira destacada a figura dos astecas como elemento formador da nação, esse discurso não caminha para a defesa de uma superioridade do passado mexicano, momento em que os astecas governavam o território do México central. Elementos associados à cultura europeia também são valorizados, defendendo-se uma noção de culturas que foram transformadas pelo contato, inclusive com assimilação. Além disso, o discurso nacional do século XIX, que ecoa no século XX, é fortemente concentrado no futuro e na construção nacional do porvir, valorizando o passado sem expressar um saudosismo por seu retorno.

d) Incorreta. Nos eventos citados pela questão, não se advoga por uma união continental que dissolveria as identidades nacionais para construir uma identidade de toda a América, mas sim demonstra-se uma tentativa de aproximação diplomática, de conhecimento histórico sobre os diferentes países da América Latina e uma valorização mútua dos processos de independência, mas de forma que fosse possível reconhecer o que eles possuem de distinto, preservando, dessa forma, a noção de identidade nacional.

e) Incorreta. Não é perceptível uma competição entre os países latino-americanos na maneira escolhida de celebrar seus centenários, mas sim uma certa similitude na dinâmica de estabelecer uma comemoração oficial, com símbolos nacionais definidos e com o convite a delegações de outras nações como meio de estreitar os laços com os demais países latino-americanos.