“A Pólis apresenta-se como um universo homogêneo, sem hierarquia, sem planos diversos, sem diferenciação. (...) Segundo um ciclo regulamentado, a soberania passa de um grupo a outro, de um indivíduo a outro, de tal maneira que comandar e obedecer, em vez de se oporem como dois absolutos, tornam-se os dois termos inseparáveis de uma mesma relação reversível”.
VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro: Difel, 2002.
Sobre a noção de pólis expressa no texto, é correto afirmar que ela pressupõe
a) |
uma concepção excludente do poder político. |
b) |
uma oposição absoluta entre comando e obediência. |
c) |
um modelo político de democracia representativa. |
d) |
uma participação isonômica dos cidadãos. |
e) |
uma ausência de soberania no espaço cívico. |
a) Incorreta. Ao afirmar que o universo da Pólis era marcado pela homogeneidade, ausência de hierarquias e de diferenciação, o texto destoa de uma concepção excludente de poder político. Embora a ordem política grega tenha assumido configurações bastante diversas de acordo com o período e com a cidade-estado em questão, a noção expressa no excerto fornecido pelo exercício é incompatível com a ideia de exclusão.
b) Incorreta. Não é correto afirmar que a noção expressa no texto pressupõe uma oposição absoluta entre comando e obediência. Pelo contrário, o autor é explícito ao afirmar que "comandar e obedecer, em vez de se oporem como dois absolutos, toranam-se os dois termos inseparáveis de uma mesma relação reversível".
c) Incorreta. A democracia representativa consiste no exercício do poder político a partir da eleição de representantes que, legitimados por votação, possuem mandatos para atuar em nome daqueles que os elegeram. Tal formato não é mencionado no texto e tampouco condiz com a experiência grega de democracia, tendo em vista que esta pressupunha a participação direta dos cidadãos na Eclésia (assembléia). Tal modelo só era possível devido ao número relativamente diminuto de cidadãos dentro do universo total de habitantes da Pólis, pois excluía as mulheres, os escravos, os estrangeiros e os menores de idade do conceito de cidadania.
d) Correta. A noção de Pólis expressa no texto ressalta a soberania entre grupos e indivíduos, além da reversibilidade da relação estabelecida. Para exemplificar tal noção, podemos mencionar a democracia ateniense, que é sugestiva da preocupação dos gregos com o estabelecimento de uma ordem política em que todos os cidadãos podiam opinar e expressar suas opiniões pela lei, sujeitos ao debate e à aprovação dos demais. Os gregos consolidaram a noção de isonomia (igualdade diante da lei) na medida em que formularam regras e leis que atendiam a todos os cidadãos, princípios estes que ainda aparecem presente nos fundamentos das democracias contemporâneas.
e) Incorreta. É incorreto afirmar que não há soberania no espaço cívico, já que, segundo o texto, "a soberania passa de um grupo a outro, de um indivíduo a outro", ou seja, a autoridade estava presente nesse ciclo regulamentado. O regime político democrático de Atenas também pode ser mencionado como exemplar desse ciclo regulamentado, já que a Eclésia (assembleia) era composta pelo conjunto de cidadãos atenienses, todos equitativamente responsáveis pela proposição, discussão e deliberação dos assuntos pertinentes à vida pública da pólis. É justamente o dever compartilhado pelos cidadãos de Atenas que legitima a soberania exercida pela Eclésia e pelas demais instituições democráticas.