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Questão 5 Unicamp 2023 - 2ª fase - dia 1

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Questão 5

Intertextualidade e Interdiscursividade Pressupostos e Subentendidos Gêneros de Texto

 A palavra aporofobia, ainda não dicionarizada, é definida pela Academia Brasileira de Letras como:

s.f. repúdio, aversão ou desprezo pelos pobres ou desfavorecidos; hostilidade para com pessoas em situação de pobreza ou miséria.
[Do grego á-poros, ‘pobre, desamparado, sem recursos’ + -fobia.]
(Disponível em https://www.academia.org.br/nossa-lingua/nova-palavra/aporofobia. Acesso em 08/09/2022.)

Atualmente, a palavra tem sido usada para denunciar não só atitudes individuais, mas também arquiteturas, discursos e movimentos que expressem aversão aos mais pobres. Quando essa luta se espalhou pelas redes sociais, o Padre Júlio Lancellotti passou a usar o termo em suas falas e a receber imagens de situações aporofóbicas, trazendo luz a um debate até então invisível. Padre Júlio cita um exemplo: “Se o Gil do Vigor sentar lá na porta da vitrine de um shopping, alguém vai chamar a polícia para tirá-lo? Não, mas se for um catador de papel, ele nem vai entrar no shopping. O Gil é negro e o catador é negro. Por que um pode sentar e outro não?”
(Adaptado de BORGES, Thaís. ‘A gente banaliza a crueldade’, diz padre Júlio Lancellotti, sobre aversão a pobres. Correio 24horas. 22/01/2022.)

a) As imagens 1 e 2 denunciam formas de aporofobia. Diga qual o tipo de aporofobia em cada caso, recorrendo, em sua explicação, a elementos das imagens.

b) Você deseja se posicionar, nas suas redes sociais, a respeito da matéria. Assuma a voz do catador de papel envolvido na situação relatada e responda à pergunta do Padre Júlio Lancelotti. Esse texto deverá ter entre 40 e 50 palavras. Atenção: não copie trechos da matéria.



Resolução

a) Na imagem 1, o banco público foi projetado com divisórias que impedem as pessoas de se deitarem no local. Desse modo, verifica-se uma forma de aporofobia ligada à arquitetura urbana, já que o espaço em questão foi reconfigurado (tradicionalmente, esses bancos não possuem tais divisórias), a fim de que alguém em situação de rua não possa usá-lo para dormir. Já a imagem 2 expressa um discurso aporofóbico em um movimento coletivo, com uma campanha publicitária que procura convencer o leitor a não fazer doações a pessoas em situação de rua. Para tanto, recorre ao argumento de que tais ajudas levarão à manutenção dessa situação. Ignoram-se, assim, as necessidades imediatas de quem se encontra na miséria, o que pode ser interpretado como um ato de aporofobia.

b) Ao elaborar o texto, o candidato deve levar em consideração o suporte que será utilizado (uma rede social) seja na linguagem empregada, seja na estruturação da mensagem. Além disso, é necessário assumir a voz do catador de papel, empregando a primeira pessoa do discurso, que está respondendo à pergunta de Padre Júlio Lancelotti; para isso, é preciso contextualizar a situação descrita por Júlio Lancellotti, lembrando-se de não copiar trechos, mas parafraseá-los. Para responder à pergunta do padre, é possível explorar as imagens do catador de papel e do Gil do Vigor, seja na semelhança entre eles (ambos são negros), seja na diferença (Gil é uma celebridade, uma figura pública, famosa e rica, que, por isso, não sofreria com a aporofobia, diferentemente do catador). É importante mostrar, no texto, que não se trata, portanto, de racismo, mas do impedimento ao pobre de ter acesso a determinados ambientes. O candidato pode ir além da pergunta feita pelo Padre, trazendo outras situações de aporofobia que sejam condizentes ao contexto.