Logo UNICAMP

Questão 11 Unicamp 2023 - 1ª fase

Carregar prova completa Compartilhe essa resolução

Questão 11

Tarde

Ciclo

 

Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,

Promessa ardente, berço e liminar:

A árvore pulsa, no primeiro assomo

Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!

 

Dia. A flor, — o noivado e o beijo, como

Em perfumes um tálamo e um altar:

A árvore abre-se em riso, espera o pomo,

E canta à voz dos pássaros... Amar!

 

Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;

A árvore maternal levanta o fruto,

A hóstia da ideia em perfeição... Pensar!

 

Noite. Oh! saudade!...A dolorosa rama

Da árvore a aflita pelo chão derrama

As folhas, como lágrimas... Lembrar!”

(BILAC, Olavo. Tarde. 1.ed. Rio de Janeiro; São Paulo; Belo Horizonte: Libraria Francisco Alves, p. 12-13, 1919.)


No soneto “Ciclo”,



a)

a reiteração de um mesmo tipo de frase no final de cada estrofe acentua o idealismo e a rememoração.

b)

a metáfora da árvore faz uso de um vocabulário botânico, que evoca o cientificismo da época.

c)

as frases nominais do início das estrofes contradizem os sentidos de cada estrofe anterior.

d)

o paralelismo estrutural entre as estrofes de “Ciclo” evoca o desgaste dos recursos do poeta.

Resolução

a) Correta. O soneto reproduzido pode ser interpretado como uma representação das fases da vida do eu lírico, representadas pelos períodos de um dia. A repetição de uma mesma estrutura nos versos finais de cada estrofe (a descrição de uma cena ou sensação, seguida de um verbo que aparece em destaque após as reticências), então, acentua o idealismo e a rememoração na medida em que essa estratégia ajuda a construir uma progressão de ideias. Partindo do momento de “sonhar” e chegando ao de “lembrar”, o eu lírico reconstitui um percurso, de modo a caracterizá-lo inclusive como um modelo, ou uma idealização. Nesse sentido, as frases finais das estrofes destacam um percurso que une idealismo e rememoração.

b) Incorreta. Apesar de se valer da metáfora da árvore, o soneto não explora necessariamente um vocabulário que remeta ao cientificismo. Além disso, essa preocupação não se verifica na obra parnasiana, da qual Olavo Bilac foi um grande expoente.

c) Incorreta. Não é possível identificar uma contradição das frases nominais que iniciam as estrofes (“Manhã”, “Dia”, “Tarde” e “Noite”) e as ideias expressas nas estrofes imediatamente anteriores, justamente porque o que se percebe é, na realidade, uma progressão do conteúdo do soneto, sintetizada por essas frases iniciais de cada estrofe.

d) Incorreta. O paralelismo estrutural entre as estrofes não revela, absolutamente, o desgaste dos recursos do poeta. Tal estratégia demonstra, inclusive, uma das características mais marcantes da escrita de Bilac: a preocupação com a estrutura, a métrica e a composição estética dos seus versos.