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Questão 62 Unicamp 2023 - 1ª fase

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Questão 62

Ditadura Militar

“Como pode um povo vivo
Viver nesta carestia
Como poderei viver
Como poderei viver

Dia e noite, noite e dia
Com a barriga vazia
Como pode um operário
Viver com esse salário

Como pode a criançada
Estudar sem comer nada”

(“Programa oficial do lançamento geral do abaixo-assinado” do Movimento do Custo de Vida, 12/03/1978. Doc. 039_4. Fundo ECO_PRE, Centro Pastoral Vergueiro. Citado em: MONTEIRO, Thiago Nunes. Como pode um povo vivo viver nesta carestia: O Movimento do Custo de Vida em São Paulo (1973-1982). São Paulo: Humanitas, 2017.)


A letra acima foi utilizada pela campanha coordenada pelo Movimento Custo de Vida, iniciado por mulheres das periferias da cidade de São Paulo, em 1978. Sobre as lutas por melhores condições de vida durante a década de 1970 na ditadura militar (1964-85), é correto afirmar que



a)

o Movimento do Custo de Vida foi organizado para protestar contra as políticas econômicas e sociais da ditadura militar que provocavam o arrocho salarial e a inflação.

b)

diante da impossibilidade de fazer protestos de rua, o Movimento do Custo de Vida teve atuação por meio de letras de músicas de duplo sentido (para driblar a censura), veiculadas no rádio.

c)

após reunir cerca de 200 mil pessoas na Praça da Sé em São Paulo em 1978, o Movimento do Custo de Vida migrou para a luta armada como resposta à repressão.

d)

as Comunidades Eclesiais de Base, instaladas nas periferias das grandes cidades e onde começou o Movimento do Custo de Vida, foram desmanteladas em 1979.

Resolução

a) Correta. O Movimento do Custo de Vida (MCV) teve início a partir da articulação de mulheres humildes da Zona Sul de São Paulo, que se uniram para protestar contra a carestia de alimentos e de outros produtos essenciais. Diversas mulheres da periferia de São Paulo se organizaram no ano de 1973 no Clubes das Mães da Zona Sul e, com o apoio das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica (liderada na época pelo cardeal arcebispo de São Paulo dom Paulo Evaristo Arns), fundaram o MCV abordado no presente exercício. 
b) Incorreta. As estratégias de luta do MCV não consistiam na elaboração de letras de músicas de duplo sentido. Uma das principais ações do movimento foi a realização de uma ampla pesquisa dos trabalhadores sobre o custo de vida (com amostragem de duas mil casas), seguida da articulação de um abaixo-assinado que solicitava o congelamento de preços, o aumento de salários e a ampliação do número de creches e escolas. Esse documento reuniu 1,3 milhão de assinaturas e foi entregue simbolicamente em 1978 na Praça da Sé em São Paulo em um ato que reuniu aproximadamente 20 mil pessoas.
c) Incorreta. Embora o movimento tenha reunido um número considerável de pessoas na Praça da Sé em 1978, conforme exposto na alternativa B, é incorreto afirmar que o movimento migrou para a luta armada como resposta à repressão. A guerrilha (ou luta armada) foi realizada no Brasil por organizações como a Ação Libertadora Nacional (ALN), o Comando de Libertação Nacional (COLINA), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares).
d) Incorreta. As CEBs não foram desmanteladas em 1979, pelo contrário, existem até os dias atuais e originaram vários movimentos sociais. Vale ressaltar que tais comunidades surgiram no contexto da Ditadura Militar, quando alguns quadros do catolicismo buscavam uma reorganização da Igreja Católica com o intuito de enfatizar a mensagem cristã enquanto norteadora de ações para libertação de oprimidos. O objetivo dessas abordagens - como a Teologia da Libertação - era aproximar os ensinamentos católicos da realidade material e social dos miseráveis. Segundo Frei Betto, as CEBs são "grupos organizados em torno da paróquia rural ou urbana por iniciativa de leigos, padres ou bispos." Ainda segundo ele, esses religiosos são motivados pela fé e vivem em “comum-união em torno de seus problemas de sobrevivência, de moradia, de lutas por melhores condições de vida e anseios e esperanças libertadoras”. Desse modo, essas comunidades configuraram-se como um importante espaço de mudanças sociais e de oposição ao regime.