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Questão 5 Fuvest 2022 - 2ª fase - dia 2

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Questão 5

Brasil República República Velha

À medida que a construção prosseguia, Rondon iniciava a segunda fase do seu projeto: a crucial exploração das terras da bacia amazônica onde hoje está situado o estado de Rondônia, pois a linha telegráfica atravessaria aquelas terras. Essa era a região que incendiava a imaginação de Rondon e seus oficiais, e também a de muitos brasileiros das cidades costeiras. Era o Brasil desconhecido. (...) Na verdade, o projeto do telégrafo parecia dar muito mais satisfação a Rondon pela chance de explorar aquelas terras do que pela construção da linha telegráfica (...) Rondon planejou uma expedição em 1907 para descobrir a nascente do rio Juruena e fazer contato com os indígenas conhecidos como nambikwara.

DIACON, Todd A. Rondon: o marechal da floresta. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 32-33

a) Indique qual a importância da expansão da linha telegráfica no Brasil dessa época.
b) Explique o sentido da frase “Era o Brasil desconhecido”.
c) Caracterize a política indigenista desenvolvida por Cândido Rondon para “aquelas terras”.



Resolução

a) A importância da expansão da linha telegráfica se relaciona com a possibilidade de estabelecimento de uma rede de comunicações eficiente em um território tão extenso como o brasileiro. No caso específico da expedição de Cândido Rondon (1865-1958), abordada pelo texto, o projeto consistia em uma linha telegráfica que proporcionasse comunicação entre o Mato Grosso e regiões da bacia amazônica e o Rio de Janeiro, à época capital do Brasil. O telégrafo, aparelho que data de finais do século XVIII, foi utilizado intensamente no século XIX, em países como os Estados Unidos, que estavam passando por um acelerado processo de expansão territorial. No caso brasileiro e da expedição telegráfica de Rondon, a questão não era o de integrar novos territórios que haviam sido anexados ao país, mas sim permitir a comunicação com territórios ainda não explorados, o que significa, de uma certa maneira, garantir a presença do Estado e a possibilidade de comunicação com órgãos oficiais em regiões que ainda não contavam com essa ingerência.

b) A frase pode ser explicada a partir da abordagem que o texto estabelece sobre o sentimento do marechal Cândido Rondon e de pessoas que habitavam regiões mais próximas da costa: um fascínio por regiões do interior ainda não inteiramente exploradas, como trechos da bacia amazônica. Por não inteiramente exploradas pode-se entender localidades que ainda não possuíam presença massiva do Estado, sem vias de transporte e comunicações, habitadas por populações nativas que não necessariamente já haviam tido contato com o "homem branco". Ou seja, essa lógica de Brasil desconhecido - entenda-se desconhecido pelas autoridades oficiais - desperta tanto a curiosidade de exploradores quanto o surgimento de projetos de ocupação, exploração econômica e controle dessas regiões.

c) A política indigenista desenvolvida por Rondon possui como pontos iniciais sua atuação, ainda no final do século XIX, no estabelecimento de uma linha telegráfica entre Goiás e Mato Grosso, por meio da qual conseguiria uma via de comunicação entre a capital e um dos estados de mais difícil acesso à época, que era Mato Grosso. O futuro marechal assume a liderança da construção de linhas telegráficas em 1892, e, por trabalhar em regiões com presença de comunidades indígenas, Rondon precisou criar métodos de atuação que não colocassem seus empreendimentos em rotas de choque com os nativos. O trabalho na linha telegráfica matogrossense encerrou-se em 1906 e, a partir de 1907, Rondon passou a servir ao governo em uma expedição para levar o telégrafo a regiões da bacia amazônica, viagem essa que serviu de motivação para que sua equipe preparasse um estudo sobre a região e partisse, como ressalta o texto, em direção à nascente do Rio Juruena, fazendo contato com os indígenas nambikwara. Na década de 1910, após participar com o ex-presidente estadunidense Theodore Roosevelt de uma viagem pelos rios Paraguai e Amazonas, Rondon continuou o trabalho com o telégrafo, fazendo contato com diversos grupos nativos, mas agora os identificando e com um projeto de integração, o que começa a caracterizar o que podemos chamar de política indigenista. Esse projeto de integração representava uma visão paternalista e unilateral sobre as culturas nativas, apontando para uma cultura única inexistente entre esses povos. Porém, ao longo dos anos, e conforme realizava mais estudos e entrava em contato com diferentes povos, Cândido Rondon foi alterando as diretrizes de sua política indigenista, começando a defender direitos dos nativos, inclusive o de permanecer isolados. Essa fase do pensamento de Rondon ficou bastante expressa em sua atuação diante do Conselho Nacional de Proteção aos Índios, órgão responsável pelo delineamento da política indigenista do país, criado em 1939 e que atuava juntamente com o Serviço de Proteção ao Índio, instituição que também havia tido Rondon como seu presidente. Defendendo a possibilidade de terras demarcadas para os indígenas e uma garantia de proteção contra tentativas de invasão e tomada de seus territórios, Rondon foi também um defensor da criação do Parque Nacional do Xingu, que acabaria sendo a primeira reserva indígena do Brasil, criada no governo de Jânio Quadros, em 1961. A defesa do projeto feita por Rondon data do segundo governo de Getúlio Vargas, que ocorreu entre 1951 e 1954, mas o marechal faleceu em 1958, antes que o Parque Nacional do Xingu tivesse sido criado, com a participação de figuras como os sertanistas irmãos Villas-Bôas e o antropólogo Darcy Ribeiro