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Questão 1 Fuvest 2022 - 2ª fase - dia 2

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Questão 1

Desmatamento Poluição e interferências humanas

A extinção de espécies animais é causada principalmente pela destruição dos seus habitats, e uma das principais formas de evitar essa ameaça é o estabelecimento de áreas protegidas. A tabela fornece, para cada bioma terrestre brasileiro, as porcentagens de cobertura, em relação à sua área original, de ambientes utilizados pelo ser humano e de áreas protegidas, a porcentagem da fauna que se encontra ameaçada de extinção e a população humana.

1. MapBiomas (2021).
2. WWF factsheet: Unidades de Conservação no Brasil (2019).
3. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2018).
4. Censo IBGE (2010).

Considerando somente os dados fornecidos na tabela, responda:

a) Utilizando os eixos fornecidos na folha de resposta, construa um gráfico relacionando as porcentagens de ambientes utilizados pelo ser humano e de fauna ameaçada de extinção em todos os biomas brasileiros. Adicione ao gráfico uma reta que sintetize a tendência indicada pelos pontos.
b) Apresente duas razões que justifiquem por que a porcentagem de fauna ameaçada de extinção na Mata Atlântica é cerca de quatro vezes maior que na Amazônia.
c) É correto afirmar que a porcentagem de animais ameaçados de extinção tende a diminuir à medida que aumenta a porcentagem de áreas protegidas nos biomas brasileiros? Justifique a sua resposta utilizando duas evidências baseadas na proporção de ambientes utilizados pelo ser humano e/ou na população humana do bioma.



Resolução

a) 

A linha de tendência representa a curva de melhor ajuste (y = f(x)) para os pontos (x; y) destacados no gráfico, que foram obtidos pela coleta de dados sobre a porcentagem de ambientes utilizados pelo ser humano e sobre a porcentagem de fauna ameaçada de extinção. Note que a curva de melhor ajuste não passa, necessariamente, pelos pontos mostrados no gráfico, mas ela fica próxima aos pontos dados (“Teoria da Aproximação”).

b) A porcentagem de fauna ameaçada de extinção na Mata Atlântica é cerca de quatro vezes maior em relação ao domínio morfoclimático da Amazônia por dois motivos:

  1. Perda de habitat. A Mata Atlântica apresenta um remanescente de cobertura vegetal nativa de cerca de 12% (considerando apenas fragmentos maiores do que 3 hectares), enquanto a Floresta Amazônica apresenta um remanescente de cobertura vegetal nativa de cerca de 82%. Portanto, nota-se que a ecorregião da Mata Atlântica foi, ao longo dos séculos, extremamente ocupada e modificada, restando somente 1/10 de toda a área que ela originalmente ocupava antes da chegada dos portugueses à América. Devido à perda de habitat, que constitui uma das principais razões para a extinção de espécies atualmente, a Mata Atlântica apresenta uma maior porcentagem de fauna ameaçada de extinção.
  2. Fragmentação. Os remanescentes de floresta nativa da Mata Atlântica se apresentam pulverizados em milhares de fragmentos (Figura 1), muitos dos quais possuem uma área pequena demais para manter populações viáveis de espécies nativas dessa ecorregião. Já a Floresta Amazônica ainda possui imensas regiões cobertas por mata nativa, favorecendo a manutenção de populações com grande tamanho efetivo. A fragmentação leva à extinção de espécies devido à perda de variabilidade genética, uma consequência do pequeno número de indivíduos presentes nos fragmentos. Quanto menor for uma população, maior será o efeito da endogamia (cruzamentos entre indivíduos geneticamente próximos) e maior será o efeito da deriva genética, que causa a perda de alelos devido a flutuações aleatórias no tamanho populacional. Em virtude de uma baixa variabilidade genética, a capacidade adaptativa da população diminui, o que aumenta a taxa de mortalidade e diminui a taxa reprodutiva, culminando em populações cada vez menores e, por fim, na sua extinção.

Figura 1: Fragmentos de Mata Atlântica cercados por plantações de cana-de-açúcar. A maioria dos fragmentos possui menos do que 100 hectares de área. Fonte: Adriano Gambarini (https://rainforests.mongabay.com/mata-atlantica/).

Outras duas razões para o grande número de espécies ameaçadas de extinção na Mata Atlântica (e que poderiam ser citados como resposta), relacionadas à grande ocupação humana nas áreas nativas do bioma, são: a introdução de espécies exóticas e a exploração predatória dos recursos naturais da floresta.

c) Não. Conforme observado no gráfico construído como resposta ao item A, a porcentagem de animais ameaçados de extinção apresenta correlação com a porcentagens de ambientes utilizados pelo ser humano e não com a porcentagem de áreas protegidas. Portanto, quanto maior a área do bioma ocupada por populações humanas e quanto maior o número de indivíduos vivendo nesses locais, maior o número de espécies ameaçadas (pelos motivos apresentados no item B). Para que a porcentagem de áreas protegidas nos biomas brasileiros se refletisse em diminuição de espécies ameaçadas de extinção, a extensão das áreas protegidas por lei e a fiscalização teriam que ser muito maiores do que o verificado atualmente. Por exemplo, apenas 9,5% e 28% das matas nativas da Mata Atlântica e da Amazônia, respectivamente, estão sob proteção em unidades de conservação.