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Questão 4 Fuvest 2022 - 2ª fase

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Questão 4

metáfora Interpretação de Textos

Existe o Rio de Janeiro, o Rio de Janeiro e o Rio de Janeiro. O primeiro Rio é aquele que ainda anseia por lpanemas perdidas, de um tempo em que os amores eram recatados e silenciosos, o povo sorridente e polido, a água do mar cristalina e tépida e a música suave e gingada. O segundo Rio é a terra de ninguém, trombeteada nos noticiários de TV, em que cada esquina é um Vietnã ou Iraque e não há lugar seguro para correr. Uma cidade de favelas que cercam os redutos de cidadania, favelas dominadas por traficantes e demais bandidos que cada vez mais transbordam para o asfalto a sua violência. Mas há ainda um terceiro Rio de Janeiro. Aquele de quem anda de ônibus, compra nas bancas os jornais populares, zanza pelo camelódromo, permite-se um churrasquinho de gato com cerveja na esquina e sabe que existem muitos matizes entre o preto e o branco, a favela e o asfalto, a lei e o crime. Cidade de pessoas que, seja qual for a cor e a classe social, andam pra lá e pra cá com celulares, rádios minúsculos, CDs piratas ou não e DVDs idem. E uma cidade que pode ir do samba de roda ao techno music, da umbanda ao padre pop, do grito para a casa da vizinha à internet num microinstante. É o Rio de Janeiro que, musicalmente, não cabe mais no compasso da bossa nova – por mais que alguns tenham tentado aditivar eletronicamente o seu balanço – e nem no chamado samba de raiz, cultuado por setores jovens da classe média, mas definitivamente trocado pela grande massa pelo flexivel pagode romântico, que assume sem preconceitos as formas úteis de toda a música popular, seja ela o rock, o sertanejo, o pop negro americano.

Silvio Essinger. Batidão. Uma história do Funk. Rio de Janeiro: Record, 2005. Adaptado.

a) Aponte a figura de linguagem utilizada para descrever o "segundo Rio" e explique como o seu uso contribui para a caracterização em curso no texto.

b) Com base no texto, explique em que consiste o "terceiro Rio de Janeiro".



Resolução

No texto da questão, apresenta-se a existência de três Rios de Janeiro, os quais são descritos para o leitor, enfatizando-se o terceiro tipo.

a) A figura de linguagem predominante na construção do segundo Rio de Janeiro é a metáfora, pois o autor utiliza-se de uma sequência de atribuições figurativas diretas que constroem uma imagem a respeito da cidade, a saber, de que é “terra de ninguém”, de “que cada esquina é um Vietnã ou Iraque”. O uso dessa figura contribui para a caracterização da cidade conforme difundido em noticiários nacionais, nos quais se enfatiza o caráter violento ali presente. Nesse sentido, afirmar que se trata de “uma terra de ninguém” contribui para retratar um lugar incivilizado e sem leis, nos quais impera a desordem. Por sua vez, a aproximação das imagens do Vietnã e do Iraque, remete a contextos de guerra - no conhecimento popular -, nos quais se observa a ausência plena de segurança, o desamparo e a vulnerabilidade. Na sequência textual, a metaforização dessas imagens cria um contraste em relação ao primeiro Rio de Janeiro - mais romanesco e boêmio - e o terceiro - mais realístico e tangível.

b) O terceiro Rio de Janeiro, segundo o texto, corresponde à cidade mais real, múltipla, cotidiana e experienciada pelos moradores em sua maior parte. Trata-se de um Rio de Janeiro vivenciado pelos que utilizam o transporte público, frequentam os lugares comuns como o “camelódromo”, consomem as comidas mais simples como “um churrasquinho de gato com cerveja”, ou seja, os moradores da cidade que não pertencem à elite ou fazem parte do grupo de turistas. Além disso, pode-se dizer que é uma cidade que contempla a diversidade cultural, pois pode ir “do samba de roda ao techno music”, da “umbanda ao padre pop”. Por fim, é a cidade que se encontra entre os dois outros Rios de Janeiro: o segundo, dos noticiários, e o primeiro, histórico e apresentado para o turismo.