Logo FUVEST

Questão 6 Fuvest 2022 - 2ª fase

Carregar prova completa Compartilhe essa resolução

Questão 6

textos jornalísticos

A crise atual no mundo – no Oriente Médio, em Israel e na Palestina – não diz respeito aos valores do Islã. Não diz respeito, de jeito algum, à mentalidade dos árabes, como querem alguns racitas. Diz respeito à luta antiga entre fanatismo e pragmatismo. Entre fanatismo e pluralismo. Entre fanatismo e tolerância. O 11 de setembro não tem a ver nem mesmo com a questão de se a América é boa ou má, se o capitalismo é ameaçador ou transparente, se a globalização deveria cessar ou não. Diz respeito, isto sim, à reivindicação típica dos fanáticos: se julgo algo mau, elimino-o, junto com seus vizinhos. (...) Minha própria infância em Jerusalém tornou-me um especialista em fanatismo comparado. Jerusalém da minha infância, lá pelos idos dos anos 1940, era cheia de profetas espontâneos, Redentores e Messias. Mesmo atualmente, cada um dos jerosolimitanos tem sua fórmula pessoal de salvação instantânea. Todos dizem que vieram a Jerusalém – e aqui cito uma frase famosa de uma velha canção – para construí-la e para serem construidos por ela. De fato, alguns deles e algumas delas, judeus, cristãos e muçulmanos, realmente vieram a Jerusalém não tanto para construí-la, para serem construídos por ela, mas antes para serem crucificados, ou para crucificar outros, ou ambas as coisas. Há um transtorno mental reconhecido, uma doença mental designada "sindrome de Jerusalém": as pessoas vão pra Jerusalém, inalam o maravilhoso ar transparente da montanha e, em seguida, repentinamente, inflamam-se e põem fogo numa mesquita, numa igreja ou sinagoga. Ou, de outra forma, tiram as roupas, sobem numa pedra e começam a profetizar. Ninguém escuta, jamais.

Amós Oz. Contra o fanatismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

a) Como a "síndrome de Jerusalém" pode ser relacionada à "reivindicação tipica dos fanáticos"?

b) As duas ocorrências da palavra "transparente" apresentam o mesmo sentido no texto? Justifique.



Resolução

a) De acordo com o texto de apoio, a “reivindicação típica dos fanáticos” se revela a partir de uma intolerância premente: “se julgo algo mau, elimino-o, junto com seus vizinhos”. Essa visão, ainda segundo o autor, é a responsável por instaurar o preconceito que se tem em relação aos árabes mundo afora, uma vez que todo árabe é potencialmente visto como um fanático. Em relação à “síndrome de Jerusalém”, o autor explica que parece haver uma predisposição das pessoas que vão a Jerusalém para se sacrificarem ou sacrificarem os outros. Nesse sentido, a “síndrome” seria caracterizada pela ação de pessoas que, ainda que imbuídas das melhores intenções, passariam por uma transformação que as tornariam fanáticas, ou seja, ao pisar em Jerusalém com a intenção de construí-la e de se construírem a partir dela, seriam tomadas pela vontade de pôr fogo numa mesquita, igreja ou sinagoga, por exemplo. A associação entre essa ação e o fanatismo, então, fica clara: a síndrome descreve pessoas que, ao visitarem Jerusalém, deixam-se tomar pelo fanatismo, intolerante e intransigente.

b) A palavra “transparente” apresenta significados diferentes em suas duas ocorrências no texto. Na primeira delas, em “se o capitalismo é ameaçador ou transparente”, nota-se que o termo foi usado em seu sentido figurado, significando “claro, justo, com regras bem definidas”. Já na segunda ocorrência, "inalam o maravilhoso ar transparente da montanha"o termo foi empregado de maneira mais próxima ao seu sentido literal, significando “puro, sem poluição”.