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Questão 5 Unicamp 2022 - 2ª fase - dia 2

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Questão 5

Guerra Fria

Trinta anos atrás, um muro veio abaixo, marcando o início do que parecia ser uma nova era de abertura e internacionalismo. Em 1987, o presidente Ronald Reagan foi ao Portão de Brandemburgo, na Berlim dividida, e desafiou seu homólogo na União Soviética: “Sr. Gorbachev, derrube este muro!”. Dois anos depois, o muro caiu. Berlim, a Alemanha e, por fim, a Europa estavam unidos de novo. Nos últimos anos, o apelo “Derrube este muro!” tem perdido para a “mentalidade de fortaleza”. Pelo menos 65 países, mais de um terço dos Estados-nações do planeta, construíram barreiras ao longo de seus limites; metade das que foram erigidas desde a Segunda Guerra Mundial surgiram entre 2000 e agora.

(Adaptado de Tim Marshall, A era dos muros. Rio de Janeiro: Zahar, 2018, p. 4-6.)

A partir do texto e de seus conhecimentos, responda:

a) Cite e explique duas características de “Berlim dividida”.

b) Explique o sentido e as causas da “mentalidade de fortaleza” que, para o autor, tem imperado no mundo. Cite dois exemplos que ilustrem a “mentalidade de fortaleza”.



Resolução

a) O termo "Berlim Divida" se refere à condição da antiga capital Alemã durante a Guerra Fria, fracionada em duas áreas bastante distintas: Berlim Ocidental, parte da cidade alinhada aos Estados Unidos na Guerra Fria, e Berlim Oriental, porção vinculada ao bloco socialista soviético. Ambas as partes da cidade estavam encravadas em meio a Alemanha Oriental, fazendo de Berlim Ocidental uma verdadeira ilha dos princípios associados ao mundo ocidental num país socialista. Ademais, também é possível citar como característica o discrepante modelo econômico de cada área, sendo a parte ocidental vinculada ao modelo capitalista de livre mercado, recebendo amplos investimentos das potências capitalistas, enquanto Berlim Oriental se encontrava associada à economia planificada típica do socialismo real. Outro ponto apropriado para menção e análise seria a tendência migratória estabelecida dos habitantes da parte Oriental para a parte Ocidental da cidade, buscando usufruir da maior liberdade e de melhores condições de vida naquela região. Sobre tal fenômeno, vale lembrar que o próprio Muro de Berlim fora erigido como parte do esforço do governo da Alemanha Oriental em encerrar tal fluxo migratório. Destaca-se também o fato de Berlim Ocidental ser abastecida basicamente por meios aéreos por longos períodos, estratégia adotada ainda na segunda metade dos anos de 1940, após um bloqueio imposto pelo governo Oriental num esforço de falência econômica da porção ocidental.

b) O termo “mentalidade de fortaleza” se vincula à emergência de contextos geopolíticos da Nova Ordem Mundial – e, portanto, desde 1991 – que favorecem a disseminação de barreiras físicas entre as fronteiras territoriais de vários Estados-nação. As causas dessa realidade são notadamente atreladas a conflitos étnicos-culturais e a novas formas de nacionalismo que se impõem por meio de muros, cercas e grades frente ao movimento migratório de populações constituídas por refugiados de guerra e desastres, além daqueles que se deslocam para conseguir melhores oportunidades de emprego e renda em outros países.

Exemplos dessas “fortalezas” são:

  • os muros da Cisjordânia, que segregam palestinos e judeus no Oriente Médio devido a rivalidades e confrontos historicamente travados em seus territórios;
  • o muro de Ceuta, que divide os territórios de Espanha e Marrocos e se apresenta como barreira à migração de várias populações africanas em direção ao sul da Europa;
  • os muros, cercas e grades das fronteiras terrestres de Estados Unidos e México, barreiras físicas que dificultam a passagem de migrantes latinos em busca de melhores condições de vida na América Anglo-Saxônica;

É válido ainda citar as novas barreiras legislativas que emergem por meio de exigências cada vez mais rígidas de determinados Estados frente a pedidos de asilo ou refúgio por parte de migrantes; e também manifestações xenofóbicas de grupos nacionalistas de países desenvolvidos contra árabes, etnias africanas e latinos que impedem o acolhimento e inclusão desses povos nos territórios para os quais se destinam.