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Questão 24 Unesp 2022 - 2ª fase

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Questão 24

Segundo Reinado

Os periódicos que circulavam no Brasil durante o Segundo Reinado (1840-1889) eram



a)

voltados à cobertura de questões e debates religiosos, uma vez que a maior parte da imprensa mantinha vínculo direto com a Igreja.

b)

editados no Rio de Janeiro e distribuídos, por meio fluvial ou marítimo, apenas para as capitais provinciais do país.

c)

provenientes de Portugal e se valiam da identidade linguística e de um público que já se habituara a eles desde os tempos da colônia.

d)

controlados estritamente pela Coroa, que censurava as publicações e impedia a divulgação de notícias contrárias ao regime ou ao imperador.

e)

publicados sobretudo pelos setores brancos hegemônicos, com a presença de alguns jornais escritos por negros e dedicados aos negros.

Resolução

A imprensa brasileira se iniciou ainda no Período Joanino quando em 1808 foi criada a Imprensa Régia. Anteriormente a isso, a população brasileira só possuía acesso a materiais importados, não havendo licença para a impressão de jornais na colônia. Até 1821, quando Portugal - pós-Revolução Liberal do Porto - alterou suas regras relativas à liberdade de imprensa, havia forte censura nas publicações que circulavam no Brasil, tanto com censura prévia quanto com restrição de circulação. Até materiais produzidos em outras localidades e que se referiam à realidade brasileira, como o Correio Braziliense (impresso em Londres), ao chegar à colônia sofriam censura. Com o país independente, a imprensa passou a ter um papel fundamental no debate político e na construção de um espaço público de discussões. Jornalistas críticos da administração imperial de D. Pedro I foram perseguidos e jornais sofreram represálias. O caso mais notório foi o de Líbero Badaró, jornalista opositor de D. Pedro I assassinado em 1830. Durante o Segundo Reinado, período abordado na questão, houve um rico debate político por meio da imprensa, com setores e publicações manifestando críticas e apoios ao governo imperial. Houve também tentativas de ampliar a discussão de questões sociais prementes, como a desigualdade racial e a escravidão. É importante lembrarmos que a imprensa não era responsável apenas por veicular notícias, mas também por ser um espaço de divulgação publicitária, de entretenimento e de cultura, publicando, por exemplo, folhetins e críticas de peças de teatro, concertos e livros.

a) Incorreta. A maior parte da imprensa, ao longo do Segundo Reinado, não possuía essa ligação direta com a Igreja Católica, o que não leva as publicações a se dedicarem apenas a questões relacionadas a temas religiosos. Quando a imprensa brasileira surge, a Igreja possuía poder de censura sobre as publicações, o que sofre alterações ao longo do tempo, tanto pela mudança na estrutura da imprensa quanto por modificações políticas, como a Constituição portuguesa após a Revolução do Porto e a Constituição do Império Brasileiro, de 1824. Porém, não podemos deixar de considerar o importante papel que a Igreja Católica exercia sobre a realidade brasileira, sendo majoritária e consagrada como religião oficial do país, o que impacta em um grau relevante o posicionamento da imprensa.

b) Incorreta. Embora o Rio de Janeiro, a capital imperial, fosse um importante centro de produção e distribuição de jornais e periódicos, não era a totalidade da imprensa que lá era editada. Outras províncias poderiam realizar esse processo, ou até mesmo países estrangeiros poderiam participar da edição e distribuição, sendo que a distribuição também poderia ser feita por vias terrestres (usando ferrovias e tendo pontos de venda em estações de trem, por exemplo), e não apenas aquáticas, permitindo que se atingisse, mesmo que de maneira irregular, o interior das províncias, e não apenas suas capitais.

c) Incorreta. As publicações que circulavam durante o Segundo Reinado não eram provenientes apenas de Portugal e, mesmo havendo essa identidade linguística entre a ex-metrópole e a ex-colônia, os jornais e periódicos não atendiam apenas ao público lusófono, mas também a pessoas que liam em outras línguas e se interessavam pelo cenário cultural de outros países europeus, como a França. A intensa francofonia e francofilia presentes no Brasil durante o século XIX deixam clara uma demanda por publicações em língua francesa, por exemplo.

d) Incorreta. O controle por parte da Coroa foi intenso, especialmente durante o Período Joanino. Porém, alterações de regras relativas à liberdade de imprensa e à censura foram ocorrendo e, quando se chega ao Segundo Reinado, o debate político é mais amplo, permitindo que haja algum nível de diversidade de opiniões no cenário. A imprensa torna-se um dos principais veículos para o debate público. Essa diversidade inclui apoio e crítica ao governo imperial. São notáveis, por exemplo, as ferrenhas críticas publicadas em jornais e revistas ilustradas por figuras como Ângelo Agostini (1843-1910), artista ítalo-brasileiro autor de famosas charges, como a que mostra o imperador dormindo com um jornal lançado ao colo, ou seja, letárgico em relação à agitação do país.

e) Correta. Mesmo havendo uma certa multiplicidade de posicionamentos políticos na imprensa da época, a imensa maioria dos proprietários de jornais e de jornalistas eram oriundos de setores da sociedade branca, fossem ligados à tradicional classe latifundiária, fossem membros de uma elite social urbana ou intelectuais com formação superior. Isso não impediu, porém, que surgissem publicações destinadas a debater questões sociais próprias de outros grupos. Nesse contexto, notabilizou-se a chamada Imprensa Negra, cujo marco inicial foi o jornal O Homem de Cor, fundado em 1833, por Francisco de Paula Brito (1809-1861). Discutindo problemáticas ligadas à escravidão, à abolição e à inclusão social dos indíviduos negros brasileiros, essas publicações foram importantes não apenas durante o Segundo Reinado, mas também no pós-abolição, chegando até o século XX. Figuras notáveis na crítica à escravidão, como Luís Gama (1830-1882), utilizaram a imprensa como forma de divulgação de sua luta social. O próprio Machado de Assis (1839-1908), escritor negro que talvez seja o mais notório de nossas letras, iniciou sua carreira como tipógrafo, revisando textos para o periódico de Francisco de Paula Brito.