Texto 1
A crítica não se opõe ao procedimento dogmático da razão no seu conhecimento puro […], mas sim ao dogmatismo […], apoiado em princípios, como os que a razão desde há muito aplica, sem se informar como e com que direito os alcançou. O dogmatismo é, pois, o procedimento dogmático da razão sem uma crítica prévia da sua própria capacidade.
(Immanuel Kant. Crítica da razão pura, 2018.)
Texto 2
Os questionamentos céticos de Hume abalaram profundamente Kant, que visava empreender uma defesa do racionalismo contra o empirismo cético e acabou por elaborar uma filosofia que caracterizou como racionalismo crítico, pretendendo precisamente superar a dicotomia entre racionalismo e empirismo.
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2010. Adaptado.)
Os textos explicitam a noção de “crítica”, que corresponde, na filosofia kantiana,
a) |
à defesa da dúvida metódica. |
b) |
à impossibilidade do conhecimento científico. |
c) |
ao exame dos limites da compreensão. |
d) |
à recusa de elementos transcendentais. |
e) |
ao estabelecimento das bases da experimentação. |
a) Incorreta. A questão aqui aborda a tentativa de Immanuel Kant (1724-1804) de estabelecer uma relação entre o empirismo inglês, representado por David Hume (1711-1776), e o racionalismo de René Descartes (1596-1650), cujo método de análise principal era a chamada "dúvida metódica". Kant considerava o empirismo uma doutrina que teria como consequência o ceticismo, pois todas as sínteses surgiriam "a posteriori" e isso levaria à constante necessidade de verificação. Já em relação ao racionalismo, acreditava que ele teria como consequência o dogmatismo, pois esses princípios seriam sempre construídos "a priori", fato que dificultaria o avanço do pensamento, pois eles ficariam presos meramente a razão. É nesse sentido que o pensamento kantiano não está vinculado à defesa da dúvida metódica, um princípio que na verdade é cartesiano.
b) Incorreta. O pensamento kantiano não apregoa a impossibilidade do conhecimento. Na verdade sistematiza o pensamento científico, cujas bases estavam em pensadores anteriores, tais como Galileu e Copérnico, fazendo uma "filosofia da ciência".
c) Correta. Kant, ao analizar os limites das visões racionalistas e empiristas de conhecimento chegou a um juízo do tipo "analítico a posteriori ". Mas, para isso, precisou investigar os limites da razão, como está sublinhado no prefácio da Crítica da Razão Pura.
d) Incorreta. A filosofia de Kant é conhecida como "criticista" ou "filosofia transcendental", nesse sentido não há a recusa desses elementos.
e) Incorreta. A ideia de experimentação está ligada ao empirismo e Kant na verdade aborda os limites desse estilo de pensamento, cujas bases estavam em David Hume e John Locke.