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Questão 1 Fuvest 2022 - 1ª fase

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Questão 1

Herança Ligada ao Sexo Regiões brasileiras (Milton Santos)

A deficiência na enzima G6PD é uma condição recessiva ligada ao cromossomo X, que pode ser diagnosticada no teste do pezinho expandido. Pessoas com deficiência nesta enzima são suscetíveis à anemia hemolítica ao serem expostas à cloroquina ou primaquina, drogas amplamente prescritas por médicos no tratamento da malária. No Brasil, a prevalência de deficiência em G6PD na população geral varia de acordo com as áreas mostradas no mapa:

Dombrowski, J G et al. (2017), Malar J, 16:253, doi:10.1186/s12936-017- 1889-6 e Monteiro, W M et al. (2014), Mem Inst Oswaldo Cruz, 109:5, 553- 568, doi:10.1590/0074-0276140123. Adaptados.

 

 

 

Indique a afirmação correta sobre a segurança da prescrição de cloroquina nesse contexto. 



a)

Não é necessário fazer o teste do pezinho expandido em filhos de casais da região Nordeste do Brasil que apresentem deficiência da G6PD, já que menos de 3% dos testes serão positivos.

b)

Aproximadamente 8,5 milhões de pessoas da região Centro-Oeste do Brasil têm somente um alelo recessivo para a deficiência em G6PD, sendo assintomáticas. 

c)

Cerca de 900 mil pessoas da região Norte do Brasil podem desenvolver anemia hemolítica devido ao tratamento com cloroquina, sendo a maioria do sexo masculino. 

d)

Descendentes de casais que não apresentam deficiência em G6PD têm mais de 25% de chance de possuírem o alelo recessivo e podem ser tratados com cloroquina em áreas onde a malária não seja endêmica. 

e)

Os pacientes do sexo masculino devem ser investigados quanto à presença de anemia hemolítica na família paterna caso vivam em regiões onde a malária é endêmica.

Resolução

Para a resolução da questão são necessários conhecimentos de Geografia para determinação da localização das regiões do Brasil e de Genética sobre doença genética com herança recessiva ligada ao sexo. A deficiência na enzima G6PD é uma condição recessiva ligada ao cromossomo X, que pode ser diagnosticada no teste do pezinho expandido. Segundo o enunciado, pessoas com deficiência nesta enzima são suscetíveis à anemia hemolítica ao serem expostas à cloroquina ou primaquina, drogas amplamente prescritas por médicos no tratamento da malária.
A prevalência é a proporção ou porcentagem de indivíduos de uma população que são afetados por uma doença em determinado momento. O gráfico indica que a prevalência da deficiência na enzima G6PD na população varia em diferentes regiões do Brasil, sendo que, é possível determinar valores de 1% na região Centro-Oeste e parte do Sudeste, 3% em parte do Nordeste, do Sudeste e do Sul e 5% na região Norte. Quanto maior a prevalência da deficiência dessa enzima maior o risco de anemia hemolítica com o uso de cloroquina, medicamento geralmente utilizado para o tratamento da malária, que é uma doença endêmica da região Norte do Brasil.

As doenças de herança recessiva ligada ao cromossomo X afetam homens e mulheres, mas são mais frequentes no sexo masculino já que apenas uma cópia do alelo mutante é suficiente para que o indivíduo manifeste a doença. No sexo masculino, a pessoa com deficiência na enzima G6PD possui o genótipo XaY, enquanto as mulheres afetadas pela doença possuem o alelo recessivo em homozigose, com genótipo XaXa. O gene da G6PD está localizado no cromossomo X e exibe uma grande quantidade de variação (polimorfismo), resultando em uma gama de atividade de G6PD de normal a gravemente deficiente. A deficiência de G6PD é o distúrbio mais comum do metabolismo dos eritrócitos e como o gene está ligado ao cromossomo X, os homens têm mais probabilidade de apresentar hemólise com repercussão clínica, embora as mulheres homozigóticas ou heterozigóticas com inativação do X funcional também possam ser atingidas.

Fonte: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por-hem%C3%B3lise/defici%C3%AAncia-de-glicose-6-fosfato-desidrogenase-g6pd. Acesso em: 12 dez 2021.

a) Incorreta. Os casais que apresentarem deficiência da enzima G6PD terão os genótipos XaY (pai) e XaXa (mãe) e todos os descendentes de ambos os sexos seriam deficientes para essa enzima. Assim, o valor de 3% dos testes positivos é incorreto, já que seria 100% dos testes positivos.
b) Incorreta. Na região Centro-Oeste do Brasil a prevalência é de 1% de uma população de 17 milhões, ou seja, 170 mil pessoas apresentam a deficiência em G6PD. Dos indivíduos afetados, os homens apresentam somente um alelo recessivo (XaY), mas as mulheres devem apresentar dois alelos recessivos XaXa para manifestarem a doença de herança autossômica recessiva. Ainda, é importante ressaltar que somente as mulheres portadoras do alelo (XAXa) poderiam ser assintomáticas, pois conseguiriam produzir a enzima G6PD com a partir do alelo funcional (XA) nas células nas quais não fossem inativados. 
c) Correta. Na região Norte do Brasil a prevalência é de 5% de uma população de 18 milhões, ou seja, 900 mil pessoas apresentam a deficiência em G6PD e poderiam desenvolver anemia hemolítica devido ao tratamento com cloroquina. As doenças de herança recessiva ligada ao sexo são mais frequentes em homens, já que apenas uma cópia do alelo mutante leva à manifestação da doença. Enquanto as mulheres precisam de duas cópias para manifestar a deficiência.
d) Incorreta. Os casais que não apresentam a deficiência possuem genótipos XAX_ e XAY, sendo que os homens não apresentam o alelo recessivo e as mulheres podem ou não serem portadoras de um alelo recessivo. Assim, só haverá descendente portador do alelo se a mãe também for portadora, algo que não poderia ser afirmado com os dados fornecidos. Contrariamente, os descendentes de casais que apresentam ao menos um dos genitores com deficiência possuem chances maiores de apresentam o alelo recessivo relacionado com a deficiência da enzima.
e) Incorreto. O alelo recessivo ligado ao X dos homens é recebido por herança materna, sendo que, o pai contribui com genes presentes no cromossomo Y. Assim, os pacientes do sexo masculino devem ser investigados quanto à presença de anemia hemolítica na família materna, caso vivam em regiões onde a malária é endêmica e nas quais há uso de cloroquina.