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Questão 24 Fuvest 2022 - 1ª fase

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Questão 24

Mensagem (Fernando Pessoa)

Nun´Álvares Pereira

 

Que auréola te cerca?

É a espada que, volteando,

Faz que o ar alto perca

Seu azul negro e brando.

 

Mas que espada é que, erguida,

Faz esse halo no céu?

É Excalibur, a ungida,

Que o Rei Artur te deu.

 

´Sperança consumada,

S. Portugal em ser,

Ergue a luz da tua espada

Para a estrada se ver!

Fernando Pessoa. In: “A Coroa”, Parte I, Mensagem.

A primeira parte de Mensagem, organizada como um correlativo poético do Brasão das Armas de Portugal, perfila uma série de figuras míticas e históricas que teriam sido responsáveis pela formação nacional portuguesa. A seleção de Nun´Álvares Pereira para ocupar o lugar da Coroa



a)

sugere, pela imagem do halo de luz, que a verdadeira nobreza é de espírito.

b)

destaca, através da referência ao mito arturiano, o seu sangue bretão.

c)

distingue, por meio do substantivo “´sperança”, um regente digno de seu posto.

d)

enaltece, pela repetição da palavra espada, a guerra como estrada para o futuro.

e)

indica, associada ao adjetivo “consumada”, uma visão desenganada da história.

Resolução

O poema celebra Nun’Álvares Pereira, conhecido também como o “Santo Condestável”, nobre português que viveu no século XV. Como um cavaleiro e general, liderou os portugueses na batalha de Aljubarrota, conquistando a independência de Portugal em relação a Castela e garantindo a coroação do rei D. João I. Em 1423, após a morte da esposa, entrou para a vida religiosa.

a) Correta. A imagem do halo de luz perpassa o poema e é referida já no primeiro verso através da menção à auréola que envolve a figura de Nun’Álvares Pereira. Essa auréola pode ser vista tanto como um símbolo de santidade (o guerreiro que se tornou monge) como também de heroísmo de combate, já que formada pela “espada volteando”. Desse modo, o poeta sugere que a nobreza alcançada por esse herói se deve a seus atos e grandeza de espírito. Tal nobreza é assinalada pelo halo de luz que distingue Nun’Álvares como um santo e um guerreiro, o que faz dele alguém superior aos homens comuns.

b) Incorreta. O mito arturiano é mencionado na segunda estrofe a partir da referência à Excalibur (a mítica espada que só poderia ser manejada pelo melhor dos cavaleiros) bem como ao rei Artur (lendário rei das narrativas cavaleirescas de origem bretã). Ao empregar tais referências, Pessoa não pretende sugerir que Nun’Álvares tenha sangue bretão, mas sim que ele se iguala em heroísmo e nobreza aos heróis da “Demanda do Santo Graal”, novela de cavalaria bastante popular em Portugal no século XV.

c) Incorreta. Devido aos feitos de Nun’Álvares Pereira, Pessoa o considera, de fato, como a “’sperança consumada” de Portugal, isto é, através dele se concretizou a existência de Portugal como país independente. Entretanto, a alternativa menciona apenas a palavra “esperança” sem acrescentar o adjetivo “consumada”, o que fragiliza a leitura proposta, visto que, sem esse complemento, a esperança é apenas uma vontade ou um desejo ainda não realizados.

d) Incorreta. No poema, Fernando Pessoa celebra o heroísmo e as virtudes de Nun’Álvares, e não propriamente a guerra em si. Nos versos “Ergue a luz da tua espada/ Para a estrada se ver!”, o poeta se dirige ao herói como um modelo ou inspiração que possa apontar um caminho para os portugueses em direção ao futuro. Assim, a espada é mais um símbolo que uma referência literal à guerra.

e) Incorreta. O final do poema aponta para uma perspectiva utópica de um futuro iluminado por um grande herói da história portuguesa. Os modelos do passado servirão de inspiração para que os portugueses do presente possam construir sua história rumo a um futuro grandioso. Tendo isso em vista, é incorreto considerar que Pessoa apresenta uma visão desenganada da história.