Devagar, devagarinho
Desacelerar é preciso. Acelerar não é preciso. Afobados e voltados para o próprio umbigo, operamos, automatizados, falas robóticas e silêncios glaciais. Ilustra bem esse estado de espírito a música Sinal fechado (1969), de Paulinho da Viola. Trata-se da história de dois sujeitos que se encontram inesperadamente em um sinal de trânsito. A conversa entre ambos, porém, se deu rápida e rasteira. Logo, os personagens se despedem, com a promessa de se verem em outra oportunidade. Percebe-se um registro de comunicação vazia e superficial, cuja tônica foi o contato ligeiro e superficial construído pelos interlocutores: "Olá, como vai? / Eu vou indo, e você, tudo bem? / Tudo bem, eu vou indo correndo, / pegar meu lugar no futuro. E você? / Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono / tranquilo, quem sabe? / Quanto tempo... / Pois é, quanto tempo... / Me perdoe a pressa / é a alma dos nossos negócios... / Oh! Não tem de quê. / Eu também só ando a cem".
O culto à velocidade, no contexto apresentado, se coloca como fruto de um imediatismo processual que celebra o alcance dos fins sem dimensionar a qualidade dos meios necessários para atingir determinado propósito. Tal conjuntura favorece a lei do menor esforço – a comodidade – e prejudica a lei do maior esforço – a dignidade.
Como modelo alternativo à cultura fast, temos o movimento slow life, cujo propósito, resumidamente, é conscientizar as pessoas de que a pressa é inimiga da perfeição e do prazer, buscando assim reeducar seus sentidos para desfrutar melhor os sabores da vida .
SILVA, M. F. L. Boletim UFMG. n. 1 749, set. 2011 (adaptado).
Nesse artigo de opinião, a apresentação da letra da canção Sinal fechado é uma estratégia argumentativa que visa sensibilizar o leitor porque
a) |
adverte sobre os riscos que o ritmo acelerado da vida oferece. |
b) |
exemplifica o fato criticado no texto com uma situação concreta. |
c) |
contrapõe situações de aceleração e de serenidade na vida das pessoas. |
d) |
questiona o clichê sobre a rapidez e a aceleração da vida moderna. |
e) |
apresenta soluções para a cultura da correria que as pessoas vivenciam hoje. |
a) Incorreta. A letra da canção, segundo o texto, é utilizada para “ilustrar”, ou seja, retratar a crítica em relação ao comportamento automatizado das pessoas.
b) Correta. O autor do texto esclarece que a canção é utilizada para demonstrar a situação a que se refere a crítica. Assim, a sensibilização acontece porque o exemplo permite a visualização e o reconhecimento do fato criticado.
c) Incorreta. A letra da canção não apresenta uma situação de serenidade, apenas aceleração (com o diálogo superficial entre as personagens).
d) Incorreta. A rapidez da vida moderna não é definida como clichê no texto. Além disso, a análise sobre tal aceleração não é expressa na letra da canção, mas pelo autor da crítica, que utiliza a canção para exemplificar a situação mencionada.
e) Incorreta. As soluções são apresentadas pelo autor do texto, e não pela letra da canção, que apenas retrata um problema recorrente atualmente.