Quando Getúlio Vargas se suicidou, em agosto de 1954, o país parecia à beira do caos. Acuado por uma grave crise política, o velho líder preferiu uma bala no peito à humilhação de aceitar uma nova deposição, como a que sofrera em outubro de 1945. Entretanto, ao contrário do que imaginavam os inimigos, ao ruído do estampido não se seguiu o silêncio que cerca a derrota.
REIS FILHO. D. A. O Estado à sombra de Vargas.
Revista Nossa História. n 7. maio 2004.
O evento analisado no texto teve como repercussão imediata na política nacional a
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reação popular. |
b) |
intervenção militar. |
c) |
abertura democrática. |
d) |
campanha anticomunista. |
e) |
radicalização oposicionista. |
a) Correta. Conhecido como segundo Governo Vargas, o período entre 1951 e 1954 foi caracterizado pela firme oposição política exercida pela UDN e setores da imprensa, pela aceleração da inflação e pelo aumento do número de greves e das manifestações públicas dos trabalhadores, contrariados com a corrosão de seu poder aquisitivo. Nesse turbulento contexto, o governo buscou implementar uma política econômica de caráter nacionalista e construir sua governabilidade através do diálogo com o PSD e o PTB no Congresso. No intuito de reestabelecer o apoio dos trabalhadores urbanos ao governo, Vargas indicou João Goulart como Ministro do Trabalho em 1953, figura pública bastante ligada aos interesses dos sindicatos da época. Contudo, tal indicação gerou forte crítica da oposição udenista, que acusava Vargas de intuir a criação de uma "república de sindicalistas", manipulando os trabalhadores contra os interesses democráticos nacionais. Tal agitação política foi agravada com o chamado Crime da Rua Tonelero, no qual o político oposicionista Carlos Lacerda sofreu um atentado contra sua vida em agosto de 1954, acusando diretamente a Presidência da República pela ação. As investigações foram realizadas de forma paralela pelos militares, que apontaram como mandante do crime Gregório Fortunato, chefe da guarda presidencial, numa revelação que teve ampla repercussão na opinião pública nacional. Diante da forte agitação política e da revelação das investigações em andamento, o alto escalão do Exército solicitou a renúncia do incondicional do presidente, que reiterou sua negativa para a exigência. Nesse contexto, na manhã do dia 24 de Agosto de 1954, o então presidente cometeu suicídio em seu quarto no Palácio do Catete, num ato dramático que gerou enorme comoção e simpatia nacional a Vargas. Um nítido reflexo desse apoio foi seu velório, acompanhado intensamente pelos noticiários nacionais como pela uma enorme massa de simpatizantes. Portanto, seu suicídio promoveu um capital político fundamental para a base getulista na política nacional, especialmente nas eleições de 1955, que terminaram com a vitória de um candidato diretamente ligado a Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, a despeito dos anos de crise política e inflacionária que marcaram o Segundo Governo Vargas.
b) Incorreta. O suicídio de Vargas serviu para impedir uma nova deposição da Presidência da República efetuada pelos militares, ao contrário do afirmado na alternativa. Embora politicamente agitada, a transição de seu governo não foi marcada pela imediata intervenção militar, diferentemente do ocorrido na transição do Estado Novo, em 1945.
c) Incorreta. Desde o fim do Estado Novo, considera-se que o Brasil já experimentava um período considerado democrático em suas instituições políticas. Ademais, o suicídio de Vargas não provocou alterações consideráveis nas estruturas institucionais do poder, que preservou os fundamentos estabelecidos pela Constituição de 1946.
d) Incorreta. O suicídio de Getúlio Vargas não ocasionou uma campanha anticomunista, já que seu suicídio não foi vinculado em nenhuma circunstância a ações de grupos dessa vertente política.
e) Incorreta. A ação dramática tomada por Getúlio Vargas não foi particularmente responsável por uma radicalização oposicionista, tendo em vista a enorme comoção pública e o grande contigente de simpatizantes que acompanharam o velório do ex-presidente.