Desde 2009, a área portuária carioca vem sofrendo grandes transformações realizadas no escopo da operação urbana consorciada conhecida como Porto Maravilha. Parte importante na tentativa de tornar o Rio de Janeiro um polo de serviços internacional, a "revitalização" urbana deveria deixar para trás uma paisagem geográfica que ainda recordava a cidade do início do século passado para abrir espaço, em seu lugar, à instalação de modernas torres comerciais, espaços de consumo e lazer inéditos e cerca de cem mil novos moradores, uma nova configuração socioespacial capaz de alçar a área portuária do Rio de Janeiro ao patamar dos waterfronts de Baltimore, Barcelona e Buenos Aires.
(LACERDA, L.; WERNECK, M.; RIBEIRO, B. Cortiços de hoje na cidade do amanhã. E-metropolls, n. 30, set. 2017)
As intervenções urbanas descritas derivam de um processo socioespacial que busca a
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intensificação da participação na competitividade global. |
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contenção da especulação no mercado imobiliário. |
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democratização da habitação popular. |
d) |
valorização das funções tradicionais. |
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priorização da gestão participativa. |
O Porto Maravilha consiste em uma operação público-privada que modernizou e revitalizou parte do litoral do Rio de Janeiro ao longo da década de 2010, com gastos estimados em torno de 8 bilhões de reais. Segundo informações da Prefeitura do Rio de Janeiro1, "No centro da reurbanização está a melhoria das condições habitacionais e a atração de novos moradores para a área de 5 milhões de metros quadrados. A chegada de grandes empresas, os novos incentivos fiscais e a prestação de serviços públicos de qualidade estimulam o crescimento da população e da economia". Tais obras modificaram não somente a infraestrutura, mas também as dinâmicas sociais, afastando populações de baixa renda e atraindo empresas e classes de maior renda para essa área.
Considerando isso, afirma-se que:
a) Correta. A criação de "uma nova configuração socioespacial capaz de alçar a área portuária do Rio de Janeiro ao patamar dos waterfronts de Baltimore, Barcelona e Buenos Aires" denota uma inserção competitiva do espaço urbano carioca na globalização vigente por meio de uma área portuária modernizada, tornando essa alternativa correta. Tal processo é acompanhado daquilo que se denomina como gentrificação, ou seja, transformações na forma, usos e significados de zonas antigas e/ou populares das cidades - deslocando as populações mais pobres para áreas mais distantes - a fim de modernizá-las para atrair moradores de rendas mais elevadas e empresas visando desenvolvimento econômico da cidade.
b) Incorreta. As ações descritas no texto favorecem a especulação do mercado imobiliário, que consiste no investimento por parte de agentes privados em espaços urbanos, visando sua futura valorização. Assim, a "instalação de modernas torres comerciais, espaços de consumo e lazer inéditos" colaboram para o aumento dos preços na região, favorecendo a referida especulação.
c) Incorreta. A habitação popular pressupõe uma moradia digna e com condições de acesso para populações de baixa renda, algo que não acontece no caso das transformações apresentadas no texto, pois a revitalização mencionada encarece o custo de vida, bem como os terrenos, apartamentos e casas dos arredores do Porto Maravilha, dificultando a permanência de moradores pobres na região.
d) Incorreta. Como o próprio texto diz, "a revitalização urbana deveria deixar para trás uma paisagem geográfica que ainda recordava a cidade do início do século passado" e, portanto, não mantém funções tradicionais.
e) Incorreta. A lógica apresentada não pressupõe gestão participativa, pois expressa interesses de agentes públicos (prefeitura municipal) e privados (construtoras, imobiliárias e setor comercial) e não da sociedade civil carioca como um todo.
1 - Informações da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), disponibilizadas pela prefeitura carioca em: https://portomaravilha.com.br/portomaravilha